Rogério Rodrigues é um dos últimos queijeiros a manter viva a tradição do queijo artesanal da ilha do Corvo

 Na mais pequena ilha dos Açores, Rogério Rodrigues mantém viva a tradição do fabrico do queijo típico do Corvo. Este agricultor de 44 anos de idade, que é um dos últimos ‘guardiões’ deste processo completamente artesanal, começa por contar que “sempre tive vacas de leite, como aliás todos os lavradores cá do Corvo”.
Rogério Rodrigues era, à data do encerramento da única queijaria existente na ilha, “há 2 ou 3 anos atrás”, o único produtor a fornecer essa empresa.
“Entretanto a queijaria fechou e eu tinha aos animais, as máquinas de ordenha e falei com a minha esposa, dando a ideia de que devíamos começar a fazer uns queijos para a família e para os amigos. Assim comecei, na brincadeira, a fazer uns queijos em minha casa e vou mantendo a tradição”, refere.
Este corvino garante que o processo de fabrico é exactamente “como se fazia antigamente”.
“O leite é utilizado cru, vem directamente das vacas e é posto a coalhar. É enchida a massa com as mãos, mesmo como se fazia antigamente, na dita farcela, que era o nome que se chamava ao recipiente onde se colocava a massa para fazer o queijo. O queijo é enchido nas formas e fica uns dias embrulhado nos panos. Depois é preciso lavá-lo todos os dias e partir daí tratá-lo, dar-lhe massa até ele ficar pronto para comer”, explica com entusiasmo.
Com um peso que varia entre 1 e 2 kgs, Rogério Rodrigues conta que aprendeu este processo com a própria família.
“Até há 30 anos atrás, todas as casas do Corvo faziam queijo. Aliás, todas as casas tinham lavradores que tinham vacas de carne, mas também vacas de leite e, portanto, todas as famílias, incluindo a minha, faziam queijo em casa”, recorda.
Entre risos, Rogério admite lembra-se muito bem desses tempos e reforça que “faço queijo porque gosto. A minha vida e a da minha esposa não passa por fazer isso e fazemos os queijos por brincadeira”.
 Este agricultor destaca que a grande diferença deste queijo em relação a outros do género é, naturalmente, o facto de este ser feito de “maneira tradicional”.
“Não tem câmara de frio, não tem conserva e é curado ao ar como era feito há 50 ou há 100 anos atrás. A única diferença existente é que compramos o coalho. De resto, é exactamente como se fazia antigamente”, salienta.
Quando questionado se está no seu horizonte avançar para a constituição de uma queijaria, Rogério Rodrigues admite que já existiram “algumas propostas para montar uma cooperativa para poder vender os queijos”, mas revela que esse passo não será dado.
“Faço isto com a minha esposa que tem o seu trabalho (bancária) e só fazemos o queijo à noite quando ela chega. Também tenho a minha vida com animais e terrenos que tenho para trabalhar. Como disse, fazemos o queijo à noite e nunca poderia avançar porque isso ocupa muito tempo (…) É mesmo apenas por brincadeira. Para além disso, se abrisse uma queijaria teria de ter pessoas a trabalhar e, hoje em dia, também não é fácil arranjar mão-de-obra. É muito complicado e o melhor é ficar por aqui. Um dia que me fartar deixo de fazer queijos, mas, por enquanto, vou fazendo”, garante.
Falando precisamente sobre o futuro, Rogério Rodrigues, apesar de referir que ainda existem “muitos lavradores no Corvo”, considera que a sua grande maioria está a optar por não se dedicar à criação de vacas de leite.
“Eles gostam de viajar, de passar férias e o leite, como todos sabem, tem de ser tirado quer faça chuva ou sol, todos os dias de manhã e à noite. Já as vacas de carne podem ser levadas a um terreno, ficar lá 3,4,5 ou 10 dias e dá para dar ‘um salto’ a Lisboa ou a qualquer outro local. Por isso, os lavradores optam mais por ter animais de carne em vez de animais de leite porque é mais fácil e menos cativo”, afirma.
“Cada vez que preciso de sair da ilha é um problema porque não é fácil arranjar alguém que vá tirar o leite”, lamenta, antes de explicar que, quando isso acontece, “o leite é dado aos animais porque não estamos cá para fazer os queijos. Por isso, é complicado ter vacas de leite no Corvo. Não sei se nas outras ilhas se passará o mesmo, mas no Corvo é muito complicado”, reforça.
Perante este cenário, Rogério Rodrigues tem a convicção de que as vacas de leite deixarão de ser uma realidade na mais pequena ilha dos Açores.
“Acho que quando deixar de fazer queijo, mais ninguém terá vacas de leite porque o leite é muito cativo e as pessoas estão a optar cada vez mais pelos animais de carne”, afirma um dos últimos queijeiros do Corvo.                           

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