Num dos debates levados a cabo na Assembleia Legislativa Regional, tendo em consideração a discussão do Plano e Orçamento de 2023 para os Açores, o Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural adiantou que o número de espécimes de pombos-torcazes e rolas-turcas nos Açores tem vindo a levantar várias preocupações entre os agricultores em praticamente todas as ilhas do arquipélago.
“No nosso entendimento, temos uma população com uma dimensão que está a provocar estragos e prejuízos ao rendimento dos agricultores, quer do pombo-torcaz, quer da rola-turca, especialmente na época das sementeiras dos cereais e do milho”, adianta António Ventura, salientando que por estas serem duas espécies protegidas através da Directiva das Aves, que pretende proteger e conservar as aves selvagens na União Europeia, não estão contempladas no calendário cinegético, sendo por isso impedida a sua caça.
Porém, tendo em conta as “várias queixas de agricultores de quase todas as ilhas relativamente a estas duas espécies que têm chegado à Secretaria Regional”, e tendo sido estabelecida uma parceria com a Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, está a ser trabalhada a hipótese de implementar um controlo populacional desta espécie, tornando assim necessário reunir alguns dados para apresentar em Bruxelas, “através da abertura de um período excepcional (de caça) relativamente a estas duas espécies”, adiantou o Secretário Regional.
Inclusive, conforme refere, o assunto vai ser levado a Bruxelas “o mais rapidamente possível”, assim que terminem de ser realizados os censos que irão determinar aproximadamente a dimensão das populações de cada uma das espécies já vistas pelos agricultores como pragas, e assim que sejam reunidos dados pela Federação Agrícola dos Açores referente a estragos que estes pássaros têm vindo a provocar nas plantações.
A intenção de levar este tópico à Comissão Europeia tão cedo quanto seja possível prende-se com o facto de se aproximar a Primavera, altura do ano em que, tal como no Outono, são realizadas sementeiras – que satisfazem os principais desejos destas aves –, de forma a evitar que se “avizinhem novos estragos”.
Em acréscimo, também o aumento do custo dos factores de produção na agricultura tem vindo a tornar esta medida mais urgente, exigindo que se “actue com profissionalismo” nesta questão, relativamente ao controlo da população de aves em questão.
Em relação às principais queixas de agricultores açorianos que têm chegado à Secretaria Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural, António Ventura realça que, entre elas, está o facto de existirem agricultores que “semeiam duas vezes o seu campo por conta disto”, uma vez que grande parte das sementes é devorada pouco tempo depois de cair na terra, ano após ano.
Ainda assim, alerta que o objectivo do Governo Regional e dos agricultores de uma forma geral não é o de levar estas duas espécies à sua extinção, mas sim o de controlar a sua população: “É uma preocupação nossa, mas nós não queremos acabar com a espécie, queremos é controlá-la de maneira a que todos possam viver, quer a agricultura, quer as rolas-turcas quer os pombos-torcazes. (…) Tudo sobre a necessidade de controlo tem que ser justificado à Comissão Europeia, e, por isso, estamos a fazer um relatório de todos os estragos existentes para que possa, de facto, haver um suporte justificativo técnico para este controlo populacional”.
Mesmo tendo em conta a frustração que muitos agricultores sentem neste momento, António Ventura afirma que não existem abates ilegais destes espécimes, e que os agricultores têm lidado com a situação “ressemeando os campos e colocando sons de alerta ou espantalhos” para afugentar estas aves. Questionado se, para além dos campos, também a horticultura ou a fruticultura têm sido afectados pelo apetite destes dois pássaros, o Secretário Regional da Agricultura e Desenvolvimento Rural refere que existem menos queixas quando em comparação com a questão das sementeiras de Primavera e de Outono.
Apesar de o pombo-torcaz ter uma existência muito mais duradoura nos Açores, sendo reconhecida no arquipélago desde o início do século XX, as rolas-turcas “multiplicaram-se nos últimos anos de uma forma incrível”, havendo ainda indícios, conforme referiu António Ventura, de que “as rolas estão a afastar outras espécies, ocupando o lugar delas”.
No futuro, o Secretário Regional admite que pode vir a ser realizada mais investigação neste domínio, nomeadamente através da Universidade dos Açores ou de outras organizações dedicadas ao estudo das aves, mas ressalvou que “o que interessa agora é perceber que, tecnicamente, há uma dimensão que prejudica a agricultura. Depois poderemos avançar para outras e avançar depois para outras situações de controlo das espécies de forma mais demorada, mas o mais urgente é controlar estas espécies”.