Dois irmãos de 50 e 42 anos de idade, moradores no concelho da Ribeira Grande, começam amanhã a ser julgados pelo crime de homicídio na forma tentada. A vítima foi outro dos nove irmãos desta família que acabou por falecer no Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada (HDES), uma semana após ter sido agredido, no dia 29 de Julho de 2020, à porta da casa da mãe, num bairro localizado na freguesia da Matriz.
A motivação para as agressões, que ocorreram pelas 13h30, terá sido o facto do falecido, consumidor de estupefacientes, ter ameaçado verbalmente e agarrado a mãe anteriormente nesse dia, exigindo que esta lhe desse dinheiro para a compra de droga. Aliás, no processo consultado pelo nosso jornal, encontram-se outras queixas de violência doméstica e de agressões perpetradas pelo homem que, à data da sua morte, tinha 45 anos de idade.
Os dois irmãos que se vão sentar no banco dos réus, ambos trabalhadores da construção civil e que na altura dos factos viviam num anexo da moradia da mãe juntamente com uma irmã, alegam que tiveram de sair de casa porque o seu irmão ameaçava repetidamente a progenitora, fazendo uso de facas e outros objectos, no sentido de esta lhe dar dinheiro para os seus consumos. Estes dois irmãos não têm quaisquer antecedentes criminais. Por outro lado, como já anteriormente referido, o falecido era conhecido do sistema judicial, tendo cumprido pena de prisão por ter esfaqueado outro homem na garganta e pendendo ainda sobre ele, à data da sua morte, processos de agressões a um sobrinho e ao irmão de 42 anos.
Voltando ao relato do ocorrido no dia 29 de Julho de 2020, a mãe da vítima confirmou, em depoimento prestado à PSP da Ribeira Grande, que o filho a tinha injuriado e proferido ameaças de morte, revelando mesmo que este dormia sempre com uma faca debaixo da almofada. No dia em questão, pela hora de almoço, afirmou ter ouvido uma discussão, onde vislumbrou a vítima empunhando uma faca e o filho de 50 anos um pau (cabo de enxada). Após o mais velho ter desferido um primeiro golpe na cabeça e, já fora da habitação onde se encontrava o outro dos arguidos (filho de 42 anos), a progenitora referiu que o outro filho continuava a empunhar a faca em posição de ataque. De seguida, os irmãos bateram na vítima na zona nas pernas, braços e cabeça até que este caiu e largou a faca. O facto de os dois irmãos terem continuado os golpes após a vítima cair inanimada é alvo de versões contraditórias por parte das testemunhas. A mãe referiu que os filhos estavam em fúria e realçou acreditar que a vítima era capaz de a esfaquear e aos dois arguidos. A situação foi presenciada por vários moradores no bairro e a vítima, que se encontrava a sangrar de forma abundante, foi posteriormente transportada para o HDES, onde foi colocado na Unidade de Medicina Intensiva. No dia 5 de Agosto, este homem acabaria por falecer na sequência de uma paragem cardiorrespiratória. O relatório de autópsia não estabelece qualquer relação entre as lesões das agressões e a morte do homem.