Opinião

Homenagem merecida

 


A tão badalada cerimónia de homenagem aos pescadores de Rabo de Peixe ocorreu com grande brilho na Vila, com a presença das mais altas individualidades civis, militares e religiosas e teve lugar junto ao momento evocativo aos “Heróis do Mar”, onde foi entoado, pela Banda da Zona Militar, o Hino dos Açores, tendo-se seguido a colocação de coroas de flores junto à Estátua do Pescador. Graças à determinação de Mónica Silva, uma verdadeira embaixadora de Rabo de Peixe, foi possível a concretização deste desiderato.
O momento arrepiante, prosseguiu com todo o pormenor, não estivessem as mais altas patentes os militares dos Açores e de Portugal presentes, pois já nos habituaram a um ritual protocolar rigoroso, com a Banda Militar a proceder depois aos toques regulamentares de homenagem, ou seja, os toques de “Silêncio”, de “Homenagem aos mortos” e de “Alvorada”, escutados religiosamente por todo o público que se juntou para assistir a uma cerimónia nunca dantes vista na Vila.
De facto, foi um dia de festa para Rabo de Peixe, pois foi homenageada uma classe que, muitas vezes, não tem o reconhecimento e o respeito que deveria ter, como referiu no seu discurso o Presidente da Junta de Freguesia, pois Rabo de Peixe é constituída por gente valente, seja no mar, seja em terra, caraterizada por ser trabalhadora e honrada.
Como tal, considero que foi feita justiça aquele reconhecimento público, atendendo ao contributo e peso decisivo na economia açoriana, com 94 embarcações oficialmente matriculadas na Capitania, com mais de 1000 pescadores, o que perfaz em mais de 3.000 pessoas que vivem em Rabo de Peixe que dependem diretamente da pesca.
Trata-se de um sector primário da economia açoriana que enfrenta enormes obstáculos no seu dia a dia para o sustento das suas famílias numerosas, dificuldades acrescidas porque é uma atividade laboral pouco regulamentada em termos de correção de rendimentos irregulares, que fazem daquela profissão arriscada uma aventura, sem nunca se saber o que se irá ganhar, ou se se ganha algum provento no fim da jornada.
É por isso que não me canso de realçar a bravura e a coragem dos heróis do mar, uma profissão dura e marginalizada, exercida com manifesta falta de segurança das pequenas embarcações e em que em muitas das ocasiões o perigo espreita, sobretudo em dias de grande agitação marítima, que mesmo assim, levam os pescadores a terem que arrear para irem em busca de sustento para si e para os seus familiares.  
Quantas e quantas vezes as famílias ficam em terra na esperança e expectativa de verem regressar os seus são e salvos, desbravando o mar imenso, numa resignada dor que não se conhece o desfecho, pelo que sofridamente se agarram ao céu, implorando pelo regresso seguro dos bravos pescadores, pelo em tempo de homenagem uma palavra de gratidão também é devida aos familiares diretos.
Por isso, fiquei muito contente por esta homenagem junto ao monumento que eu tive a sorte de ter cumprido uma promessa antiga de se erigir em 2002 uma estátua aos heróis do mar de Rabo de Peixe. O pescador lá está majestoso, olhando para todos os que ali passam, a lembrar que aquele arruamento leva ao porto mais importante da ilha de S. Miguel e dos Açores e que a sua profissão merece respeito e uma atenção especial por parte de todas as autoridades legitimamente constituídas. 
Entendo que a verdadeira homenagem se fará quando se deixar de olhar para a faina marítima como uma atividade marginal e desvalorizada socialmente, e entender que ela contribui para o desenvolvimento do setor primário da economia, dando-lhe a mesma importância do que outras profissões, como acontece no mundo evoluído. Façamos uma viagem mesmo que virtual a Vigo, na Espanha para se perceber melhor de como a pesca é tratada no país vizinho.
Neste dia pretendemos valorizar os homens do mar e o seu papel na história e identidade de Rabo de Peixe.
António Pedro Costa

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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