Gerações: Com as vantagens e desvantagens na perspectiva de Leonor Anahory

‘A Internet tornou-se a maior ferramenta de integração social, económica e jurídica da era moderna’

Correio dos Açores:  O século XXI trouxe um novo olhar sobre como o individuo se posiciona na sociedade, uma nova visão sobre o conceito de família e uma relação deferente de como o ser humano cuida do corpo.  
Como parte da geração que viveu boa parte do século passado, que diferenças encontra na forma como as pessoas se vestem e nos cuidados que têm com o visual?
Leonor Anahory: - Hoje, o indivíduo socialmente apresenta forte preocupação com a sua aparência na forma de vestir ainda que neste sentido tenha um grande leque de opções, e no que toca aos cuidados Visuais desde o envolver do penteado à maquiagem, até à tatuagem, incluindo o comportamento ao nível da postura retratando assim a sua imagem que em grande parte diz da sua personalidade. Esta imagem, esta aparência, é “Comunicação” , que vale tanto quanto a verbal, que pode transmitir confiança, proactividade ou não. Hoje, o indivíduo expõe - se mais fortemente a uma série de combinações que exigem habilidades que expressam a forma como somos vistos e vemos, exercendo formas de controlo sobre as nossas práticas sociais.
Há uma nova consciência do impacto da imagem na sociedade.

 Para muitos viver em ilhas é sinónimo de qualidade de vida mas há necessidade de sair e abrir novos horizontes. Olhando para trás, em comparação com os dias de hoje, como vê a possibilidade que os açorianos têm de viajar para além do arquipélago e que melhorias encontra na promoção das viagens cá dentro?
A sua pergunta, densa pela complexidade dos mais diferentes contextos que está questão envolve, condicionados, nós açorianos pela nossa estrutura sócio- económica insular.
Viver nestas, Ilhas em que o mar se confunde com a terra, que nos une, expresso do mais íntimo do meu ser, um privilégio aliado à dádiva da Vida.
No entanto, sair das Ilhas é tão necessário como fundamental a darmos asas aos nossos sonhos. E “o sonho comanda a vida”... já o dizia Manuel Freire na canção Pedra Filosofal...
Os açorianos têm como grande exemplo da fuga à sua terra, às suas raízes, pela imigração, que foi imensa, muitas e muitas vezes em condições desumanas e ilegais em busca de melhores meios de subsistência por fatores determinantes pelo atraso e pobreza duma insularidade limitada e quantas vezes mais  marcados pelas catástrofes naturais.

O nosso maior destino então, foram as Américas impelidos pelo espírito sonhador...
Dos Açores viajava-se muito pouco para a Europa, incluindo Portugal Continental. Foram os jovens, no tempo, em quantidade reduzida a saírem para ingressar no Ensino Superior utilizando em grande escala o barco, meio de transporte acessível e como resposta mais usual. Não tínhamos aeroporto no seu verdadeiro sentido, tal como os transatlânticos ficavam fora do Porto de Ponta Delgada, tínhamos de tomar a lancha até eles.
Com a Sata pequena que ligava a Companhias de aviação tais como a TWA, Pan American e outras que operavam em Santa Maria assim se viajava mais longe e rápido. A partir dos anos 70, com o aeroporto em Ponta Delgada aos dias de hoje, os voos eram feitos com  a companhia TAP já diretos de P. Delgada /Lisboa e vice versa, e só mais tarde, a  Companhia Sata surge e, tal como como vamos assistindo a este espaço aéreo, a mobilidade alterou se a um fluxo de passageiros nunca até antes visto.
De relevar, o sucesso da Tarifa Açores 60 euros que a partir de 1 de Junho 2021 veio beneficiar os açorianos e a acorianidade.

 As famílias hoje têm dimensões diferentes. Em seu entender, o que difere?
A família de hoje reduziu-se significativamente. As famílias numerosas decresceram. No entanto, os números das famílias aumentaram, enquanto a dimensão média tem vindo a diminuir com casais sem filhos, núcleos familiares monoparentais e um aumento das pessoas que vivem sós (de acordo com os censos 2011)

Testemunham a diversidade e mudança.
O único modelo de família em Portugal, o tradicional deixou de existir, melhor dizendo deixou de ser o dominante. Observamos muitos mais casais sem filhos ou com filhos únicos. Outra situação é o de um bom número volumoso de crianças tornam-se meios irmãos de alguém.
Ainda a acrescentar a diversidade referida com o casamento de pessoas do mesmo sexo e, que até podem adoptar crianças e jovens desde 2016.

