Emanuel Tevesnasceu no seio do negócio familiar do Grupo Sicosta

Jovem trocou Direito e Gestão de empresas para ajudar as pessoas a gerir as suas finanças pessoais e familiares

 Vindo de uma família de empresários, actividade esta que foi fortalecida ao longo de várias gerações, Emanuel Teves relata ter sentido desde cedo pressão para que se envolvesse na continuidade do negócio familiar, no Grupo Sicosta, como hoje é denominado. Porém, pelo menos durante um determinado tempo, os seus planos estavam longe de se cruzarem com esta dinâmica empresarial em família, o que o levou a viver durante seis anos em Lisboa, onde se licenciou em Direito na Universidade Católica de Lisboa e onde tirou também um mestrado forense, dado o seu “sonho” de então, que consistia em exercer a profissão de juiz nos Açores.
Embora soubesse que o estatuto da profissão que tinha escolhido para si não iria desiludir a família, e tenha também ganhado gosto pelo que aprendeu durante o curso, assim que começou a exercer no ramo da advocacia, Emanuel Teves percebeu que não se sentia concretizado e que esta não seria uma opção a considerar para o resto da sua vida profissional.

Chegou a ser gestor
do negócio da família

Começou a pensar em regressar aos Açores e em dar uma oportunidade ao negócio da família, uma vez que até se tornar juiz iriam passar longos anos: “Para sermos juízes da área criminal temos dois caminhos, ou pela experiência – que eu não tinha – ou então fazendo um exame para a Magistratura. Este exame não ocorre todos os anos, então tirei um mestrado, que era um requisito obrigatório, e enquanto estava à espera que esse exame abrisse trabalhei como advogado. (…) O problema é que estava em Lisboa há seis anos e não sabia quando ia conseguir voltar para os Açores. Tinha os meus amigos e a minha família nos Açores e queria voltar para cá porque já detestava viver em Lisboa”, relembra.
Aquando do seu regresso, passou a ser gestor no negócio da família, deixando os pais felizes, e tendo também a oportunidade de trabalhar juntamente com o irmão que, ao contrário de Emanuel Teves, sempre desejou trabalhar em família, licenciando-se em Gestão. Foi precisamente com o apoio do irmão que o recém gestor aprendeu muito sobre o mundo da gestão empresarial, tendo em conta que estas eram bases que não tinha. Aprendeu também muito com o pai, que “mesmo não tendo curso aprendeu com a vida e é um óptimo empresário e gestor. (…) O meu pai ensinava-me pelo exemplo e o meu irmão dedicava muito do seu tempo a ensinar-me”, conta ainda.
Com a chegada da pandemia, Emanuel Teves passou a director da fábrica de rações do Grupo Sicosta: “Com a Covid o meu pai sentiu a necessidade de estar mais presente no centro do grupo das empresas. Ele mudou de escritório e eu fiquei mais sozinho e passei a ter mais autonomia na empresa. Já o fazia, mas sempre com o apoio do meu pai, porque era a empresa mais recente do grupo, e também tinha um grande volume de negócios, ou seja, aquela que tinha o maior risco. Com a pandemia ele achou que eu já estava pronto e a verdade é que eu também já me sentia pronto porque tinha passado muitos anos a observar e a aprender”, adianta.
Passados seis anos a desempenhar funções de gestor e de director no Grupo Sicosta, empresa que – com nomes diferentes ao longo dos anos – está na sua família há gerações, Emanuel Teves chegou à conclusão de que, embora pudesse ter “tudo aquilo que um jovem da sua idade ambiciona”, desde o estatuto à estabilidade financeira, tal não permitia que fosse verdadeiramente feliz no seu trabalho. Assim, passado pouco mais de um ano depois de ter assumido o cargo de director da referida fábrica de rações, acabaria por demitir-se, saindo da empresa “sem um plano b”, mas com a estabilidade financeira necessária para “pensar com calma em relação ao que realmente queria fazer”.
Enquanto pensava, aproveitou para concretizar alguns dos seus sonhos mais antigos, como visitar o Japão e fazer queda livre, graças também ao facto de ter feito life coaching, com o sentido de perceber de que forma se poderia sentir mais realizado no pouco tempo livre de que usufruía então.

