Ao Largo – Arte e Design, de Vítor Marques, no Largo do Colégio

“O mercado açoriano não tem muito trabalho para todos os que cá estão”

Vítor Marques, 62 anos de idade abraçou o design “desde que saiu da escola”, confessou ao nosso jornal.
O nosso entrevistado é natural do Porto e andou na Escola Secundária Artística Soares dos Reis, vivendo naquela cidade até aos 34 anos.
Desde os seus 19/20 anos que tem andado sempre envolvido em projectos de design, onde chegou a ter, inclusivamente, um atelier no Porto, Átrio Arquitecturas, desenvolvendo o seu estúdio. Depois, esteve quatro anos a trabalhar para uma empresa de mobiliário, onde era responsável e o designer da maior parte do mobiliário que eles tinham, nomeadamente para a hotelaria e lares. Depois vem para os Açores, apostando numa loja/galeria de design contemporâneo, desenvolvendo posteriormente uma série de outras actividades. Paralelamente a estas, dentro da área cultural e da produção, o nosso entrevistado tem desenvolvido mais trabalho e desenho gráfico.
De referir, que um designer é um profissional que desempenha actividade especializada de carácter técnico-científico, criativo e artístico para elaboração de projectos de design passíveis de serialização ou industrialização e que atendam, tanto no aspecto de uso quanto no aspecto de percepção, as necessidades materiais e de informação visual.

Veio para São Miguel em 1994

Vítor Marques chega a São Miguel em 1994, mas já tinha cá estado antes. “Costumo dizer que vim cá cinco vezes e à sexta fiquei. Anteriormente já conhecia a ilha, porque trabalhava para uma empresa de mobiliário e tinha decidido sair e começar a trabalhar sozinho. Na altura, havia várias hipóteses e oportunidades muito próximas do Porto, e quando me perguntaram se tinha equacionado os Açores, nem pestanejei e decidi vir”.
Dai para cá, os projectos vão surgindo “com altos e baixos. Não consigo estar muito tempo na mesma coisa e preciso de ideias novas. A Tátil funcionou muito bem, mas acho que abriu cedo demais, porque abrir uma loja contemporânea nos Açores, isto há cerca de 20 anos atrás, foi um bocado de loucura, que se manteve durante cinco anos. Depois foi uma produtora de eventos, que também durou cinco anos. Não quero agourar, mas os projectos têm durado, mais ou menos, cinco ou seis anos. Depois desse tempo, nasce um novo projecto, que me satisfaz mais, obviamente, por isso é que mudo, porque senão, não mudava”.
Muito recentemente, Vítor Marques esteve na Rua Pedro Homem, durante cerca de sete anos, na MIOLO – Galeria, conjuntamente com Mário Roberto. Estava a funcionar, não fosse a proprietária ter anunciado vir a precisar do espaço. A partir daqui, Vítor Marques meteu “mãos à obra” e encontrou o actual espaço, no Largo do Colégio. A empresa Ao Largo – Arte e Design, abriu portas há uma semana. “Este espaço é pequeno, dá para o meu trabalho e é uma nova zona”.
Em termos de afluência, “ainda é cedo para fazer grandes considerações, porque este é um tipo de negócio que funciona muito para um determinado tipo de população, nomeadamente aquela que é flutuante, os turistas”.

Os trabalhos em exposição

Por estes dias, quem quiser visitar a empresa Ao Largo – Arte e Design, vai encontrar uma exposição de cianotipia, um dos processos fotográficos antigos, assim como o lumen, outro processo fotográfico, que este designer começou a explorar mais recentemente, mas também alguma pintura digital fractal, entre outros exemplares de artistas, que não são de cá.
Neste nosso agradável diálogo, desafiamos o nosso entrevistado a revelar o que diria a quem está a pensar em ser designer gráfico, e a resposta foi no mínimo curiosa. “Diria que pense noutro mercado, porque o mercado açoriano não tem muito trabalho para todos os que cá estão, até porque há pouca aposta no design gráfico e é uma área em que quase toda a gente acha que sabe fazer alguma coisa e é mal paga. Portanto, se alguém pensar em vir para os Açores, prepare-se para uma vida mais difícil, porque não há volume de trabalho e o trabalho nem é pago pelo valor que deveria ser pago”.
“Costumo dizer, que quer na área da fotografia quer na área de design gráfico, desde que haja um computador, há sempre a tendência, das pessoas pensarem que conseguem fazer tudo, mas não é bem assim”, acrescentou.

Design gráfico de livros

Vítor Marques não produz trabalhos em casa e utiliza o espaço da  Ao Largo – Arte e Design para dar largas à sua capacidade de produção. “Faço tudo aqui, quer design gráfico assim como qualquer outro trabalho”.
Nem de propósito, antes de conversarmos Vítor Marques estava imbuído na paginação de dois livros da Editora Artes e Letras, trabalho que ultimamente tem feito nesse aspecto, em particular, que passa pela junção e trabalho gráfico de livros.
Com tanto para fazer, até há bem pouco tempo restava-lhe a direcção do 9500 Cine-Clube, tendo sido um dos seus fundadores, empresa “que está um bocado em banho-maria, ou seja, está, por agora, parada e há-de ser reactivada”.
A empresa 9500 Cine-Clube foi constituída em 11 de Fevereiro de 2010, tem a sua sede no Concelho de Ponta Delgada e exerce actividade de associações culturais e recreativas.
Fora da esfera do trabalho não perde a oportunidade de ir ao cinema e mantém o hábito de leitura.
No trabalho está das 10h00 às 20h00, mas chegou a fazer 12 horas por dia, restando-lhe muito pouco tempo. “Só não trabalho ao Domingo, mas trabalho também ao Sábado. Até Outubro fazia 12 horas, de modo que me resta muito pouco tempo, mas é como aquela expressão que diz, que uma pessoa que está motivada para um trabalho desgasta-se menos com a actividade, ou quem corre por gosto não cansa”.

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