Aumento do custo de vida obriga os pais a encontrar estratégias para suportar os preços dos livros e do material escolar

À semelhança de muitos pais, Andreia Sousa está neste momento a preparar o ingresso da filha, Rita Sousa, no 1.º ano do 1.º ciclo do Ensino Básico, onde serão enfrentadas “várias mudanças” que podem ser um “choque para a criança”, mesmo com a rápida capacidade de adaptação. Enquanto aguarda pela reunião com a professora da filha para saber qual o material extra que será necessário, Andreia Sousa adianta que comprou já algum material escolar básico, incluindo também a mochila, o estojo e os livros de fichas, o que até ao momento significou um investimento de 70 euros feito por esta família.
Ainda assim, esta mãe explica que as despesas com o material escolar da filha não afectaram o seu orçamento porque decidiu gerir o tempo até ao início do ano lectivo a seu favor: “Fui comprando o material aos poucos. Os manuais escolares comprei logo no início de Julho, e a mochila e o estojo comprei em Agosto, à medida que fui podendo”. O que falta, “que é pouco”, irá comprar no início das aulas, depois das indicações dos professores, de forma a evitar gastos desnecessários.
Andreia Sousa refere que este é um mundo no qual existem preços e produtos para todos os gostos, com muita escolha, salientando, por isso, que para poupar algum dinheiro, a estratégia poderá passar pela escolha de material mais básico, que permitem adquirir artigos bastante em conta, conforme o orçamento de cada um.
Embora as crianças se sintam naturalmente atraídas por determinadas peças de material escolar, esta mãe conta que optou por não dar poder de escolha a Rita, optando assim por escolher os artigos que vão ao encontro do gosto da filha e ao encontro do orçamento familiar, graças às promoções disponíveis também online.
“A mochila e o estojo escolhi eu, tive em conta o que achei que ela ia gostar, mas tendo em conta a qualidade/preço dos mesmos. O restante material optei por artigos mais básicos pois, a meu ver, fazem exactamente o mesmo efeito que os mais caros. A mochila e o estojo comprei online, estavam a um excelente preço e o estojo ainda trazia todo o material mais necessário (trouxe lápis de cor, marcadores, borracha, lápis, canetas, apara-lápis e tesoura), o restante material comprei no supermercado e na loja dos chineses que, hoje em dia, já vendem bastante material escolar com preços em conta”, explica.
Em suma, tendo em consideração as estratégias que encontrou para que o início das aulas da filha tivesse o menor impacto possível no orçamento familiar, Andreia Sousa adianta que esta é uma despesa que, até ao momento, “ainda é suportável”, porque no primeiro ano o material escolar bem como os manuais escolares são ainda “relativamente em conta”, embora reconheça que, para muitas famílias, principalmente aquelas com mais filhos, este seja “um mês bastante complicado”.
À semelhança de Andreia Sousa, também Paula Figueiredo, mãe de um menino de 14 anos de idade que vai agora entrar no 9.º ano de escolaridade, considera que comprar material escolar de forma faseada é uma estratégia importante para que melhor se possa gerir o orçamento nesta fase do ano.
Embora tenha notado um ligeiro aumento no preço do material escolar quando em comparação com o ano passado, tendo já comprado o material escolar necessário para o filho este ano nas grandes superfícies devido aos descontos que podem estar em vigor, Paula Figueiredo refere que esta oscilação não interferiu com as suas escolhas precisamente devido a esta gestão que vai fazendo.
“É verdade que existe mais exigência com certos materiais no 3.º ciclo, mas esse é material que vou comprando a mais, e assim aproveitamos muito porque ele ainda tem muita coisa do ano passado, tal como papel cavalinho. Conforme ele vai precisando, vou comprando, quando vejo que está em promoção eu compro, não espero que seja mesmo época escolar”.
Já em relação às escolhas pelo material escolar, esta mãe adianta que procura chegar a um consenso com o filho, deixando-o escolher algum material escolar ao seu gosto, mas optando por outros artigos mais básicos para que haja “equilíbrio” nas despesas familiares, divididas de igual forma entre os pais.

“Quando se recebe o ordenado mínimo 
é preciso puxar e esticar”

Por outro lado, Nair Oliveira, mãe de uma menina que vai entrar agora no primeiro ciclo de escolaridade, refere que ainda não comprou nenhum tipo de material escolar, uma vez que se encontra a aguardar pela reunião com a professora que lhe irá permitir perceber ao certo o que é pedido. 
Juntando ao aumento do custo de vida sentido pela população, esta mãe salienta que estas serão despesas que irão, “claro, ter um peso no nosso orçamento familiar, porque é preciso puxar e esticar quando se recebe o ordenado mínimo, com mais isto tudo vai ser complicado”.
Também com a opinião de que hoje se vivem tempos difíceis e nos quais é necessário “apertar o cinto”, Stephanie  Ambrósio prepara-se para ver entrar o filho, Pedro Soares, no primeiro ano de escolaridade, algo a que assiste com um misto de sentimentos que variam entre “medo, orgulho e motivação” por ver o quão rápido cresceu o filho.
Apesar de ainda não ter comprado todo o material necessário para esta nova etapa na vida do filho, feitas as contas, esta mãe acredita que irá gastar entre 60 a 70 euros com o material escolar básico e necessário, ressalvando que, tendo em conta a grande variedade de marcas no mercado, cabe aos pais e encarregados de educação “saber procurar” e escolher produtos cuja relação entre o preço e qualidade seja positiva. Por outro lado, caberá às crianças “estimar as coisas para que estas durem”, independentemente do seu preço.
Em relação às escolhas que fará, estas serão sempre feitas dentro das suas possibilidades devido ao facto de se viverem dias em que “não se pode dar um passo mais largo que a perna”, deixando, por isso, os mimos para o tempo passado a dois, “com beijos, abraços e muito amor”, em detrimento dos bens materiais. 
Escolheu uma superfície comercial mais pequena e acessível para comprar o material entretanto já adquirido, mas adianta que a mochila, pelo peso que irá carregar, será “um investimento maior” que está disposta a fazer nas grandes superfícies, pois embora todas as despesas “extra sejam sempre muito complicadas de inserir no orçamento mensal, os estudos serão uma prioridade, ao lado da saúde e da alimentação”, diz Stephanie Ambrósio, relembrando que a escola não se trata apenas de material escolar, mas também de vestuário e calçado, que representa também um investimento para muitas famílias nesta altura do ano.