“O que eu quero é ajudar as pessoas
a acreditar que tudo é possível...”

Foi também por perceber o papel importante que o coaching teve na sua vida que Emanuel Teves concluiu que aquilo para que mais estava vocacionado prendia-se com a capacidade de ajudar as pessoas, tendo, entretanto, concluído a sua formação nesta área. Há cerca de um ano que é coach, procurando intervir sobretudo na área das finanças pessoais, comprometendo-se com o objectivo de trabalhar com “pessoas que querem viver com mais qualidade de vida”, sendo esta uma profissão que lhe permite aplicar alguns dos conceitos de gestão que aprendeu ao longo dos anos e explorar a sua paixão pelo mundo financeiro.
“O que eu quero é ajudar as pessoas a acreditarem que tudo é possível, que todos os sonhos são possíveis, financeiros ou não, e que as pessoas não têm que sentir as amarras da sociedade seja no que for”, explica, e que graças ao alcance das redes sociais tem clientes não só em São Miguel, mas também na ilha de São Jorge e em Portugal continental.
Tendo em conta a sua realidade, afirma que embora houvesse a ideia de que nos Açores não há procura pelo coaching, o que acontece, muito provavelmente, é existir “pouca publicidade da oferta na área”, já que existem cada vez mais pessoas a apostar no seu próprio desenvolvimento pessoal.

“Jovens são os que menos
conhecimento têm na gestão
do seu dinheiro”

Para além de orientar pessoas de várias zonas do país, Emanuel Teves realça ainda que chegam até ele pessoas de todas as idades: “Chegam-me pessoas jovens porque estão a tentar encontrar o seu sentido de vida, pessoas que já têm algumas responsabilidades familiares e que querem ter mais qualidade de vida para si e para os seus filhos, que querem também fazer reconversão de carreira porque não estão felizes nas suas carreiras. Ultimamente, tenho tido alguns clientes com alguma idade porque sentem que durante toda a sua vida foram presos por alguma razão, tal como responsabilidades familiares, e sentem que nunca viveram e que querem ter a liberdade que o dinheiro dá para poderem seguir os seus sonhos”, adianta ainda.
Apesar de os mais novos serem os mais preocupados não só com a felicidade, mas também “com o seu propósito, com a sua missão e com os valores”, uma vez que estes são conceitos que até há alguns anos não eram tão discutidos abertamente, este coach indica que são também aqueles que têm menos conhecimento em relação à forma como devem gerir o seu dinheiro.
“Em relação às finanças, há muito desconhecimento. Eles (os mais jovens) sabem que é preciso organizarem-se, só não têm o conhecimento, e daí é que vem a procura até porque, ver alguém com as suas finanças pessoais regularizadas não é algo que eu veja com regularidade, sinceramente”, adianta.

“Não é no poupar que está o ganho”

