22 de novembro de 2022

Opinião

Bolha Mediática

 


Demagogia a rodos impulsionada pela vertigem das redes sociais. 
A ânsia de acompanhar a sua difusão disruptiva é evidente.
Na comunicação social privada essa postura é notória. 
Principalmente no áudio – visual, quiçá pressionado pela obtenção de resultados financeiros favoráveis e suficientes para rentabilizar o capital investido.
Quem está a ganhar a luta pela credibilidade da mediação entre a verdade e a mentira?
A luta permanente pela existência da liberdade de uma informação credível, deveria ser prioritária.
Se já não bastasse a incompetência dos políticos responsáveis pela regressão das democracias.
A Democracia foi responsável por décadas de desenvolvimento e progresso das populações, aproveitando com sabedoria e bom senso, as virtudes do liberalismo e da globalização.
A partir do inicio deste século, os democratas deixaram-se inebriar pelo grande capital ganancioso e egoísta, descurando a função social até então nuclear nas opções políticas.
Contribuindo para o aumento das desigualdades e potenciando o ressurgir dos fantasmas autocráticos e populistas derrotados na segunda guerra mundial.
Para o sucesso desses títeres, nesta última década, no auge do digital, muito têm contribuído as redes sociais, veículo da ascensão de próceres candidatos a ditadores.
Mas para engrossar esse efeito nefasto, obstando a renovação da democracia, muito têm contribuído as bolhas mediáticas da comunicação social tradicional, impressa, áudio ou visual.
Alimentadas por comentadores, bem pagos, omnipresentes, arrogantes, respirando petulância e excessos desmedidos duma mal disfarçada falsa sabedoria.
Obedecem à “voz do dono”. Comentem tudo e todos. Na ânsia de protagonismo de primeira página e de abertura de telejornais em horário nobre, caem por vezes em escandalosas contradições.
Alinhando, inconscientemente ou talvez não, com o discurso demagógico de “os políticos são todos iguais “, apenas estão a alimentar narrativas populistas daqueles que, descredibilizando a política, não descansarão enquanto não destruírem a Democracia e a Liberdade. 
Resta-nos o jornalismo e o fotojornalismo da verdade dos factos, vítimas dos algozes da Democracia.
Têm sido algumas centenas os jornalistas assassinados.
Jamal Khashoggi , jornalista do Washington Post estrangulado e esquartejado em 2018 no consulado da Arábia Saudita em Istambul, por agentes sauditas.
A guerra da Ucrânia tem ceifado a vida a vários jornalistas, caídos na nobre missão de informar os horrores e a carnificina provocada pelos criminosos bombardeamentos russos sobre cidadãos indefesos, não poupando a vida de crianças e idosos.
Os últimos foram o americano Peter Zakrzewski, alvejado nos arredores de Kiev, e a ucraniana Oleksandra Kuvshynova,
Contam-se até à data pelo menos 14 jornalistas e operadores de câmara mortos no cenário de guerra ucraniano, no cumprimento do dever de informarem com verdade e imparcialidade. 
Há que relevar o profissionalismo talentoso de fotojornalistas como o português Mário Cruz, cuja última obra retrata, em documentos únicos, as centenas de famílias que vivem nas margens do rio Pasig nas Filipinas.

Trata-se do rio mais poluído do mundo, para onde todos os anos são depositadas mais de 30.000 toneladas de lixo. A densidade da poluição é tal, que se torna possível atravessar o rio de uma margem para outra a pé.

Cabe aqui, igualmente, louvar a jornalista da televisão pública portuguesa Cândida Pinto, pelas corajosas reportagens no terreno sobre a guerra da Ucrânia.
Tendo recebido merecidamente o prémio Mário Mesquita da Sociedade Portuguesa de Autores.
Contrariando tudo isto, temos as chamadas “bolhas mediáticas”.
Que acontecem, por exemplo, quando alguns canais de televisão generalistas, imitando-se produzem as mesmas noticias, que em nada interessam ao cidadão comum, e ao que parece, procuram apenas seguir as grandes tendências das redes sociais.
É a guerra das audiências que está em jogo.
 Desta forma o jornalismo de verdade anula-se, transfigurando – se num mero repositório de lugares comuns, na opinião dum consagrado jornalista.

Em Portugal, desenganem-se aqueles que acham que a subida vertiginosa da extrema - direita, que já é a terceira força política, é apenas um fenómeno passageiro. 
Não há como não concordar com alguns analistas, que são de opinião que o populismo radical de direita veio para ficar. 
Têm um “eleitorado que existe, de facto, no país e não é só de protesto, sempre existiu escondido entre os eleitores do PSD e do CDS”.
É um logro pensar-se que Portugal iria ficar imune ao fenómeno. Quando a existência da extrema - direita prolifera por toda a Europa e já é governo em alguns países.
Aqui, uma vez mais as bolhas mediáticas têm sido aliadas, indiferentes à censura da consciência ética e republicana, dos que ainda a não perderam . 

 António Benjamim

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