...E a resposta for afirmativa, a pergunta que se impõe é, porquê?
Antes de ir ao encontro de algumas respostas, cabe aqui e agora, e nunca é demais, uma referência à heroicidade do Povo da Ucrânia e do seu corajoso líder Volodymyr Zelensky.
Lutam dia após dia pela Democracia e pela Liberdade, contra a tirania despótica de Putin.
É um dever de cidadania ser-se farto no elogia e parco na critica, ademais quando é destrutiva.
São os valores da ética e da moral, para além da legalidade internacional, que estão em causa.
Quando envergonhadamente, os mesmos do costume, demagogos e populistas, lá vão tentando encontrar argumentos contra.
Porque as democracias se vão posicionando num plano inclinado, correndo o risco de soçobrarem às mãos sanguinárias dos autocratas, candidatos a ditadores.
Alguns cientistas políticos de renome internacional, têm vindo a defender que a crise mais séria relaciona-se com o colapso da democracia – cristã, do liberalismo e da social – democracia.
Com maior relevo no sistema político europeu.
Estas ideologias foram de grande sucesso após a segunda guerra mundial, mesmo que defendendo o capitalismo e a economia de mercado, funcionavam como válvulas de contenção entre “ a brutalidade do mercado e a necessidade de um certo bem - estar social da população”.
A partir da crise financeira de 2008, e quando a prioridade foi para os bancos, assim como os estados mais poderosos como a Alemanha e a França, passaram a utilizar a crise para imporem o seu controlo.
Passou a assistir-se a uma maior conexão entre políticas pró financeiras, ao aumento dos conflitos entre Estados, o que muito tem vindo a contribuir para a cada vez mais visível perda duma identidade europeia.
Embora com a pandemia e a actual guerra da Ucrânia, as posições tenham vindo a ser revertidas, o mal já lá estava, e a sua regressão tende a ser cada mais difícil.
O economista francês Olivier Bouin, referindo-se ao fim do modelo económico de mercado que norteou os primórdios da União Europeia, afirma:
“A Europa hoje é muito mais heterogénea. Da economia social de mercado evoluiu para a economia capitalista de mercado, e a partir de 2000 para a sociedade capitalista de mercado”.
Muita da classe operária das grandes cinturas industriais das grandes urbes, assim como determinada classe média, foram ficando para trás.
Do tradicional voto à esquerda passou a alimentar a subida da direita e da extrema-direita.
Por outro lado, Michel Wieviorka, professor da Escola de Altos Estudos em Ciência Sociais, de França, enfatiza:
“A Europa atravessa uma crise com diversas causas, política, económica, cultural, intelectual e moral. Trata-se dum facto social total”.
E acrescenta:
“As migrações e as crises dos refugiados, a questão do islamismo, do terrorismo, a composição dos recentes governos na Hungria e em Itália…, demonstram a incapacidade da Europa. Os valores europeus, do humanismo, os valores universais estão cada vez mais fracos…”.
Em países como os Estados Unidos ou o Brasil, as correntes extremistas de direita fervorosas adeptas do autoritarismo, alimentadas pelas redes sociais manipuladores estão a tornar-se cada vez mais atraentes para o cidadão médio, que ao invés de pugnar pelo seu dever cívico democrático, optam pelo facilitismo demagógico e preconceituoso, bem enquadrado pelo medo e pelo ódio ao outro.
De várias leituras efectuadas sobre as crises da democracia, incluindo os dois cientistas citados, fica-se com a percepção que na sua origem estão razões estruturais afectas ao próprio sistema democrático.
Nomeadamente às políticas económicas e sociais assumidas.
Não só se poderá assacar essa responsabilidade aos partidos políticos, mas igualmente se poderão incluir nessa análise instituições como a Igreja, a Escola, a Família, o Sindicalismo ou até a Comunicação Social, assumindo a cultura um papel chave.
As instituições mencionadas, não têm estado atentas à integração de estratos sociais, que têm vindo a perder dignidade, para além do descalabro no seu modo vida, que vinham experienciando.
No “fim do dia” quem tem vindo a substituir esse espaço abdicado pelos democratas, são os autocratas.
Personificados pelos chamados “homens-fortes”, apoiados por uma bem oleada máquina de propaganda.
Astuta e demagogicamente têm manipulado as instituições democráticas, adaptando - as de forma a se perpetuarem no poder.
Os exemplos abundam. Os mais emblemáticos são o de Örban na Hungria, que fez aprovar leis que lhe permitem governar por decreto, passando por cima do Parlamento.
Putin mudou a constituição Russa para poder ser presidente até 2036, silenciando toda a oposição.
Viver em democracia não é fácil. Requer um trabalho árduo e consequente.
Estará a cidadania activa preparada para não deixar a Democracia e a Liberdade entrarem em colapso?
António Benjamim