Começando pela situação social, a freguesia de Ponta Garça sente os mesmos problemas do que a grande maioria das suas congéneres na ilha de São Miguel?
A freguesia de Ponta Garça não foge à regra e tem os problemas sociais que todas as outras têm e, nessa linha, sentimos alguns problemas relacionados com a toxicodependência, felizmente não tanto como noutras freguesias e alguns desses casos estão controlados. Houve uma altura em que o crescimento era avassalador e preocupante, mas agora temos casos pontuais que estão a ser tratados e acompanhados pela ARRISCA. Esperemos que assim continue e que os casos não aumentem. O centro de Vila Franca já tem outras preocupações e agravantes que esperemos não virem a condicionar as restantes freguesias do concelho.
As drogas sintéticas já chegaram à freguesia?
Ninguém está alheio a esse flagelo da sociedade, agora já se sabe que quando o centro é mais populoso e onde essa venda é mais facilitada, torna-se mais complicado. Na nossa freguesia, que ainda é rural, obviamente que isso chega, mas não com a mesma dimensão e, em comparação com a Junta de Freguesia de São Miguel (Vila Franca do Campo) com que falei há pouco tempo, não existe a mesma gravidade e até já foi pedido ao Presidente da Câmara que delineasse um plano ou um programa para a sua contenção.
Portanto, a situação encontra-se relativamente controlada em Ponta Garça?
Sim. Houve uma altura no anterior mandato em que estava muito pior e agora a situação, apesar de termos de ser cautelosos, encontra-se, felizmente, minimamente controlada.
A agro-pecuária continua a ser o principal sector de actividade?
É uma freguesia onde a actividade predominante ainda é a pecuária, um sector que, felizmente, se encontra em expansão. Houve uma época em que esse tecido estava muito envelhecido e em que a transmissão de pais para filhos era rara, mas depois, com os novos programas e novos apoios já existe muita nova exploração, muitos jovens agricultores e jovens empresários. Também temos a construção civil que está a ganhar um novo fôlego no pós-pandemia, temos o turismo e o alojamento local que, apesar de eu pensar que não o pudesse vir a ser, é já uma realidade na freguesia.
Sente-se falta de emprego na freguesia?
Nesse ponto já não posso ser tão optimista porque não há investimento no concelho. É algo que se sente e o concelho está um pouco estagnado a nível de captação de investimentos e obviamente que as freguesias também sofrem com isso. Não havendo investimento, ofertas ou novas construções na vertente empresarial, não há criação de novos postos de trabalho. Isso faz com que muitos jovens deixem a freguesia para irem para Ponta Delgada e existe muita emigração para a Bermuda. É algo que já no anterior mandato tinha sentido e chamado a atenção da Câmara Municipal e da Presidência do Governo que os jovens estavam a emigrar porque não havia emprego nem habitação, que é também outro problema na freguesia. O mercado da Bermuda é muito aliciante e é onde temos a maior parte dos nossos jovens actualmente.
Houve um aumento de emigração devido à pandemia?
Durante e pós-pandemia. Pensava que no pós-pandemia não se notasse muito, mas, enquanto Presidente da Junta, assino muitos dos atestados de bom comportamento e de boas referências e constatou-se uma grande procura, logo ao seguir ao Natal, por esse tipo de documento. Não lhe posso precisar números concretos e ainda há poucos dias perguntei a um representante da Bermuda, que por acaso é um pontagarcense, esses dados e ele ficou de os facultar. Já há uma comunidade razoável na Bermuda e queríamos também juntá-los e criar uma dinâmica aqui com a freguesia.
Essa emigração preocupa-o?
Muito, porque são essencialmente jovens. Eles partem com a promessa de irem por uma temporada, mas depois há muitos que já não voltam. Preocupa-me porque a freguesia está envelhecida e os jovens estão a desparecer.
Já referiu que a habitação é outro dos problemas de Ponta Garça. Há muitas habitações degradadas? Sente-se a falta de novas habitações?
