Correio dos Açores - Qual a importância do Dia Mundial da Osteoporose?
Teresa Sampaio da Nóvoa (Directora do Serviço de Reumatologia do Hospital do Divino Espírito Santo) - Desde 1996 que, no dia 20 de Outubro, se comemora o Dia Mundial da Osteoporose.
Esta doença é um grande e grave problema de saúde pública, cujas consequências acarretam uma elevada taxa de morbilidade e mortalidade.
Assim, ao assinalarmos este dia pretendemos alertar a população em geral da existência da mesma, das suas consequências, dos seus factores de risco, de que modo podemos fazer o diagnóstico, qual o seu tratamento e como prevenir o seu aparecimento.
O que é a osteoporose?
A osteoporose é a doença ósseo-metabólica com maior prevalência, que se caracteriza por uma diminuição da massa óssea, deterioração do tecido ósseo e da sua microarquitectura, tornando o osso frágil e assim com maior risco de se partir.
São as chamadas fracturas de fragilidade e que ocorrem com pequenos traumas.
Por vezes, até podem ocorrer mesmo sem traumatismo evidente, como por exemplo aquelas que ocorrem por torção.
Qual a percentagem de pessoas afectadas pela doença nos Açores?
Não temos dados recentes da região.
Dados apresentados em 2008 referem a existência de 15 000 pessoas com osteoporose na ilha de São Miguel, sendo que 12 000 são do sexo feminino e 3 000 do sexo masculino.
Num Inquérito Nacional de Saúde, publicado em 2010, é referido que 5,6% das pessoas residentes nos Açores têm osteoporose e que o diagnóstico foi feito por médico uma percentagem superior a 90%.
A nível nacional sabemos que esta doença afecta mais de meio milhão de portugueses, principalmente do sexo feminino e com mais de 50 anos de idade.
Como é feito o diagnóstico?
A densitometria óssea é o exame mais frequente e mais importante para se fazer o diagnóstico da osteoporose.
Este exame além de medir a massa óssea, pode ser utilizado para verificação da eficácia de terapêuticas instituídas.
Além disso, também podemos utilizar em consulta uma ferramenta de cálculo denominada FRAX, que nos permite ter uma estimativa da possibilidade que o doente tem ou não de fracturar.
Este é o modo através do qual nós queremos saber se o doente tem osteoporose.
No entanto, a maioria das vezes o diagnóstico só é feito quando aparece a primeira fractura (denominada de fractura de fragilidade) que surge após uma queda da própria altura.
Isto acontece, porque a osteoporose é conhecida por ser uma doença “silenciosa”, o que significa que não dá qualquer sinal ou sintoma antes da fractura.
Conhecida como a doença silenciosa, quais os sintomas e consequências?
Esta é considerada uma doença silenciosa, pois normalmente não existem sintomas.
Temos que estar atentos aos tais factores de risco, nomeadamente o sexo feminino, ter mais de 50 anos e estar em menopausa, apresentar um baixo peso, ter tido uma fractura anteriormente, haver história parental de fractura da anca, fazer terapêutica prolongada com corticóides, ser fumador, ingerir mais de três unidades por dia de álcool, ter outras doenças secundárias que causem osteoporose e as quedas frequentes, para pensarmos nesta doente e agirmos.
As consequências desta doença são mesmo as fracturas, cujos locais mais frequentes são o punho, úmero, ancas e coluna lombar.
Uma vez que ocorra uma fractura de fragilidade há trêsvezes mais hipóteses de fracturar novamente.
Qual o tratamento?
O tratamento da osteoporose pode dividir-se em tratamento médico e tratamento não médico.
O tratamento médico consiste na utilização de medicamentos que vão actuar em diferentes mecanismos do metabolismo ósseo, podendo ser por inibição da reabsorção/ perca do osso, por estimulação da sua formação ou por ambos os mecanismos.
Também recomendamos a suplementação com cálcio e vitamina D.
O tratamento não médico consiste na manutenção de uma vida saudável com alimentação diversificada e rica em cálcio, evicção do álcool e do tabaco, instituição do exercido físico regular, exposição solar e prevenção das quedas.
Que estratégias de prevenção existem?
A prevenção começa desde a infância, porque o nosso aporte ósseo vai aumentando com a idade até atingir o pico na idade adulta, onde atinge um platô.
Portanto, a prevenção tem que ser feita desde o início das nossas vidas e consiste numa alimentação variada e rica em cálcio e vitamina D, exercício físico regular (caminhar, correr, nadar, dançar), exposição solar (na face, braços e mão por um período de cerca de 15 minutos por dia), evitar o álcool e o tabaco, prevenir as quedas (manter uma boa iluminação, tapetes bem presos ao chão; na rua usar calçado robusto, com sola de borracha, correcção de visão e da audição).
O que fazer para ter ossos fortes e saudáveis?
Todas as medidas preventivas vão tornar os nossos ossos fortes e saudáveis.
Assim, reitero, uma dieta variada e saudável, o exercício físico regular, a exposição solar a evicção do álcool e do tabaco, são pontos chaves na saúde dos nossos ossos.
A incidência da doença tem aumentado nos últimos anos nos Açores?
Tal como em todo o mundo, a incidência da osteoporose tem aumentado e este aumento deve-se principalmente ao aumento da longevidade.
No entanto, não nos podemos esquecer que o período pandémico promoveu o sedentarismo ao invés do exercício físico e foi um factor muito importante no aumento desta incidência.
Na Região, existe um reumatologista para quantos habitantes?
No Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores temos quatro reumatologistas, sendo que um é apenas a tempo parcial.
Assim sendo, o rácio médio é de um reumatologista para cerca de 63 000 habitantes nos Açores.
Que mensagem quer deixar aos doentes de osteoporose neste dia?
A principal mensagem é que aosteoporose é uma doença para a qual existe tratamento e que, quando tratada, diminuímos muito as incapacidades e dependências que esta pode originar.
Após o aparecimento da primeira fractura, temos três vezes mais possibilidades de ter uma nova fractura em qualquer lugar e cinco vezes mais de ter uma fractura vertebral
No HDES-EPER existe uma consulta de osteoporose e doenças osteo-metabólicas, dirigida a esta patologia, que diagnostica, exclui causas secundárias e trata os doentes com osteoporose.
Há algo mais que queira acrescentar?
A 14 de Fevereiro de 2022, abrimos no nosso serviço uma nova consulta, denominada consulta de FLS (Fracture LiaisonService), que é uma consulta dirigida aos doentes que já fracturaram.
Somos uma equipa multidisciplinar composta por um ortopedista (que nos sinaliza o doente que acorre ao SNS por uma fractura), reumatologistas, endocrinologistas (nutricionistas), medicina física e reabilitação, e medicina geral e familiar, que trabalha em conjunto em prol da vida mais saudável e independente dos nossos doentes.
Esta consulta segue as directrizes internacionais da IOF (InternationalOsteoporosis Foundation) e tem como objectivo principal tratar e orientar os doentes que já fracturaram, para poder prevenir, assim, o aparecimento de novas fracturas.
Carlota Pimentel