O facto de haver hoje muitas actividades e uma panóplia de interesses, acha que a relação entre pais e filhos se alterou? Há mais proximidade, ou não?
Perante a questão colocada, independentemente de haver mais ou menos oferta de actividades e o despertar para novos e diferentes interesses, o bom relacionamento entre pais e filhos passa essencialmente pelo diálogo, pela qualidade da comunicação, mesmo quando a criança é muito pequena.
Os momentos de diálogo são fundamentais para entenderem como os pais se importam com eles... são oportunidades de momentos de interação e de compartilhar sentimentos e estes aprenderem a compreender situações de tristeza, ajuda, isto é, a compreender e a gerir as próprias emoções.
Se as actividades promovem o envolvimento familiar e se as mesmas possuem carácter educacional, a relação sairá reforçada na proximidade pelos laços afectivos criados.
Há a salientar que o bom relacionamento é fundamental para a criança crescer com segurança, confiança e autonomia e a partir destas interacções vai aprender a ter respeito pelo Outro. Estas interacções de qualidade cuidada, exigindo-se equilíbrio entre a amizade o amor mas a par do respeito e autoridade, vai influenciar directamente os valores das próximas gerações. São estes os princípios que orientam o sucesso na proximidade. Hoje, os agentes educativos têm mais informação e conhecimento de como agir neste mundo mais ativo.

E na relação com os amigos, o que destaca?
A refletir sobre a essência do que é amizade e considerando que esta é um vínculo afectivo altruísta entre pessoas criado ou percebido por experiências. O que da minha vivência destaco para além da confiança, respeito, lealdade e generosidade, é ver que o amigo ou a amiga na relação se comporte como a si mesmo.
Na amizade, aí, destaco a diferença para o Bem.

A internet é um dado de utilização em massa deste século. Acha que as tecnologias nos afastam das pessoas ou consegue aproximar-nos? Quais as vantagens e desvantagens.
A Internet, sem dúvida uma das maiores invenções do séc. XX, tornou-se a maior ferramenta de integração social, económica e jurídica da era moderna. É evidente que a dependência exagerada desta tem as suas consequências. Ela veio para ficar e a ser bem utilizada traz muitos mais benefícios do que malefícios. Estamos perante uma nova forma de comunicação, a digital... conseguindo aproximar as pessoas do contacto social. Através da Internet temos a comunicação entre as pessoas a quilómetros de distância e de forma instantânea.... e, nós estamos cada vez mais dependentes dessa rede de comunicação que nos traz inúmeras vantagens com infinitas possibilidades. Há a registar que esta “Comunicação” será o mundo de todos.
A humanidade por isso não deixará de ser mais fraterna e mais humana nem as famílias mais nem menos felizes. Nada mudou na necessidade do contacto com o outro, vamos continuar. O estado da pandemia covid19 foi e é um testemunho do contacto presencial.

Também a alimentação tem acompanhado os tempos. Em que medida o excesso de informação e oferta diversificada, em muitos casos processada, faz com que acabemos por não ter os melhores hábitos?
Vivemos bombardeados por e sempre novas informações, uma vai anulando a outra. Nunca tivemos acesso a uma quantidade tão grande de informações como agora. Espalham-se nas redes sociais, jornais, revistas sites programas de rádio
Acabamos por ter uma intoxicação informativa o que resulta pressão sobre os consumidores fazerem as escolhas que se pretendem ser as saudáveis.
Importa a divulgação por fontes de informação credível, promovendo o conhecimento sobre os hábitos alimentares importantes para a saúde e bem-estar.

Acha que o trabalho influencia as tendências alimentares?
Nos últimos tempos as pessoas ganharam consciência dos cuidados que devem ter com a sua saúde mental e emocional. E, criou-se uma forte ligação entre os alimentos e o bem-estar mental em que mais produtos a conterem nutrientes comprovam suportar melhores funções cognitivas e psicológicas argumentando uma influência directa na ingestão dos alimentos a conterem elevado nutrientes benéficos em comparação com as calorias. Assim, temos tendência a alinhar o nosso comportamento alimentar de acordo com as pressões quer sejam sociais ou culturais.
Mais uma vez, o que precisamos é o de ter conhecimento que determinados hábitos alimentares pouco saudáveis são fatores de risco para o desenvolvimento de doenças graves. Ainda que a pressão do trabalho/tempo obrigue à alimentação fast food não devemos embarcar nesta comodidade. Há que inverter sim, investir na alimentação saudável com vista à melhor produtividade do trabalho.
A Escola e a sociedade, em geral, terão de ser os principais agentes de mudança.

 E na relação com a família e com os amigos favorece ou não as relações quando compararmos com o passado?
Quando se analisa a actualidade as transformações ocorreram principalmente na rotina das famílias devido ao trabalho da mulher fora do lar, obrigando por bem a maior partilha e proximidade do homem no lar.
Os pais antes autoritários e distantes e as mães rígidas no cuidado da Casa e dos filhos deram lugar a pais e a mães que priorizaram proximidade com os filhos, preservando e valorizando enquanto pessoas. A qualidade em lugar da quantidade.
E, é sempre o diálogo, a comunicação como palavras chaves a marcar a minha mensagem que pretendo passar através desta sua entrevista.
 “Encurtar a distância entre o mundo dos adultos e das crianças... ou melhor, simplesmente entre pessoas, assenta na Comunicação no sucesso das relações humanas.
Temos um mundo mudado, não só como consequência através das formas de trabalho, mas também pelo forte impacto das novas tecnologias.

Nélia Câmara *

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Autor: CA

Categorias: Regional

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