“Todas as pinturas que faço carregam uma mensagem para o mundo”, diz Sirius

Tiago Cabral tem 27 anos de idade, vive nas Calhetas, em Rabo de Peixe, e trocou a profissão que desempenhou durante alguns anos enquanto técnico de análises laboratoriais para apostar a sério na sua verdadeira paixão, neste caso pela técnica da pintura a óleo, conseguindo hoje ser um artista a tempo inteiro.
Para distinguir o seu lado pessoal do profissional, o jovem adoptou o nome artístico Sirius, com o qual assina todas as obras que cria e que, ao longo do tempo, foram tendo como inspiração temas como a natureza morta, a arte religiosa e a arte contemporânea, tendo, no ano passado, sido o autor de duas exposições, uma no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, intitulada “Expressão da Admiração” e outra, intitulada “Coração do Mar”, que ficou em exposição no Museu Municipal da Ribeira Grande e que, este ano, será exposta na Casa João de Melo, concelho de Nordeste, a partir de Abril.
Porém, embora desde sempre carregasse “o gosto e a ambição” por tentar desenhar tudo aquilo de que gostava, Sirius acabou por, ao longo dos anos, não investir no seu lado mais artístico por acreditar que “não tinha jeito”, algo que viria a mudar apenas quando se viu forçado a fazer uma pausa de um ano antes de entrar para o ensino profissional, uma vez que teve “tempo de sobra” para investir em algo que gostava de fazer.
“Comecei a pesquisar na internet sobre como poderia começar a desenhar. Para os meus primeiros desenhos, metia uma folha de papel em cima do ecrã do computador, com muito cuidado, e passava a lápis a imagem. Depois, em cima da secretária, tentava melhorar o máximo que conseguia na altura”, conta, salientando que foi cada vez mais investindo neste passatempo até decidir matricular-se num ateliê onde lhe foram ensinadas, durante três anos, todas as técnicas essenciais para o desenho e para a pintura a óleo.
“Quem olhar para o meu primeiro quadro diria que seria difícil chegar onde estou agora. É puro trabalho, dedicação, muito tempo dedicado. Por isso, acho que a única diferença entre uma pessoa que, talvez, diga que não saiba pintar e outra que sabe, está na dedicação de muito tempo à pintura. (…) Desde o início até agora a arte tem feito parte da minha vida de forma constante. Estive parado uma época por decisão própria, estive focado noutras coisas, mas pesquisei sempre”, realça o artista.
Sirius refere ainda que é importante estar disposto, na arte e na vida, a ultrapassar a “barreira do medo”, como lhe chama, pois, uma vez ultrapassada, as pessoas sentem-se “livres” e capazes de fazerem “o que apetece” sem acharem que é tudo “muito difícil”.
“Quando passamos essa barreira sentimo-nos livres, fazemos o que queremos e o que apetece. Hoje em dia, a minha pintura retrata muito bem isso, faço aquilo que gosto mas sempre com uma mensagem por trás. Desde 2020, ano em que ultrapassei a barreira dos limites, que me sinto mais livre quando pinto, toda a pintura que eu faço carrega sempre uma mensagem para o mundo, e esta última pintura tem uma mensagem forte, e chama-se “A Guerra não se ganha com armas”, conta ainda o jovem.
Embora não tenha, de momento o seu próprio espaço para fazer os seus trabalhos, fazendo da sua casa o seu ateliê, refere que espera, um dia, ter o seu próprio espaço para poder pintar e, “quem sabe, ter a porta aberta para que quem esteja a passar” possa vê-lo a trabalhar e colocar questões, caso tenha essa curiosidade. Enquanto isso não acontece, Tiago Cabral continua a percorrer os caminhos necessários para se tornar mais conhecido entre a comunidade local, artística ou não, uma vez que é o seu desejo continuar a trabalhar enquanto artista profissional nos Açores.
“Hoje faço arte como vida profissional, é isto que quero fazer e sei que vou conseguir, mesmo que não esteja no auge da minha carreira. (…) Sou mais de estar no meu canto, mas este é um tipo de trabalho em que ou se entra no meio social, ou não se entra. Não há hipótese. Mas, para mim, a minha pintura vale mais do que a minha vergonha”, salienta, considerando ainda que, tendo em conta o alcance que é hoje permitido a artistas de todo o mundo através da internet, espera também poder chegar ao público que se encontra fora dos Açores.
De qualquer das formas, nos Açores ou além-fronteiras, o principal objectivo de Sirius passa sempre por fazer com que as pessoas vejam o seu trabalho e que compreendam a mensagem que pretendeu passar. Vender quadros, conforme indica, embora seja um indicador muito positivo, é secundário para a sua felicidade, uma vez que tem também vindo a apostar na criação de algumas peças de arte digital, que são posteriormente vendidas através de plataformas online destinadas para esse efeito.
Contudo, não planeia nunca abandonar o mundo dos pincéis, das telas e das tintas a óleo: “Se me comprarem um quadro fico realmente feliz, se não comparem fico feliz na mesma. (…) Neste ponto onde estou, ainda não abdiquei da tinta em prol da arte digital, e não vou fazer isso. A minha intenção não é esta, mesmo que renda mais não me interessa, interessa-me o que eu sinto, e se eu prefiro as tintas é nas tintas que eu fico”, refere, estando disposto a trabalhar nos dois formatos de arte sempre que necessário.
Questionado sobre “quando acaba o Tiago e começa o Sirius”, explica que o Tiago termina “sempre que pega num pincel”, uma vez que é a pintar que se vê livre de todas as amarras. Quanto à escolha do nome, que causa muita curiosidade, explica que não sabe exactamente de onde surgiu, se em algum livro, se em algum filme ou se foi algo que ouviu alguém referir. Sabe apenas que é um nome do qual sempre gostou e, por isso, quando lhe surgiu a oportunidade de escolher um nome artístico, não hesitou em escolhê-lo.
Sobre a opção pelos materiais e técnicas que aplica nas suas obras, refere que, embora a pintura feita em acrílico possa ser, de longe, mais económica, é na pintura a óleo que encontra mais prazer dada a exigência da mesma e o tempo de manobra superior, o que pode ser uma desvantagem no que diz respeito à secagem de cada quadro, que pode demorar meses. Nos trabalhos que tem vindo a desenvolver, adianta que não dá “hiper importância ao realismo” uma vez que não procura pela “perfeição na pintura” mas sim “o impacto que pode transmitir ao mundo” com os seus trabalhos, algo que pensa ter alcançado com a sua última pintura.
Como conselho, Sirius sugere que a quem deseja pintar ou investir mais nesta forma de arte, que coloque os medos de parte, incluindo o medo da crítica, uma vez que “qualquer pessoa pode atingir o que quer com muito trabalho, dedicação e tempo. O importante é meter as mãos na massa e não desistir”.


Joana Medeiros

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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