Docentes trocam experiências na Universidade dos Açores para tornar os seus alunos mais críticos e criativos com novas aprendizagens

 Correio dos Açores - Qual o objectivo da existência do NICA - Núcleo Interdisciplinar da Criança e do Adolescente?
Ricardo Teixeira (Professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade dos Açores) – O NICA foi criado com o objectivo de se centrar na investigação em Educação, abrangendo crianças, jovens e adolescentes, isto é, toda a faixa etária correspondente à educação pré-escolar e o ensino básico e secundário. O NICA foi criado com um princípio muito importante, o da interdisciplinaridade. Nós integramos, no núcleo, docentes e investigadores de diferentes áreas ligadas à Educação: temos as Ciências da Educação em geral, a área da Matemática, da qual sou um dos membros, a área da Filosofia para crianças, a área da Linguagem Oral e abordagem à Escrita, ou seja, da língua portuguesa, e a área da Psicologia.
A ideia é ir ao encontro, numa lógica mais arejada e adequada, do que o ‘perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória preconiza’. Este é um documento, lançado pelo Ministério da Educação em Portugal, cuja pretensão é nortear toda a prática educativa, desde a educação pré-escolar até ao ensino secundário, e que lança uma série de dinâmicas, uma das quais é as áreas não estarem estanques. No fundo, pretende-se que as crianças e os jovens trabalhem a Matemática em articulação com o Português, bem como com outras áreas, e vice-versa. Neste sentido, quando fundámos o NICA, o propósito foi juntar colegas investigadores que se dedicam à investigação em educação, em diferentes áreas, para ser mais enriquecedor.
O CICA - Congresso Internacional Interdisciplinar da Criança e do Adolescente foi criado, precisamente, com a missão de proporcionarmos, uma vez por ano, um encontro, com convidados nacionais e internacionais que possam falar de diferentes temas. Em todas as edições existe um tema central e, a partir daí, os oradores fazem uma abordagem de diferentes perspectivas, em áreas distintas, para enriquecer o público que assiste ao CICA.

Quem é o público-alvo?
O público que, normalmente, assiste ao CICA são os educadores de infância e os professores dos ensinos básico e secundário. Além destes, os nossos alunos da licenciatura em Educação Básica e de mestrado em Educação Pré-escolar e Ensino do Primeiro Ciclo do Ensino Básico também costumam assistir. Pretende-se que tanto professores da escola, como alunos da universidade, que vão ser futuros professores e educadores, possam ter uma perspectiva mais interdisciplinar. O evento é certificado pela Direcção Regional da Educação como formação creditada, pelo que os professores e educadores têm os seus créditos.
Creio que, no futuro, teremos mais potenciais interessados em participar no CICA, tendo em conta que abriram mais mestrados em ensino na Universidade dos Açores, os quais arrancarão muito em breve. Esta aposta de formação de professores em áreas carenciadas por parte da Universidade dos Açores, em articulação com o Governo Regional, tem por base a reforma eminente, em poucos anos, de muitos professores dos ensinos básico e secundário, o que gerará muitas carências a nível de docentes.

Que balanço faz da edição deste ano?   
Todas as edições do CICA têm uma temática diferente e todas as áreas se congregam em torno desse tema. A título de curiosidade, as outras edições foram: CICA I – “Olhares sobre a Infância”; CICA II – “Literacias no Século XXI”; CICA III – “Contextos de Aprendizagem”; CICA IV – “Diversidades”; CICA V – “Vamos brincar?!”.  
Esta é a sexta edição e o tema foi “À Roda dos Problemas”. O primeiro CICA foi em 2016 e, a partir daí, fazemos um por ano, à excepção do ano de 2020 devido à pandemia. Os dois últimos anos foram feitos em regime híbrido de sessões presenciais com sessões à distância, através de videoconferência. Optámos que as conferências e as comunicações livres funcionassem em videoconferência, o que foi interessante, pois fez com que pudéssemos contar com oradores e participantes das comunicações livres de diferentes nacionalidades e espaços geográficos. Por exemplo, o professor Sílvio Gallo, do Brasil, foi um dos convidados. Ele é da área da Educação e Filosofia, e pertence à Universidade Estadual de Campinas no Brasil. Ora, este formato possibilitou-nos contar com a sua comunicação, o que, de outra forma, seria impossível, visto que ele não se podia deslocar do Brasil para os Açores. O mesmo ocorreu com Álvaro Magalhães, um conhecido escritor de livros juvenis como “O Estranhão”, que também conseguiu participar a partir da sua residência no continente. Tivemos, ainda, a professora Ana Cristina Almeida, da Universidade de Coimbra, psicóloga, que partilhou a sua investigação à distância, bem como a professora Margarida Martins, professora catedrática do Instituo Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida de Lisboa, já aposentada, que igualmente participou à distância. Além disso, tivemos uma série de comunicações livres de pessoas que estavam em Castelo Branco, no Brasil, entre outros locais, e que puderam partilhar as suas intervenções connosco.

