Iniciativa itinerante que passou pelos seis concelhos de São Miguel

Exposição na Povoação sobre desperdício apela à reflexão e mudança de hábitos através da arte

 A exposição itinerante “Manifesto ao Desperdício”, da artista e artesã Catarina Alves, em colaboração com a Musami – Operações Municipais do Ambiente, faz agora a sua última paragem na Povoação, após passar pelos outros cinco concelhos de São Miguel, numa acção de sensibilização para a redução do desperdício. A exposição conta com objectos criados por Catarina Alves feitos com papel, cartão, plásticos usados, resina e pó de pedra, e ainda gráficos, poemas, fotografias, vídeos e sons. A artista, ao mesmo tempo que se vai educando a si própria e reflectindo sobre o impacte do seu consumo no planeta, desafia o público, através da arte, a fazer o mesmo, numa missão maior de preservar o planeta e o futuro das próximas gerações.


Como surgiu o “Manifesto ao Des-perdício”?
A ideia deveu-se ao facto de ter sido mãe, em 2017. Já há alguns anos andava preocupada com o que se estava a passar com o ambiente e com a degradação do nosso planeta. Foi realmente depois de ter sido mãe que fiquei com mais preocupação sobre o que seria o futuro da minha filha e das gerações mais novas e de que forma é que eu, enquanto artista, também podia colaborar com este movimento de mudança, que temos assistido de há uns anos para cá. Daí surgiu essa ideia de criar uma exposição que fizesse as pessoas refletir sobre os seus próprios consumos e de que forma o nosso impacto está a afectar a natureza.
Depois, apresentei essa ideia à Musami, por ser a entidade que faz a gestão dos resíduos, para ter um apoio institucional e para que também, através do serviço educativo deles, pudesse dar mais impacto a este projecto.

Como foi o processo de construir as peças expostas?
São vários processos. A exposição em si é composta também por áudio-visuais, projecções de vídeo, fotografias. Uma das peças é, literalmente, os resíduos da minha casa durante um mês, envoltos em resina, no sentido de as pessoas visualizarem o monte de lixo que nós produzimos. Também exploro muito a matéria do plástico e papel. Envolve técnicas da escultura. Há também uma tapeçaria, desenhos com plástico. O projecto contém ainda gráficos com dados, nomeadamente sobre as toneladas de lixo que são postas em aterro; a quantidade de resíduos que são geridos pela Musami. Portanto, para além da parte estética há também a parte de sensibilização e educação dos visitantes.

De que forma a exposição chama a atenção para o desperdício?
A exposição tem um percurso que é sempre o mesmo. Começamos com a ideia do “caos”, e aí podemos refletir mais sobre o desperdício, que é o amontoado de lixo que encontramos pela rua, numa série de fotografias que são projectadas com este amontoado e também no próprio aterro. Acho que isso tem impactado as pessoas que visitam a exposição.
Nas conversas que tenho tido com as pessoas que já visitaram, elas refletem sobre a sua maneira de consumir e procuram ter um pouco mais de preocupação na sua preparação dos resíduos. Muitas vezes as pessoas não têm a noção para onde vão as coisas que colocam no saco dos indiferenciados. Sabem que vai para um aterro, mas não têm consciência do que aquilo é. Temos trabalhado muito com os serviços educativos de cada município por onde temos passado.
Isto é um processo e tenho consciência que ainda tenho muito caminho para andar.
Das primeiras coisas que comecei a fazer foi a recolha selectiva, mas agora já se tornou mesmo obrigatório. A separação dos orgânicos também fazemos lá em casa e já não consigo por no lixo indiferenciado. Depois, outros pequenos pormenores como trocar os guardanapos de papel pelos de tecido. Quando vou ao supermercado procuro as embalagens com menos plásticos, mas por vezes não temos grandes escolhas e é difícil.

Considera que as pessoas estão mais conscientes e a mentalidade está a mudar?
Acho que sim. As pessoas estão a procurar ser mais sustentáveis. Nos supermercados já vejo as pessoas com os seus próprios sacos. Grupos a promover uma consciência ambiental. Estamos a ir num caminho que é lento, mas acho que sim.

Quais são as próximas paragens da exposição?
Esta foi a última. Começou há oito meses, no Nordeste e agora termina na Povoação. O projecto inicial era fazer esta itinerância pelos concelhos de São Miguel. Com o final desta exposição, a 28 de Fevereiro, a ideia é que cada município fique com uma das seis esculturas em papel que representam crianças. A Musami também ficará com uma dessas peças.
Vamos pensar no que faremos com o projecto em si. Acho que ele merece ser continuado, de alguma forma.

Que mais quer acrescentar?
Gostava que ficasse também referido que este projecto teve o apoio da Musami, mas teve também a colaboração de um amigo meu, o Pedro Paulo Câmara, que é escritor e poeta e realizou quatro poemas que fazem parte da exposição. Tive também a colaboração da Eleonora Duarte, que criou uma projecção de som para a exposição.
Foram colaborações importantes para que o projecto ganhasse outra força. Acho que temos de trabalhar em sinergias e aproveitar as qualidades de todos para que realmente consigamos mudar o mundo.

Mariana Rovoredo

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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