Assinala-se hoje o Dia do Programador

Gualter Perinho está a desenvolver aplicações para a ansiedade e para o artesanato

Correio dos Açores - Qual a importância do Dia do Programador?
Gualter Perinho (Programador) - Este dia é importante, tendo em conta que, nos dias de hoje existe muito preconceito para com o programador. As pessoas pensam que os programadores passam o dia sentados, numa cadeira, em frente ao computador e que não trabalham. Culturalmente, no nosso país, a ideia que existe do programador está completamente errada, pelo que convém divulgar o trabalho que esta profissão desenvolve. O Dia do Programador tem que ser para mostrar o trabalho que fazemos, com o objectivo de acabar com o preconceito cultural que existe em Portugal.

Como surgiu a ideia de criar a Programador Açoriano?
Desde que tenho memória, uma das minhas paixões era ter uma Startup de programação. Sempre fui fã das novas tecnologias e dediquei grande parte da minha educação formativa à programação. O que motivou a invenção desta startup foi poder ajudar as outras pessoas, através da criação de aplicações sociais e de auto-ajuda. O meu foco é ajudar os outros, é algo que faz parte da minha personalidade.

Onde fez a sua formação?
Completei o ensino secundário na Escola Básica e Secundária de Santa Maria, no curso tecnológico de Informática. Grande parte da programação que domino deve-se a ser autodidacta. Estudo por conta própria, tentando manter-me sempre actualizado e evoluir.

Em que consiste o trabalho de um programador?   
A profissão de programador consiste, basicamente, em resolver problemas que temos. Alguma falha ou necessidade existente, o programador tenta resolver. Grande parte das tecnologias que usamos no dia-a-dia requer programação, seja nos carros ou telemóveis, por exemplo. Toda a base da tecnologia de hoje requer programação. Pode-se afirmar que o programador é o médico das tecnologias, dando o melhor às pessoas, tendo em vista o seu desenvolvimento. Aliás, na Medicina, os programadores são extremamente importantes, tanto para o uso das máquinas de hoje em dia como para as novas tecnologias em geral.
Como cada profissão, usamos as nossas ferramentas, nomeadamente o código e o computador. O código só se escreve no computador, porém, com o evoluir da tecnologia, já possível programar nos tablets. Há dois tipos de programação, designadamente a programação de configuração e a programação de códigos. São coisas diferentes: uma coisa é configurar um computador, outra é programar a raiz de um computador. Eu programo a raiz de um computador, ou seja, programo em código mesmo e todos os conceitos são feitos por mim desde o zero.

Como é o seu dia-a-dia na Programador Açoriano?    
Eu estive na Incubadora de Empresas de Santa Maria até dia 1 de Setembro e a partir de então estou a programar em casa. O meu dia-a-dia é simples: vou para o computador, faço programação, vejo as ideias, o que há para resolver e simplesmente programo. Algumas vezes também descanso. É um dia-a-dia normal como o de um trabalhador em um escritório.

Trabalha muitas horas extra?
É relativo e está relacionado com as necessidades e prioridades. Se gostar muito do que tenho entre mãos, trabalho desde manhã até à meia-noite. Gosto imenso de programação e quem corre por gosto não cansa.

Qual o impacto da crise no seu negócio?
O meu é um negócio de longo prazo e de tecnologia, e os negócios de tecnologia são os que têm mais vantagem nas crises. A crise não afectou praticamente nada o meu negócio. Aliás, na pandemia, vi o crescimento tecnológico subir a pique, visto que as pessoas necessitavam de alternativas, como por exemplo para as vídeo-aulas. Não houve outra hipótese, senão utilizar a tecnologia. Era isso ou os alunos ficavam para trás. O objectivo é ajudar as pessoas, criando alternativas com a tecnologia.

Que sugestões daria a alguém que quer seguir a área da Programação?
Aconselho a quem quiser ir para esta área que goste de Programação. Se for apenas pela vontade de ganhar dinheiro não resulta. Bill Gates ficou milionário não por gostar de dinheiro, mas sim por gostar do que faz, neste caso de programação.