Um pouco de tudo. Como somos uma freguesia rural temos muita habitação degradada, mas felizmente já existem novos programas da Direcção Regional de Habitação para os jovens adquirirem, fazerem obras e recuperarem, mas ainda não é suficiente porque a grande maioria das pessoas que têm essas habitações não se querem desfazer delas. Agora, com a especulação imobiliária ainda se tornou pior porque uma casa vale uma pequena fortuna e as pessoas querem vender a um preço exorbitante. A solução será a habitação social, a Câmara está a trabalhar nisso e já há uma verba para essas construções, mas continuo a dizer que isso não será suficiente. Uma das coisas que mais me perguntam, enquanto Presidente de Junta, é se tenho conhecimento de alguma casa para arrendamento ou para venda, mas a verdade é que não há e as poucas que existiam foram transformadas em Alojamento Local. Veio ajudar o turismo, mas veio prejudicar os jovens que querem adquirir uma casa para habitar.
Essa construção de habitação social já tem alguma data concreta para avançar?
Está ainda numa fase embrionária, mas eles (Câmara Municipal de Vila Franca do Campo) já têm uma verba razoável e fui informado disso na última Assembleia Municipal. Ainda não há nada em concreto porque o projecto está a ser desenvolvido, mas espero que seja para as várias freguesias. O Presidente da autarquia estará presente nas comemorações do dia da freguesia (hoje) e um dos aspectos focados no meu discurso será a premência de habitação para fixar os jovens e a captação de investimento para que eles tenham emprego, porque ainda somos, não sei por quanto mais tempo, a maior freguesia do concelho, apesar de temos uma população muito envelhecida. Chegamos a ter 6.000 habitantes, de momento estaremos à beira dos 4.000 e a decair drasticamente todos os anos. Não temos nada para fixar as pessoas e não temos parques infantis ou habitação. É algo que é sempre prometido e tínhamos até um concurso para a construção do parque infantil no âmbito dos fundos comunitários que depois foi mandado retirar e andamos aqui neste impasse. As pessoas estão revoltadas e descontentes. Focando-me no envelhecimento, a freguesia tem reclamado um Centro de Dia porque o Governo Regional, quando construiu o Centro Intergeracional, concluiu a vertente das crianças quando agora até já não há muitas, mas a parte mais necessária para a população envelhecida, está parada há mais de 10 anos.
Que resposta lhe foi transmitida sobre essa questão?
O que nos foi dito pelo Governo é que a prioridade passa agora pela construção dos lares de idosos nas proximidades, mas não pode ser tudo centralizado porque as freguesias também precisam e Ponta Garça foi durante muitos anos esquecida. Sei que todos os presidentes devem dizer isso, mas se observarmos aos investimentos realizados nos últimos anos, foi tudo muito tardio e quando ocorreram quase que já não se justificavam. Foram anos a reivindicar a escola porque a maior parte dos alunos em Vila Franca eram de Ponta Garça e agora a escola quase que não se justifica e o mesmo se passa com o ATL porque muitos dos pais saíram da freguesia porque não tinham onde deixar os filhos. Construiu-se agora a creche, que é uma mais-valia, mas já não há jovens e agora que precisamos mesmo de resposta para os idosos, a obra não tem fim à vista. Já fui contactado devido ao Orçamento da Região para o próximo ano e, para além do centro de dia, apresentei igualmente a variante a Ponta Garça. É também algo premente porque a freguesia tem ruas muito estreitas e exíguas e é algo igualmente prometido há muitos anos e que daria um outro desafogo ao trânsito. Quanto ao centro intergeracional, pedimos apenas a sua conclusão.
