8 de novembro de 2022

Opinião

Da Incerteza ao Apocalipse


Nunca em momento algum da história mais recente, estas palavras foram tantas vezes pronunciadas, quer por políticos, homens de negócios ou por jornalistas. 
 Até as redes sócias são “useiras e vezeiras”, até para irem confirmando as mentiras propaladas e as teorias da conspiração difundidas.
E a ameaça do abismo apocalíptico sempre presente.
Quem tenha acompanhado a comunicação social, a credível que ainda subsiste heroicamente, é confrontado com um caudal de notícias que não deve deixar as consciências indiferentes.
Antes pelo contrário, a preocupação, o temor e a angústia passam a fazer parte do quotidiano.
Para além da bárbara invasão ucraniana, por parte do monstro russo e seus sequazes, é o lançamento de mísseis balísticos por parte de outro, não menos sanguinário ditador Jong da Coreia do Norte.
Por outro lado a China de Xi Jinping, a tal dum regime dois sistemas, candidata a ser a primeira potência mundial, ameaça invadir a República de Taiwan, que reclama como parte integrante do Império do Meio.  
Tudo servido com a sempre presente chantagem duma ameaça nuclear.
A República Islâmica Xiita do Irão, dominada pelos todos poderosos Aiatolás, para além de continuar a busca por armamento nuclear, voltou a colocar as mulheres no alvo principal da perseguição desumana. 
Após a sua detenção em meados de Setembro passado, por não usar o véu como manda lei, a jovem Mahsa Amini acabou por ser assassinada às mãos da polícia. 
Os protestos não se fizeram esperar, não só no Irão mas um pouco por todo o mundo tendo os Estados Unidos e o Canadá anunciado severas sanções, enquanto a União Europeia prepara igualmente um pacote de medidas sobre os responsáveis iranianos pela dureza da repressão.
Entretanto é preciso levar a sério quando o Presidente Biden afirma que as ameaças de Putin usar outros armas que não apenas as convencionais, como a nuclear, são para ter em linha de conta.
Corre-se o “risco apocalíptico” como sublinhou o Presidente americano.
Estando encurralados os ditadores são capazes de tudo.
É o velho aforismo bíblico “ morra Sansão e todos os que aqui estão”.
 Para além das ameaças das alterações climáticas e do aparecimento de novos surtos epidémicos, os “vampiros” dos grandes negócios bilionários, à margem das regras e leis do livre mercado, continuam e proliferam, estando-se nas tintas para as incertezas e Imprevisibilidades deste nosso tempo.
 A este propósito o jornal Correio dos Açores, na edição do passado dia 7 de Setembro, transcrevia com grande oportunidade, uma entrevista concedida à Rádio Renascença, pelo jornalista da Blomberg, Javier Blas  um dos autores, em parceria com Jack Farchy, da obra “ O Mundo à Venda”. 
Obra de leitura obrigatória.
São negócios que se desenrolam na sombra, através de grupos empresariais constituídos, cada qual, por escasso número de personalidades.
Dedicam-se à venda das denominadas “commodities”, isto é, mercadorias produzidas em larga escala e utilizadas como matérias - primas para a produção de bens industrializados.
Vão desde carne, milho ou soja passando pelo petróleo, gás natural, madeira e até água.
Para empreendedores sanguessugas, tudo é uma oportunidade de negócio.
Como esclarece Blas, “ eles negoceiam com todos os tipos de regimes e em todos os cenários, até conflitos armados… Eles não querem saber de política, fazem negócios com ditadores de esquerda ou de direita… Negoceiam com vermelhos ou azuis, a única cor que lhes interessa é o verde das notas do dólar”.
Como seria de esperar têm vindo a constituir um dos principais aliados de Vladimir Putin, desde 2014 a quando da invasão e anexação da Crimeia.
Apesar das sanções estes agiotas e piratas do século XXI, continuam a movimentar matérias -primas russas para os mercados internacionais.
Blas, quando perguntado o que fazem os reguladores europeus, responde que não estão em lugar nenhum, quando se trata da negociação de matérias - primas, ainda estão a tentar descobrir o que está a acontecer para começarem a regular.
A 7 e 8 de Outubro reuniram em Praga 44 países europeus, com excepção da Rússia e da Bielorússia, denominada Comunidade Politica Europeia.
Como seria de esperar nem todos aderiram a uma unanimidade de posições. 
Será que na agenda estava a temática do mercado global das matérias – primas?
Contudo, louva-se a iniciativa, já foi um passo importante para fazer frente ao Império Russo.
Entretanto os dramas ucranianos, a cada dia, entra-nos para casa dentro.
Não deixou ninguém indiferente o desabafo angustiante do jovem ucraniano Nazar Shyshenko, que depois do bombardeamento da sua aldeia, chorando exclamava perante o que sobrava do que tinha sido a sua moradia, “ agora quase não é uma casa”.   
Da incerteza da crise à imprevisibilidade do medo e do ódio.
Voltaram a entrar no léxico e a serem normalizadas palavras como Apocalipse ou Armagedão.
António Benjamim

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