A primeira frase que vou comentar refere-se àquilo que afirmou o senhor Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, em Santa Cruz, aquando da visita (estatutária ?) que fez à ilha das Flores.
Disse aquele político da nova vaga que, a autonomia, tem falhado na coesão regional dos Açores, conforme estipula o artigo 3º do nosso Estatuto Político Administrativo.
Em boa verdade e na qualidade de cidadão interessado por tudo o que se passa na minha terra, e ainda com a experiência que só a idade confere, não vejo aonde quer chegar aquele senhor, até porque ele, tal como eu, sabe, ou ao menos devia saber que, independentemente dos custos, saídos dos bolsos de todos os cidadãos dos Açores e já no período autonómico construíram-se aeródromos nas ilhas que ainda não os tinham; construíram-se escolas até, pelo menos, ao ensino secundário, para além de escolas profissionais em algumas ilhas; melhorou-se a rede das unidades de saúde em todas as ilhas, para além de, em três delas, existirem três novos hospitais apetrechados para socorrer a esmagadora maioria das necessidades na área da saúde.
Na área dos transportes marítimos, cada ilha tem o seu porto – algumas até com mais do que um porto comercial, para além dos portos de pesca e marinas que proliferem por essas ilhas fora.
Tudo isto se fez, sem levar em linha de conta o número de habitantes que o investimento iria beneficiar.
Devo dizer que, nem nos Estados Unidos da América, que é uma nação rica e de referência, se criaram tantas infraestruturas para tão pouca gente como é o caso dos Açores.
Por outro lado, coesão significa harmonia, não significa igualdade, daí, eu pensar que a frase do senhor Presidente da Assembleia Legislativa foi infeliz e não é verdadeira.
Agora, se aquele senhor, ao falar da falta de coesão, se estava a referir à satisfação de algumas reivindicações megalómanas e desproporcionadas, aí, teria sido melhor ele ter ficado calado.
A segunda frase que vou comentar refere-se à resposta que o senhor Presidente do Governo Regional deu ao Presidente da Câmara Municipal de Lajes das Flores, quando este abordou a reconstrução do porto daquela vila destruído pelo furação Lorenzo ao afirmar:- uma coisa é querer outra, bem diferente, é poder.
Há algum tempo atrás, quando tomei conhecimento do projecto de reconstrução do porto das Lajes das Flores classifiquei-o de megalómano (há quem lhe chame faraónico) porque, o projectista, aproveitando a reconstrução, lançou mais um cais de 140 metros.
Ora, isto não é reconstruir, isto é, construir um novo porto! Mais, desconfio até que, tal desiderato, seja comparticipado pela União Europeia.
Para o bem, ou para o mal, a ilha das Flores tem pouca população, e até à chegada do furacão Lorenzo, o seu porto dava e chegava para as necessidades da ilha. Claro que, quando havia mau tempo, as coisas atrasavam-se como em qualquer porto da Região.
Agora, com a entrada em serviço do reconstruído e melhorado porto, o qual dispõe de um cais de 130 metros (salvo erro) e seis metros e meio de fundo serve perfeitamente, por excesso diria eu, para satisfação das necessidades da ilha.
Construir até 2028 um cais de 140 metros naquele porto é, literalmente, e em minha opinião, deitar dinheiro à água.
A senhora Secretária Regional das Infraestruturas adiou aquela questão, mas o senhor Presidente do Governo Regional foi bem claro ao afirmar que uma coisa é querer, e outra bem diferente é poder fazer.
Todos sabemos que as obras portuárias custam “pipas de massa”. Neste momento, e com as dificuldades existentes derivadas da guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, que está sendo motivo de inflação de preços a nível mundial, reivindicar uma obra daquelas é um autentico disparate.
Evidentemente que os políticos não têm a coragem de utilizar uma linguagem como a minha, mas isso é lá com eles.
Para terminar devo dizer que, para se falar de coesão, que significa harmonia, não pode confundir com a igualdade ou “igualitarismo”, que é ter uma coisa igual ao outro. Julgo que, só assim, se fala em bom português!
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia.
16OUT2022