Que competências deve ter um programador a nível técnico e pessoal?
Antes de mais, considero que é preciso ter força de vontade, persistência, positivismo e muita paciência, o que por vezes é algo que me falha. Nos erros de código, por exemplo, o programador pode ficar muito ‘stressado’. A nível técnico, tem que saber Inglês pois, actualmente, é a língua universal; ter conhecimento lógico e noções de Matemática. Já ouvi dizer que não é preciso Matemática para programação, contudo eu discordo. É necessário um certo conhecimento em Matemática, pelo menos o básico.

Um programador tem que ter um raciocínio lógico acima da média e rapidez de resposta?
Todos temos raciocínio lógico, independentemente de ser acima ou abaixo da média. A diferença é que quem tem capacidade de improvisar, vai estar sempre à frente. Existem dois tipos de programadores: o idealista e o programador que se fica pela parte do código. Este último tem um grande raciocínio lógico, mas em termos de ideias e criatividade é péssimo. Considero que convém ter ambos, um pouco de criatividade e um pouco de raciocínio lógico. Importa referir que a lógica tem que estar sempre acima, considerando que o código é algo estruturado e tem de se dar instruções directas ao computador para que este faça o que queremos.
 
Que dificuldades enfrenta um programador nos Açores?
Temos poucas empresas a nível de programação nos Açores, aliás contam-se pelos dedos. Segundo sei, a Tetrapi e a Cereal Games usam códigos, e pouco mais. Grande parte das empresas de programação nos Açores, que criam os websites, não se dedicam à programação em si. Estas usam outsourcing, ou seja, compram o código a outras empresas
A maior dificuldade é conseguir um emprego de programação em empresas dos Açores. Porém, hoje em dia, se tivermos um bom currículo conseguimos trabalhar daqui para qualquer sítio do mundo. De facto, esta é uma das vantagens.
Por um lado, por estarmos nos Açores temos vantagens de podermos percorrer certas vias que no continente não é possível; por outro lado, em Portugal continental a probabilidade de arranjar emprego é maior, porque existem mais empresas.
O salário de programador em Portugal não é nada de especial, rondando os 1.300 a 1.400 euros brutos, isto é, ainda tem de se descontar. Geralmente, quem ganha mais dinheiro são os engenheiros, pois estes além de saberem o código, fazem basicamente o projecto completo, o que implica também mais responsabilidade.

Que trabalho com mais sucesso fez para a Programador Açoriano?
Neste momento, estou a trabalhar em duas aplicações, sendo que estou a dar mais enfoque à aplicação para ajudar as pessoas que fazem artesanato. Muitas pessoas têm dificuldade em atribuir um preço justo à sua peça, isto é, compram os materiais, fazem as coisas e vendem as peças a preços inferiores ao que deviam. Esta aplicação faz com que as pessoas coloquem o seu material, as medidas que usam, façam o seu projecto, introduzam os preços que levam à hora e a aplicação calcula o preço final a colocar a peça à venda.
A aplicação que estou a desenvolver em paralelo tem como propósito ajudar as pessoas com ansiedade. É praticamente uma psicoterapia, mas em anónimo.

No mundo da programação há sempre coisas novas a acontecer. Como faz para se manter a par de tudo e evoluir profissionalmente?
As tecnologias evoluem, porque a base também evolui, pelo que procuro sempre actualizar-me pela base.
Pesquiso constantemente tudo o que é código. O que é antigo descarto e sigo pelo novo, pois vai chegar à altura em que as coisas mudam novamente e ficamos estagnados.
As escolas de Santa Maria têm dificuldade em ensinar programação aos alunos, porque grande parte do código que usam está desactualizado. Os alunos têm a base da formação, mas as tecnologias estão obsoletas e já não servem para nada. A lógica é evolutiva e infinita, existindo diversas formas de fazer algo. A programação é assim e o mundo da tecnologia tem de se manter actualizado.                      

Carlota Pimentel

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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