Falando de turismo, o trilho da Praia da Amora já se encontra encerrado há muito tempo…
Pois, e há dias houve um pequeno acidente com um turista que, não menosprezando o acidente, pode acontecer a qualquer pessoa e em qualquer praia. A nossa Praia da Amora tem muita pedra e o acidente não foi a turista ter caído de uma ravina, foi mesmo nas pedras da própria praia, algo que pode acontecer a qualquer pessoa. Depois disso, foram colocadas placas de aviso para não se aceder à praia. É algo estranho, estamos contra isso e já pedimos uma reunião com todos; Turismo, Ambiente e Câmara. Temos uma outra novidade para proteger o trilho e para não o deixar cair em esquecimento, com a criação, dentro de pouco tempo, de uma associação – a Missão Amora - que a Junta esteve a apoiar. É algo que está praticamente pronto e que inclusivamente já tem os seus estatutos. Temos também um senhor estrangeiro que comprou o prédio que dá acesso à praia e que está completamente cooperante e que também tem interesse em que a praia esteja disponível para as pessoas. É o ex-libris da freguesia e quem esquecer a Amora não está em consonância com a vontade do povo.
A Praia da Amora tem estado um pouco abandonada?
É a Junta quem tem mantido os acessos, as limpezas, chamado a atenção e investido do seu financiamento. É estranho porque o Governo Regional colocou placas por toda a freguesia a sinalizar a Praia da Amora, mas depois não há mais nada; não há investimento e não há apoios. A Câmara continua a dizer que não pode investir porque o trilho oferece perigo e há um desinteresse geral. Esperemos que esta nova Associação possa ser, em conjunto com a Junta, importante para chamar a atenção para a qualidade da praia que é bastante procurada por turistas e por locais. O acesso do trilho oferece perigo, isso é um ponto assente, mas essa culpa tem de ser repartida por muitas entidades que deixaram o trilho ao abandono.
É muito difícil recuperar o trilho?
Não é impossível, mas requer algum investimento. Entretanto, temos a concordância da Secretaria do Ambiente para que a Amora, a Gaiteira e o Castelo Branco possam vir a integrar um dos roteiros de trilhos que vêm da Povoação e das Furnas.
Considera que o Turismo pode ser um dos grandes impulsionadores para o desenvolvimento da freguesia?
Em Ponta Garça isso já é uma realidade. Contra mim falo porque estava muito descrente em relação ao turismo, já que se falava muito disso e depois, na realidade, quem suportava a freguesia era a agro-pecuária. Agora, no pós-pandemia, tenho acompanhado os alojamentos locais na freguesia e, basta ir à internet, para perceber que estão sempre cheios. Já não é apenas sazonal até porque Ponta Garça está bem localizada; próxima das Furnas, de Vila Franca e tem preços acessíveis. Esses alojamentos locais são uma fonte de rendimento para os seus proprietários e para a freguesia porque as pessoas acabam por ir almoçar, jantar e comprar os bens de primeira necessidade.
Essa rede de restaurantes e de comércio está preparada?
Precisa de melhoramentos. A nível de comércio local estamos bem servidos e temos o chamado comércio tradicional que ainda mantém a sua genuinidade, obviamente com todas as suas dificuldades. Já ao nível da restauração, estamos muito mal e precisamos de investimento porque neste momento só contamos com um restaurante/snack-bar, que tem muita fama e muita procura, mas que não consegue dar conta da quantidade de pessoas que nos procuram.
Que iniciativas estão agendadas para assinalar o aniversário de Ponta Garça?
Neste fim-de-semana vamos ter uma sessão solene. Para além disso, teremos igualmente a abertura da exposição fotográfica “Olhares sobre a Freguesia”, que será inaugurada Domingo (hoje), um momento musical com viola da terra e à tarde teremos o Farol aberto entre as 14h e as 17h. Vamos promover um passeio comunitário e visitar o farol porque ainda há pessoas da freguesia que não o conhecem e, de seguida, vamos visitar o seu “farol gémeo”, que foi construído e inaugurado na mesma época, na Ribeirinha. As pessoas aderiram a esta iniciativa e temos dois autocarros completamente cheios. Já no dia 18, teremos a presença da Confraria do Leite que entronizará como confrade emérito, o Presidente do Governo. Haverá um bodo de leite, um momento de convívio e teremos depois os Vadios Sketchers connosco para desenhar a freguesia.