O Presidente do Grupo SATA, Luís Rodrigues, surpreendeu a audiência do Congresso da APAVT com as suas intervenções no painel. “Talvez tenha sido necessário vir alguém de fora – que não tem uma visão espartilhada de ilha a ilha – para conseguir tentar criar aqui alguma unicidade. Há bocado estava a comentar com o Paulo Madruga uma expressão um bocado violenta, mas que tenham paciência comigo,: Os Açores só existem para quem não vive cá. Talvez já tenham visto aquele anúncio da Finançor das bolachas Mulata, que diz: “E não te irritas quando te perguntam se és da ilha dos Açores?”. A ilha dos Açores não existe como todos sabem. Existe um arquipélago. E, portanto, os Açores só existem para quem não vive cá. Nós, no continente, temos esta consciência dos Açores. Os da minha geração aprenderam o nome das ilhas todas. Acreditem que os meus filhos e netos (tenho sete), ninguém ouviu falar dos nomes das ilhas. Para eles os Açores são uma realidade que está lá longe. E quando se chega cá percebe-se que, de facto, há um campeonato entre ilhas e uma disputa entre ilhas que, depois, acaba por consumir muitos recursos, muita energia, muito dinheiro, quando devíamos todos estar a trabalhar para o mesmo caminho que é a unidade do arquipélago, preservando, obviamente, a identidade de cada ilha. Todas as ilhas são diferentes. Preservando cada ilha do arquipélago e andando para a frente com a Região”.
“Eu acho que, se calhar”, prosseguiu Luís Rodrigues, “era preciso vir alguém de fora para, não estando “contaminado” com esta visão ilha a ilha, olhar para isto como um todo. E o mérito da equipa toda, da equipa que nos acolhe , também foi um bocado este, foi aceitar que, sim, não vale a pena estarmos aqui com guerras, com disputas. Temos de gerir isto no dia-a-dia, faz parte mas devemos todos trabalhar para o bem comum até porque a SATA tem um papel que, em termos de objecto é muito próprio. O objectivo da economia é maximizar o lucro e o papel da SATA não é maximizar o lucro. O papel da SATA é maximizar o serviço prestado à Região, entre as várias ilhas, desde que seja sustentável. Esta é uma coisa que em matemática existe. Maximizar uma função sujeita a alguns parâmetros e o parâmetro aqui é ser sustentável. Perder dinheiro sistematicamente não é opção porque isto é mau para toda a gente,”, afirmou.
“ E, portanto”, realçou, “o grande desafio foi este: foi conseguir ter esta visão do todo, foi conseguir trabalhar todos em conjunto para o mesmo fim. O mérito de chegarmos aqui não é do Conselho de Administração, é de todos termos trabalhado para o mesmo fim na Região, os vários autores, políticos, sociais, económicos e, particularmente, em termos da companhia”.
“E, portanto, o que eu espero e o que eu desejo é que, com este crescimento que a Região está a ter a nível de economia em termos de projecção turística, que está a beneficiar a SATA e que a SATA está a promover, numa relação mútua, corra bem para todos”, afirmou.
E acrescentou: “nós temos, obrigatoriamente, um desafio de promover o crescimento uniforme de todas as ilhas. Estamos em São Miguel, podia estar no Corvo, podia estar em Santa Maria, podia estar no Faial, podia estar onde quisesse. O objectivo é promover o crescimento de todas as ilhas. Já me sinto bastante açoriano e quero frisar isto, açoriano, não é micaelense. Não é faialense, é açoriano e isto é muito importante para toda a gente”, realçou.
“Só aprende quem erra”
Noutra momento, o Presidente do Grupo SATA foi ainda mais surpreendente. Começou por dar duas notas prévias: “Eu comecei a lidar com os temas da identidade dos Açores no primeiro dia que pôs cá os pés. Fui ouvido no Parlamento no Faial. Cheguei ao aeroporto e havia um carro com motorista que me levava para o Parlamento. E, como bom português, o que fazem duas pessoas desconhecidos num carro? Falam de futebol. O Santa Clara estava particularmente bem naquele ano. E a minha primeira pergunta foi: Então, o Santa Clara está a correr bem. E o senhor vira-se para mim e questiona: Santa Clara? Santa Clara não é dos Açores, Santa Clara é de São Miguel… (Risos). E eu pensei: Óh diabo, isto vai ser diferente do que eu imaginava”.
E Luís Rodrigues prosseguiu, agora a propósito do tema de sustentabilidade quando “começou a ser um tema quente na indústria e quando nós todos (companhias aéreas) fomos convocados pela indústria para começar a discutir estes temas e, com a Comissão Europeia, houve uma grande explicação do que era preciso fazer. Todas as iniciativas, de todas as verbas que era preciso gastar e por aí fora. E, depois, houve uma nota no fim que era: “Bom, mas vocês companhias aéreas, em regiões ultraperiféricas, estão isentos disto tudo por causa da vossa condição ultraperiférica. E a minha reacção foi era só o que faltava. Tem que ser exactamente ao contrário. Vocês nunca foram aos Açores. Vocês nunca viram aquela natureza e aquele verde. Nós vamos fazer este investimento porque temos de ser coerentes com a identidade da Região. Eu não quero estar à esmola de ser ultraperiférico e de não ter de fazer isto. E, portanto, este tema para nós, continua a ser muito importante e relevante”.
O Presidente do Grupo SATA procurou, depois, ir ao encontro da questão que lhe foi colocada. “Eu, de facto, acho que em Portugal, na generalidade, fala-se de mais e faz-se de menos. É um problema que esperámos que vamos conseguindo corrigir com o tempo. A história do aeroporto é ridícula e é um exemplo disto. Fiquei muito feliz quando vi que o mote do congresso era fazer. E, na realidade, quando nós nos deparamos aqui com as condições em que a companhia aérea estava e com o Covid que enfrentamos, a única opção seria: não temos tempo para pensar, é fazer, fazer, fazer. Quanto mais fizermos, mais vamos errar, mas também mais vamos acertar e mais vamos aprender. E, portanto, a única forma de andar para a frente é fazer, fazer, fazer, aceitar que fizemos um erro, dar a cara, partilhar isto perfeitamente. É uma obrigação da aviação, dar sempre a cara pelos erros que se fazem para que todos possamos aprender connosco e corrigir rapidamente. Neste capítulo, qual foi a estratégia? Havia muita discussão sobre isto, mas uma delas foi vamos fazer. Amanhã parámos e reavaliamos o que fizemos. Corrigimos se tivermos de corrigir, senão continuamos para a frente.”
Mas, concluiu, “isso passa-se também aqui em relação ao tema de desenvolvimento sustentável das ilhas e de tudo aquilo que é necessário fazer. Aprender a fazer, aprender a fazer. Se não fizermos e não errarmos, ninguém aprende nada não fazendo”. (…)
“E, portanto, só quando batemos com a cara e nós batemos muitas vezes e temos muitos erros cometidos e temos muita coisa para corrigir, é que conseguimos aprender, fazer e andar para a frente”.
E quando Luís Rodrigues terminou, foram muitos os aplausos enquanto o Presidente do Grupo SATA se mostrava surpreendido e perguntava: “A sério?”
João Paz