11 de outubro de 2022

Opinião

Cambalachos

  No meu dicionário da Porto Editora o significado da palavra cambalacho é:- permutação dolosa, tramoia e conluio.
A avaliar pelos muitos casos que costumam vir a público na comunicação social, verificamos que, lamentavelmente, o português (no sentido lato do termo) é propenso ao envolvimento em cambalachos, ou seja, em conluio ou jogadas menos claras e manifesta falta de transparência.
Em Portugal, normalmente, estes casos envolvem uma qualquer figura do Estado, ou de empresa estatal. Parece até que está no próprio ADN.
Hoje mesmo, a última que acabo de ouvir na Antena 1 foi que, o polémico Ministro do “impoluto” governo maioritário socialista, Pedro Nuno Santos de sua graça, desta feita, parece estar envolvido num ajuste directo feito a uma empresa para prestação de um qualquer serviço que não cheguei a perceber qual.
Disse também a notícia que a empresa era pertença do pai do senhor Ministro e que, ele próprio, só teria uma minúscula participação de UM POR CENTO no capital social dita cuja.
Assim, atendendo à irrelevante participação do senhor Pedro Nuno Santos no capital da empresa, não era, por isso mesmo, impeditivo de beneficiar de uma adjudicação directa. Ou seja, não é o princípio de rectidão e clareza que está em causa. Para o partido a que o governante pertence o que conta é a percentagem de participação no capital. Pois! E eu sou o coelhinho da Páscoa.
Confesso não me recordar qual o tipo de serviço a prestar, ou prestado, que desenrolou esta polémica,  até porque isso não é relevante. O importa aqui é que, o senhor Ministro é sócio, embora minoritário, de uma prestadora de serviços ao governo a que ele pertence.
Se, no rectângulo português, tivéssemos um governo a sério e sem rabos de palha, o senhor Pedro Nuno Santos já estaria a passar “férias perlongadas”. Como não o temos, aquele senhor vai continuar no governo, nem que para tal, engula sapos vivos e venha depois pedir desculpa aos portugueses, como aconteceu com a “estória”  do novo aeroporto de Lisboa. 
Isto não se passa em países onde a democracia funciona. Como na Inglaterra, por exemplo que uma festa indevida, num lugar indevido e uns copos a mais levou à saída do “despenteado” Primeiro Ministro.
Se tal acontecesse aqui nos Açores, a delegação açoriana do Partido Socialista Português, estaria a fazer um “chinfrim” de todo o tamanho, como aquele que fez a propósito da adjudicação directa de serviços a uma empresa de segurança, a qual tinha pertencido ao Subsecretário da Presidência Pedro de Faria e Castro que, quando foi convidado para fazer parte do Governo Regional iniciou o processo de cedência de quotas à Esposa e que, após consulta jurídica, foi-lhe informado não haver qualquer impedimento para ser membro de um governo. Todavia, o PS/A não se coibiu de alardear favoritismos, apesar de saber não os ter havido.
Mais recentemente, e desta vez concordo com a posição socialista, sobre a adjudicação à empresa VCDuarte Ldª para fazer um estudo para o transporte marítimo inter-ilhas; ao que parece sem qualquer experiência de transportes marítimos aqui nos Açores e ter prestado um mau serviço entre a Madeira e Portugal, acrescido do facto dos sócios da VCDuarte Ldª pertencerem ao CDS e PSD, estes argumentos parecem não ter tido qualquer influência na escolha.
Toda esta promiscuidade entre os políticos, tanto os de cá como os de lá, quem acaba por sofrer as consequências são os cidadãos.
A Comissão Europeia, desde há vários anos a esta parte, que vem alertando Portugal para uma maior fiscalização e maior empenho na luta contra a corrupção. Não esqueçamos que, em termos de corrupção na Europa, Portugal ocupa um lugar de relevo de entre os mais corruptos.
Penso que está mais do que na hora de se tomar medidas drásticas sobre as corrupções e cambalachos demitindo, ou exonerando, sem apelo nem agravo, quem entra nestes esquemas. Pese a quem pesar, doa a quem doer.
Muito embora alguns dos denunciados sejam vítimas de invejas e dores de cotovelo, como aconteceu com o actual presidente da Câmara Municipal do Porto, a maioria das denúncias têm sido, comprovadamente, verdadeiras.
Por cá, atendendo a que nos conhecemos uns aos outros, maior razão haverá para se ter mais cuidado.
É que não basta autoproclamar-se sério. É preciso ser-se e parecer-se sério!

Carlos Rezendes Cabral 

P.S. Texto escrito pela antiga grafia.
8OUT2022
             
 
   

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