As videoconferências constituíram uma vantagem, portanto…   
Nós consideramos que é uma vantagem. A nossa preocupação inicial foi, particularmente o ano passado, que alguma vaga pandémica impedisse a deslocação dos nossos convidados por via aérea aos Açores. Por isso, decidimos introduzir esse sistema híbrido de as conferências e as comunicações livres serem feitas à distância.
Ademais, fizemos quatro workshops presenciais, divididos por dois Sábados. Como são workshops práticos, os nossos participantes puderam “pôr a mão na massa” e experienciar actividades interessantes e apelativas.
No primeiro Sábado, fizemos uma gallery walk, isto é, um passeio numa galeria de arte, em que a arte eram cartazes com a resolução de problemas de matemática. Esta dinâmica foi introduzida pelas oradoras e professoras do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Isabel Vale e Ana Cristina Barbosa. Foi algo muito interessante, e os professores e educadores podem levar essa dinâmica para as suas salas. De facto, esta é uma dinâmica mais apelativa, onde os alunos são convidados a resolver, em grupo, um problema. De seguida, colocam a sua resolução num cartaz e, posteriormente, os cartazes são expostos como se fosse uma galeria de arte. Por sua vez, os alunos vão vendo as resoluções e colocam em post-its as suas observações e sugestões para os colegas. No final, cada grupo observa as sugestões que recolheu nos post-its e é feita uma reflexão. Cada grupo reflecte sobre as sugestões que foram dadas e como pode fazer melhorias no futuro, o que além de incentivar a comunicação, incentiva o espírito de colaboração.
O outro workshop, proferido pelo professor Tiago Almeida, que pertence à escola superior de educação do Instituto Politécnico de Lisboa, centrou-se na filosofia para crianças e assentou numa série de dinâmicas com cartazes em cima de umas mesas, onde, através de palavras-chave, os grupos comentaram as mesmas, fazendo uma apresentação final.           
No segundo Sábado, tivemos Ivete Azevedo, que pertence ao Torrence Centre, que se focou sobretudo na criatividade, concretamente em como podemos ser criativos a resolver problemas que surgem no dia-a-dia. Ela apresentou vários desafios práticos, incluindo um exercício em que algumas pessoas estavam enroladas nuns fios e tinham de se desenrolar. O outro workshop foi pela professora Maribel Pinto, da Universidade Aberta, e trabalhou a robótica. Tivemos muitos robôs e muitas dinâmicas de como resolver problemas, com robôs a percorrerem percursos e a desenvolverem certas tarefas.

Qual o feedback dos participantes?
Os participantes gostaram, o feedback foi muito positivo. Na reportagem fotográfica do portal de notícias da Universidade dos Açores, temos o registo de alguns comentários deixados por professores e educadores numa cartolina grande.
No âmbito dos problemas, chegou-se à conclusão que os matemáticos procuram resolver os problemas, enquanto que os filósofos procuram criá-los. Foi muito interessante ver que as diferentes áreas podem colaborar entre si, uns a resolver, outros a criar problemas. Foi muito aliciante esta partilha.

Há algo mais que queira acrescentar?
Gostaria, ainda, de referir que o documento ‘o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória’ aponta dez áreas de competências que são esperadas que os alunos desenvolvam no decurso da sua formação e que saiam dotados dessas competências no 12º ano.
Com a evolução tão acentuada a que estamos a assistir no século XXI, provavelmente, há profissões que vão deixar de existir, pois serão desenvolvidas por meios informáticos ou mecânicos, e há outras que vão surgir. O documento ‘o perfil do aluno à saída da escolaridade obrigatória’ pretende preparar os alunos para essa novidade, para que sejam indivíduos com espírito crítico, criativo que saibam resolver problemas, entre outras.
Neste documento constam, ao todo, dez áreas de competência, sendo que uma delas é o raciocínio e resolução de problemas, uma área estruturante geral para todo o currículo.

Carlota Pimentel  

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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