Em acréscimo, no contexto actual tem vindo a ser cada vez mais necessário obter este tipo de conhecimento, tendo em conta que “a inflação está completamente louca e que os depósitos a prazo não dão nada”, levando por isso os mais jovens a procurarem por “soluções alternativas” que se traduzem, essencialmente, por investimentos.
“Não há volta a dar, têm que ser feitos investimentos. O investimento serve para combater a inflação. Dou sempre o exemplo da inflação comparando-a com escadas rolantes. Se nos enganamos e estamos na passadeira que anda em sentido contrário – queremos subir mas ela está a descer –, e se não quisermos trocar de passadeira, temos que andar mais depressa do que ela, e o mesmo serve para combater a inflação. Não há volta a dar, não se consegue fugir dela. Com as poupanças ou com o dinheiro que se tem de parte, tem que se fazer render mais do que a inflação” explica.
Questionado acerca dos investimentos que mais valem a pena fazer neste momento, e embora deixe claro que o seu trabalho é diferente do trabalho desenvolvido pelos mentores nesta área específica, Emanuel Teves refere que existem várias soluções, cabendo às pessoas perceberem com que tipo de investimentos se sentem mais confortáveis.
“Em primeiro lugar, as pessoas têm que saber que tipo de risco é que estão dispostas a suportar e qual é o seu perfil de investidor: conservador, moderado ou agressivo. Depois deste exame de consciência é que se pode escolher o tipo de negócio. Pode-se abrir um negócio próprio, pois o risco é elevado, pode-se investir em acções, onde o risco é ainda mais elevado, mas sempre que aumentamos o risco aumentamos também a possibilidade de rentabilidade. Não dá para investir numa conta poupança e esperar rendimentos de 10%, isso é impossível”, explica.
Analisando as opções em que “risco, segurança e rentabilidade” são mais equilibrados entre si, aponta os índices onde se encontram as empresas mais cotadas na bolsa, como acontece com o Psi20 (Portuguese Stock Index) em Portugal e com o S&P 500 nos Estados Unidos da América, onde entram as 500 maiores empresas norte-americanas.
“Se investirmos em acções da Google, por exemplo, estamos a colocar todo o nosso dinheiro num cesto. Já se investirmos num índice das 500 melhores empresas dos Estados Unidos, estamos a diluir o risco por 500 empresas que vão desde a indústria alimentar, indústria petrolífera, do ouro ou da informática. Investe-se em todas ao mesmo tempo e, apesar de ser a opção mais segura, é aquela onde a rentabilidade é menor”, considera ainda o coach.
Embora as acções estejam em queda devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Emanuel Teves considera que este pode ser um bom momento para investir nesta área, uma vez que os preços das acções estão igualmente mais baratos. Por outro lado, conforme mostra a história, “os índices recuperam muito bem e muito rapidamente”, sendo possível alcançar uma rentabilidade de até 10% por ano.
Para além dos índices, as criptomoedas podem também ser “um investimento a considerar”, embora este seja um passo que apenas os investidores mais resilientes poderão considerar viável, tendo em conta que este é um mercado que se encontra ainda “numa fase embrionária”.
Também o mercado imobiliário pode ser uma boa forma de manter investimentos para aqueles que já estão envolvidos nesta forma de rentabilizar dinheiro, uma vez que é um mercado que tende a valorizar. No caso daqueles que estão a pensar investir, Emanuel Teves considera que “claramente não é uma boa altura para investir”, tendo em conta os elevados preços praticados. De qualquer das formas, há sempre um aspecto que é certo: “qualquer investimento deve ser feito com consciência e com algum conhecimento. Assim, a longo prazo, a probabilidade de sucesso é muito maior”.
Em sentido contrário, ou seja, a opção onde a rentabilidade é menor, está a poupança, provavelmente o método mais comum utilizado pela população para manter algum dinheiro: “Esta é uma das crenças que as pessoas têm, porque quando as pessoas precisam de mais dinheiro tendem a poupá-lo, mas em qualquer empresa os nossos patrões estão sempre a pedir por vendas e não por cortar custos. Isto porque o potencial do rendimento é ilimitado. Uma pessoa pode ganhar mil, cinco mil, dez mil ou vinte mil, mas para poupar há um limite porque há certos custos que não dá para cortar, como comida e casa. Até o Cristiano Ronaldo, que ganha milhões, não consegue reduzir os seus custos a zero. Ou seja, existe um limite para os custos e não existe um limite para os rendimentos”, salienta ainda.
Menos rentável ainda são os esquemas em pirâmide, que apenas trazem rendimento àqueles que os iniciam ou àqueles que têm “muita sorte”. Por esse motivo, Emanuel Teves apela “ao conhecimento e consciência” de cada um quando confrontado com as várias oportunidades que assentam em “milagres da multiplicação que só podem ser mentira”.
                        

Print

Categorias: Regional

Tags:

Theme picker