Encarregados de educação procuram material escolar em diversas superfícies com orçamentos para todos os gostos

Seguindo a tendência global, também nas lojas Hiper China, conforme explica Susete Pavão, assistiu-se a um aumento no preço de vários artigos relacionados com o regresso às aulas, como é o caso da resma de papel, que no espaço de meses subiu de 5,95 euros para 8,50 euros, dos cadernos, dos lápis de cor e das mochilas, com algumas unidades a ultrapassar a margem dos 50 euros. Porém, outros materiais básicos, como as esferográficas, não reflectem nenhuma subida de preço e há, até, calculadoras científicas que podem ser compradas por 4,95 euros.
Feitas as contas, esta funcionária adianta que um cabaz escolar básico, incluindo uma mochila de relativa qualidade, pode rondar os 60 euros, “tirando as exigências dos professores feitas ao longo do ano”, e rondar os 40 euros sem a compra da mochila. Porém, para alunos do segundo ou terceiro ciclos, dadas as especificidades dos materiais escolhidos, estas compras ficariam “à volta dos 80 ou 90 euros”.
Nas lojas Hiper China, conta, “a nossa intenção é sempre ter os produtos mais baratos, porque quanto mais caro se comprar, mais caro se vai vender e pode não ter saída, e nesta altura, com o gasto de dinheiro em livros, que é uma fortuna, as pessoas vão optar pelo mais barato e não se importam de correr 20 lojas até encontrar a mais barata. Por isso, a nossa ideia é manter os preços baixos e poder escolher a variedade que procuram mas sempre ao mais barato, para poder ter saída”, explica a funcionária.
De um modo geral, embora não se sinta ainda o verdadeiro impacto desta procura para o próximo ano lectivo, Susete Pavão adianta que as pessoas procuram esta “loja chinesa” para comprar muitas coisas, o que motiva também um maior número de encomendas para vir a satisfazer os pedidos que têm vindo a ser feitos no que ao material escolar diz respeito, nomeadamente blocos de desenho, cadernos de música, separadores, capas para os cartões de identificação dos alunos e as respectivas fitas, mais cadernos e agendas, blocos de notas e papéis com adesivo”.

Plano A abastecida de “clientes fiéis” 
e de “produtos diferenciados”

Apesar do problema da escassez de papel que tem vindo a afectar várias indústrias e áreas, fazendo com que se assista a um aumento no preço de tudo o que inclui esta matéria-prima, Andreia Henrique, responsável pelo abastecimento das lojas da Plano A, assegura que todas as lojas da empresa se encontram devidamente abastecidas para fazer face à procura por novo material escolar para o próximo ano lectivo.
Embora muitos encarregados de educação prefiram esperar pelas listas de material escolar exigido, para terem a certeza de que o dinheiro empregue não seja gasto em vão – a verdade é que são já muitos aqueles que visitam a papelaria à procura de material variado e “premium”, isto é, diferenciado e de boa qualidade.
“Nos primeiros anos de cada ciclo os pais gostam de mimar os seus meninos com uma mochila ou com um estojo, com algo diferente para marcar esta etapa das vidas dos seus filhos, e quando toca às crianças ou aos nossos filhos temos sempre um pezinho de meia guardado. Às vezes pode faltar muita coisa mas há sempre uma oportunidade e nós vemos aqui o esforço e a vontade de agradar os filhos, daí que não temos sentido se há uma quebra, pelo contrário, há procura por material premium, como mochilas boas e cadernos da moda”, diz a representante da papelaria.
De qualquer das formas, conta que às lojas chegam pessoas com orçamentos para todos os gostos, onde um cabaz escolar básico para o primeiro ciclo, feitas as contas, incluindo recargas de folhas, mochila e estojo, chegará aos 37,26 euros. Com o acréscimo da calculadora científica, requerida a partir de um certo nível de ensino, este valor chega aos 52 euros, valor que, ainda assim, é considerado aceitável.
Em suma, embora os preços de alguns artigos tenham aumentado, Andreia Henrique sente que “as pessoas não deixam de querer mimar os seus filhos”, sentindo ainda que “as pessoas gostam de levar artigos que saibam que são para ficar, ou seja, quando investem numa caixa de lápis de cor, por exemplo, gostam de ficar com lápis que pintam mesmo”, contando assim com os seus múltiplos “clientes fiéis” e com o seu “elemento diferenciador” para se distinguir de outras superfícies comerciais concorrentes.
Tal como acontece nas grandes superfícies ou nas lojas mais especializadas, há também pais que procuram lojas mais acessíveis para adquirirem este material escolar, porém, este nem sempre é ali encontrado, uma vez que existem apenas produtos muito básicos, como lápis de cera, pontas de feltro ou recargas de papel.                                      

 Joana Medeiros
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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