13 de dezembro de 2022

Opinião

III – Infâmia, Ignomínia, Indignidade

 


… E assim vai o Desporto-Rei…
Futebol, desporto de milhões de adeptos, uma vez mais instrumentalizado quer pelos políticos, quer pela elites económicas e financeiras.
Direitos Humanos? Cai na real, meu!
É a “realpolitik”, estúpido, de que falava Henry Kissinger. 
Direitos das minorias étnicas, das mulheres, dos emigrantes, dos homossexuais, da liberdade de expressão? 
Depois logo se vê…
Há que ser pragmático e realista. Os tempos não estão para filosofias e poesias  
E os interesses nacionais? E os negócios? Se não formos nós outros o farão.
Como obter dinheiro para os investimentos e fazer crescer o País?
E os nossos clubes de futebol onde irão encontrar dinheiro para sobreviverem?
Mesmo que seja manchado do “sangue de inocentes”? 
É falso! São tretas da Amnistia Internacional ao serviço de certa esquerda.
Há acontecer tratam - se de efeitos colaterais.  
… Ou quando o dinheiro compra tudo. Até as almas dos melhores crentes.
E assim se vai minando os alicerces duma Democracia sólida capaz de dar resposta aos anseios populares.
Jogadores de futebol, os gladiadores do século XXI. É o mundo em que vivemos.
Qatar, país que só se libertou do jugo Inglês em 1971. Rico em petróleo e gás natural.
Há mais duma década este pequeno país de apenas 11.500 quilómetros quadrados, com uma população de cerca de três milhões de habitantes dos quais 80 % são estrangeiros, sem nenhuma tradição para a prática do futebol, candidatou-se a realizar em 2022 o campeonato mundial desta modalidade e ganhou. 
Preteriram as famosas corridas de camelos, onde eram campeões.
Processo desde o inicio envolto em polémica, com acusações de corrupção, jogos políticos e de interesses instalados. 
Uma vez mais a ganância e o dinheiro a prevalecer sobre a ética e a moral.
Os direitos humanos eram subalternizados. A democracia e os valores sofriam um profundo revés.
Acontecia que mais um regime despótico, plutocrata e desumano levava a melhor.
O futebol era novamente colocado ao serviço de interesses inconfessáveis, como se tem vindo a assistir, desde que esta prática desportiva inventada nos finais do século XIX pelos ingleses, se começou a popularizar pelo mundo fora movimentando biliões.
Mundial “comprado” por 222 mil milhões de euros. O mundial de 2014 realizado no Brasil tinha custado 15 mil milhões.
O Qatar já tinha dois ex-líbris que o projectavam pelo mundo fora, como a sua companhia de aviação “ Qatar Airways” detentora duma frota de luxo da última geração e da estação televisiva “Al Jazeera”.
Poderá juntar agora a realização do Mundial de Futebol de 2022. 
2014. Concessão rodeada em corrupção, envolvendo o presidente da FIFA da altura Joseph Blatter.
 2022. É esta mesma polémica personagem que veio agora admitir que a escolha do Qatar foi um erro.
Aproveitando a oportunidade para denunciar, para além do Presidente francês Nicolas Sarkozy, a antiga estrela do futebol gaulês e na altura presidente da UEFA Michel Platini.
Deixaram-se “ comprar” pelos milhões de euros do homem forte do Qatar xeque Al-Thani.
Tudo fizeram, corrompendo e subornando, para que o Qatar obtivesse a maioria dos votos.
Deixando para trás candidaturas de países como os EUA ou a Austrália.
Muitos dos votos de algumas federações, nomeadamente de África e da Ásia, foram adquiridos por milhões. 
Mas o maior escândalo de suborno foi o que envolveu a venda de equipamento militar da França ao pequeno emirato, negócio avaliado em cerca de 20 mil milhões de dólares.
Das 32 selecções presentes neste despique, apenas os países de duas delas, se fizeram representar ao mais alto nível em Doha capital do Qatar na inauguração dos jogos.
Embora alertados pelo grave erro de tal representação, dadas as circunstâncias descritas, S.A. Real o Rei de Espanha Filipe VI e S. Excelência o Presidente da República de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa, lá foram “apenas” aplaudir os seus jogadores.
Será que falaram mais alto as proximidades históricas da Península Ibérica ao mundo islâmico?
Não. Secundarizaram toda a temática do não cumprimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, para justificarem tal deslocação com o apoio às suas selecções.
Algumas das restantes nações, procuraram vincar a respectiva oposição à postura desse plutocrata emirato, pequeno em área e população mas grande em riqueza, quando por exemplo não cantaram o hino nacional do país que representavam, ou se ajoelharam no inicio do jogo, ou ostentaram braçadeiras de protesto.
Contrapondo a estas corajosas posições o presidente da FIFA Gianni Infantino, ameaçava com pesados castigos.
Num vibrante e contraditório discurso, só comparável ao que os populistas nos têm habituado, procurou branquear a situação, com comentários demagógicos e falhos de verdade e dignidade, o que só veio confirmar a errática e corrupta liderança do principal organismo internacional do futebol.

António Benjamim

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Categorias: Opinião

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