Empresários e compradores de Ponta Delgada e da Ribeira Grande preocupados com a grande subida de preços dos produtos alimentares

Os produtos alimentares têm sofrido subidas abruptas ao longo dos últimos meses e para perceber de que forma essa realidade está a atingir a nossa população, o Correio dos Açores saiu à rua e foi ao encontro de consumidores e de empresários de Ponta Delgada e da Ribeira Grande.
Agostinho é proprietário de um restaurante na zona central da cidade de Ponta Delgada. Para este empresário, “os produtos vão aumentando aos poucos e nós também temos de seguir essa tendência, mas por enquanto não vou subir”.
Na sua opinião, os lacticínios têm sido uma das classes onde os aumentos de preço têm sido mais evidentes.
“A manteiga teve um aumento, o queijo também e, por exemplo, o queijo de São Jorge subiu muito. Antes 10 kgs custavam 100 euros e agora está nos 140 ou 150 euros. Há coisas que têm subido de forma brutal”, constata.
Para além destes, Agostinho assinala igualmente a subida no preço do papo seco “2 ou 3 cêntimos” e na carne.
“Também senti um ligeiro aumento de aproximadamente 1 euro ou 1,5 euros por quilo”, refere.
Este empresário destaca que esta subida de preços, mais ou cedo ou mais tarde, terá de reflectir-se no consumidor final.
“Não vou aumentar agora, mas no futuro, daqui a um mês e meio, vou ter de subir os preços. Se os ordenados ou a luz aumentam também temos de nos adaptar”, afirma.
Já Sílvia Câmara, cliente, entende que o cenário se “vai complicar bastante nos próximos tempos. Os preços estão todos as disparar, principalmente as carnes ou o pão. Está tudo muito difícil”, desabafa.
Esta consumidora realça também que terá “de começar a gerir bem as coisas” e, apesar de entender que algumas dessas subidas de preços se justificam, deixa algumas interrogações.
“Porque é que somos nós, os contribuintes, os que descontam, que têm de levar com tudo isto agora? Já passamos uma crise tão grande antes e nunca subiu desta maneira”, questiona antes de admitir que até possa estar a existir algum ‘aproveitamento’.
“Há empresas que se podem estar a aproveitar e tenho a certeza de que, talvez dentro de dois meses, quase todas as empresas se vão aproveitar”, lamenta.
Para o empresário de restauração Pedro Raposo, “o mais fácil é dizer os produtos em que não temos sentido aumentos. É completamente em tudo e até os produtos locais, que não têm nada a ver com a guerra, estão a aumentar”.
Pedro Raposo deixa alguns exemplos de produtos onde essa subida de preço foi abrupta.
“Estivemos agora encerrados durante 3 meses e, em Outubro, comprávamos o queijo Ilha Azul a 6,50 euros e agora está a 13 euros (…) O queijo de São Jorge estava a 8,30 euros e está agora a 13 ou 14 euros. Estou a falar de aumentos apenas nos últimos 3 meses”, salienta.
Para além dos lacticínios, “onde se nota mais as subidas”, este empresário aponta igualmente para acréscimos nas carnes “à volta de 30%”.
Pedro Raposo realça ainda outra preocupação decorrente do actual cenário.
“O grande problema é que os produtos estão constantemente a aumentar e nós também temos de estar frequentemente a actualizar os preços”, alerta.
Precisamente no sector dos lacticínios, Milton Bernardo, empresário ligado à sua venda ao público, revela que “o preço de queijo tem vindo a subir de dia para dia. O queijo dos Açores mais barato que tínhamos, estava a 5,99 euros e, num espaço de 8 ou 9 meses, já está em 11,50 euros”.
“Só nos últimos dois meses o aumento já está nos 2 euros e está prevista outra subida de preço no próximo mês ou em Março”, refere. Ora, esta subida começa, naturalmente, a ter as suas repercussões.
“Já começamos a notar alguma retracção nas compras e as pessoas em vez de comprarem 1 fatia grande, levam muito menos(...) Notamos que as pessoas já têm falta de dinheiro”, realça.

Na Ribeira Grande
Ao início da tarde, a empresária Délia Diogo, ligada ao sector da carne, lembra que esta “subiu ao lavrador uma média de 70%”. Apesar desse grande aumento no custo de produção, a empresária releva que “ao balcão essa subida foi de 20%”
Segundo refere Délia Diogo, “há muita gente que já se começa a virar para os ossos e para as carnes mais baratas. Até o frango subiu à volta de 15 cêntimos na semana passada”.
A empresária revela que “já sentimos uma retracção ao nível das compras. Está tudo a subir não apenas a carne”, realça.
Lembrando que “o ovo pasteurizado, que antes comprávamos a 2,40 ou 2,50 euros, está a agora a 3,80 euros”, Délia Diogo revela que apesar de não ter subido os seus preços nos últimos 3 meses, “na próxima semana vou ter que o fazer. Está tudo a subir”, salienta.
A empresária reforça que “a subida de preço reflecte-se no balcão e é o consumidor final quem paga isto tudo”.
Já a jovem consumidora Ana Veiga lamenta o aumento de preços dos últimos tempos, “principalmente em produtos que são nossos. É algo que não se pode justificar com a guerra ou com a Covid. É impensável termos fábricas de leite, com produtos nossos, e o leite estar a um preço exacerbado”.
Ana Veiga recorda o facto de “há uns tempos atrás conseguíamos ir ao hiper e, com 50 euros, trazer 2 ou 3 sacos de compras. Agora, com o mesmo valor, não trazemos praticamente nada ou um saco de compras só com o essencial”.
Esta compradora perspectiva “um ano muito mau”.
“Já vou seleccionando as minhas compras (…) As rendas, as prestações, os impostos, estão também todas a subir e não sei como é que uma jovem como eu pode conseguir ter uma casa agora”, afirma.
Também Alfredo Mineiro, que abordámos na Ribeira Grande, lamenta o aumento de preços registado nos últimos tempos.
“Isso está tudo a subir e está tudo mais caro. Vivo de uma reforma, tenho um filho e um neto que vivem comigo e isto está muito complicado”, começa por afirmar.
Questionado sobre quais os produtos em que se sente uma maior subida, Alfredo Mineiro refere que não consegue apontar “um produto, porque é tudo no geral. Vamos à loja e não se vê um que baixe de preço, é sempre tudo a subir; a farinha, os ovos, tudo”.
“Faço contas porque sou eu que estou a gerir o dinheiro e os mantimentos que entram em casa. 50 euros vão-se embora num saco de compras”, lamenta.
Outra consumidora com quem falamos, Sónia Melo, atira que “isto está tudo um balúrdio”.
“Acho que o azeite, o óleo, o açúcar ou os ovos tiveram uma subida extrema, mas isso aconteceu em praticamente todos os bens alimentares. A carne, o peixe, o pão e a farinha tiveram uma subida enorme e eu não percebo porque é que apenas no nosso país que essas subidas extremas acontecem”, destaca.
Sónia Melo aponta também que se gasta actualmente “o dobro do dinheiro”.
“Se queremos pagar o que não podemos deixar de pagar, temos de cortar em muita coisa”, mas que, apesar do cenário menos animador, mantém a esperança de “uma melhoria no próximo ano”.    
                                             

Luís Lobão

 

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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