25 de outubro de 2022

Testemunho - O Homem das Três Pátrias Açores, Portugal e Timor

O cidadão açoriano José Francisco Nunes Ventura, desde muito jovem se interessou pela política, como instrumento do bem comum e de melhorar a vida dos trabalhadores, daí o ter aderido à JOC- Juventude Operária Católica, da qual foi dirigente nos anos 60 do século passado. 
O movimento de jovens operários católicos fundado pelo Padre belga Joseph Cardijn, não foi lá muito bem visto pelo regime da altura, estando o jovem líder José Ventura muitos vezes no radar da polícia política. 
Vigilância que mais se acentuou, quando começou a circular que o jovem “subversivo comunista” era apoiante da candidatura do General Humberto Delgado. 
Estávamos em 1958, e vem dessa altura a iniciação ideológica de Ventura nos valores e princípios da Doutrina Social da Igreja e da sua simpatia pelos ideários da social-democracia e do socialismo humanista e reformista, que ainda hoje fazem parte dos princípios e valores que norteiam o cidadão José Ventura, homem de causas e da CAUSA.  
Com o 25 de Abril, José Ventura participa na criação do PPDA Partido Popular Democrático dos Açores, fazendo parte da Comissão Organizadora e militando no mesmo até 1984, ano que pede a sua demissão.  
Ventura sempre acalentou o ideário dos Açores virem um dia a serem independentes, sempre com Portugal ao lado.
Sem que tal ficasse dependente do regime que viesse a vigorar em Portugal.
 Daí ter aderido ao movimento liderado pelo Presidente José de Almeida, que defendia tal processo por via pacifica e em negociações permanentes e consensuais.
 Em 1988, adere ao P.D.A. - Partido Democrático do Atlântico e, no período mais difícil da vida deste partido (2002) aceitou a eleição para a sua Presidência, tendo conseguido praticamente sozinho, a sua sobrevivência às várias tentativas de o encerrarem, desde a guerra das multas, do número mínimo de militantes e à lei eleitoral, conseguindo com os restantes partidos sem assento parlamentar, uma inesperada vitória a nível nacional.
 Após as eleições para a ALRA em 2008, cessa as funções que exercia no Partido a partir de 2010 (por razões de saúde).
Sobre os acontecimentos do dia 17 de Novembro de 1975, o resistente Ventura escrevia:
Lamentava-se da fraca adesão à iniciativa, “preparada com antecedência e partilhada com quem julgávamos comungar dos nossos ideais”.
Sentia-se desiludido, por apenas vinte cidadãos se terem concentrado no dia 17 de Novembro de 2019, para evocarem a data histórica de 17 de Novembro de 1975.
Assinalava que, naquele dia, haviam estado “umas 10 mil pessoas na rua”. 
Já antes num vibrante testemunho, publicado na imprensa local em 13 de Novembro de 2019, Ventura escrevia em jeito de veemente apelo.
”… 17 Novembro de 1975, a maior manifestação da história dos Açores. Manifestação abrangente a todo o arquipélago açoriano. 
Dia em que acreditávamos se ia proclamar a independência dos Açores. 
Se alcançado esse sonho, hoje estaríamos a celebrar o XLIV aniversário da Pátria Açoriana. 
Sonho traído por quem incumbido da proclamação unilateral da nossa maioridade como Povo, recuou quanto ao prometido aos seus pares…”
E terminava com a seguinte interrogação.
Será que em 2019, tal com em 1975, os “negócios”, incluindo os geoestratégicos, não valeram sempre mais que os IDEAIS?
Ventura como fiel e leal resistente da Causa Açoriana recorda a citação do Presidente José de Almeida, sempre que os Açores são tratados como a “última fronteira”, garante da “continuidade territorial” do Império, como ainda agora ocorreu em plena crise da pandemia.
“Ter cuidado antes de dar o próximo passo não significa parar de sonhar ou seguir em frente, mas pisar com firmeza para não voltar.” 
Citação inspiradora da frase - os ideais quando genuínos não têm prazo de validade, nem são prisioneiros de interesses de circunstância.
Para além da evocação dos presos políticos do 6 de Junho de 1975 o Resistente Açoriano José Francisco Nunes Ventura, não esquece as vítimas da manifestação de 28 de Fevereiro de 1933, abatidas no Largo Vasco Bensaúde em Ponta Delgada, pelas tropas portuguesas aquarteladas em S. Miguel, por apenas se manifestarem contra o centralismo de Lisboa.
Tendo estado na origem da homenagem e no descerramento duma placa evocativa daquela data. 
José Ventura igualmente partilha o “sonho”, de que venha a ser realizado nos Açores um Congresso de Partidos e Movimentos Independentistas Europeus, que constituem já no Parlamento Europeu a quarta força política, incluindo forças regionais e independentistas dos diversos países da União. 
Curiosamente, ou talvez não, Portugal é o único país, em que semelhantes organizações não são permitidas. 
Nos Açores existe Autonomia Política e Administrativa, já adjectivada de vários nomes de tranquila, de progressiva, de responsabilização... Julga-se que já a adjectivaram de mais nomes. Mas a última que se pode ler, não há muito tempo, foi esta: “Autonomia sem Autonomia”. Julgo que este adjectivo se ajusta mais à realidade. Alguns até já reclamam o “regresso de Lisboa”.
Mas o testemunho de coerência, autenticidade e de carácter dos Resistentes, cujas tendências e sensibilidades diversas os tornam ainda mais motivadores, têm levado muitos açorianos e muitos que têm escolhido os Açores para viverem, a procurar saber mais sobre a CAUSA.
Façam por fazer acontecer Açores. Timor pode ser exemplo. De causa perdida e impossível, hoje realidade acontecida. Porquê? Porque Resistentes existiram. 
De notar que aos Resistentes, apesar de ideologias diferentes, une-os o Ideal Nobre da Liberdade, da Tolerância e da Inclusão. Estabelecem como fronteira um não categórico aos extremismos, usem os jargões que forem, sejam de esquerda ou de direita, incluindo a xenofobia, o racismo ou outro tipo de descriminação qualquer.    
Ventura jovem septuagenário empreendedor, líder, humanista e progressista, faz sempre por ter presente o célebre pensamento de Nelson Mandela: “Sempre parece impossível até que seja feito.”

António Benjamim

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