Médico Carlos Ponte eleito Presidente do Conselho Médico dos Açores

Os cuidados primários de saúde “lutam com muitos problemas” e a falta de médicos “é um factor de inquietação”

O médico Carlos Ponte, eleito ontem Presidente do Conselho Médico dos Açores, esteve à conversa com o Correio dos Açores. Apesar de não querer tecer, para já, grandes opiniões sobre o que se propõe fazer, na medida em que aguarda a eleição do Bastonário da Ordem dos Médicos, afirmou que uma das grandes preocupações se debruça sobre as condições de trabalho, em termos da carreira médica, “que está a atravessar, actualmente, momentos menos bons.”
Eleito com 203 votos, revelando-se dos maiores números dos últimos anos, Carlos Ponte mostrou-se muito satisfeito com o número de votantes a nível Açores. Todavia, ressalva que ainda houve muitos que não votaram, o que é algo que precisa de ser trabalhado: “há que trabalhar no sentido de as pessoas saberem que a Ordem é de todos. Para tal, é necessária representatividade, possam as pessoas gostar, ou não, de quem se candidata, sendo que o mais importante é a opinião e o espírito de ajuda em equipa, pois só assim podemos fazer sempre melhor.”
O médico realça que uma das suas pretensões é que “as pessoas sintam, na Ordem dos Médicos um apoio para a motivação do trabalho e do desempenho das suas funções, em condições eticamente correctas.”

“Vamos trabalhar” para o
bem-estar e paz social dos médicos
 
O ginecologista explica que se sentiu no dever de aceitar o convite que lhe fizeram para ser o dirigente da Ordem dos Médicos da Região. Para tal, Carlos Ponte procurou criar uma lista que incluísse todos elementos das nove ilhas do arquipélago: “Num princípio de cidadania, senti-me na obrigação de aceitar este convite, pois queríamos e achávamos que poderíamos fazer diferente. Tivemos a preocupação de colocar elementos de diferentes ilhas, de várias áreas médicas, particularmente jovens, porque serão eles a estar nestes lugares no futuro. Com um pouco de coragem, a ideia foi de atingir e melhorar, nestes campos, o que está nas competências e atribuições da Ordem dos Médicos.”
Carlos Ponte defende no seu manifesto eleitoral o direito dos médicos ao bem-estar, paz social e dignidade como parceiros na promoção da qualidade da medicina e saúde na Região. Prometendo trabalhar nesta vertente, refere que “é evidente que achamos que há muito a fazer, por isso, aceitamos esse desafio. Queremos sempre colher o que de bom foi feito e aquilo que achamos que podemos e teremos de melhorar. Vamos trabalhar nessa vertente.”


Há falta de interacção e conectividade entre cuidados
primários e os hospitais nos Açores

O médico afirma que, neste momento, é perceptível a falta de interacção e conectividade entre cuidados primários com os hospitais de referência, constituindo esta uma das grandes preocupações. “Tivemos o cuidado de visitar os três principais hospitais. Na impossibilidade de me deslocar a todas as ilhas em tão curto período de tempo, falei com todos os colegas da unidade de ilha, a nível dos Açores. O que se pretende é a conectividade com todas as ilhas e depois, com planeamento, ir a cada um dos locais para nos inteirarmos de que forma poderemos melhorar esta articulação”, avançou.
Umas das preocupações da Lista H, a única que se submeteu a eleições na Região, prende-se com a formação contínua de jovens médicos. Questionado de que forma pretende atingir esse objectivo, sugere uma maior integração dos jovens médicos em equipa, ao invés de serem logo projectados a trabalharem isoladamente: “Apercebemo-nos disso em alguns locais que visitámos e, ao falarmos com os jovens médicos, constatamos que os próprios sentem necessidade de trabalhar mais em equipa, do que sozinhos, em postos avançados”.
Na opinião do futuro dirigente do Conselho Médico dos Açores da Ordem dos Médicos, a solução passa por falar com os colégios das diferentes especialidades, bem como com as unidades de saúde de ilha, onde estão mais faltosos, tentando dar-lhes esse apoio.

 

“Outra meta a alcançar é o reforço da liderança
médica nos Açores”

Outra meta a alcançar é o reforço da liderança médica nos Açores. Neste sentido, Carlos Ponte esclarece que os médicos devem ser devidamente respeitados no exercício da profissão, assim como ter melhores condições de trabalho. “Por vezes, há situações que não são salvaguardas e, neste sentido, também teremos algo a dizer”, adiantou.   
Relativamente ao facto de a saúde dever assentar no reforço dos cuidados primários e só em segunda linha nos hospitais, o obstetra referiu que “em ambas as áreas deve haver planos de melhoria. Porém, também sabemos que os cuidados primários lutam com muitos problemas. Em última instância, não vamos atribuir culpa. O que importa é melhorar os dois lados e, assim, a articulação funcionará em pleno”, asseverou Carlos Ponte.
O sucessor de Margarida Moura na presidência do Conselho Médico dos Açores considera que a falta de médicos na Região “é um factor de inquietação. Esta é outra grande preocupação. Havendo vagas na medicina geral e familiar e não tendo sido preenchidas, designadamente em Ponta Delgada e na Terceira, algo inquietante se passa. Este assunto tem que ser bem explorado e estudado, para que as pessoas dêem garantias de fixação e se sintam atraídas para o trabalho que vêm fazer”, concluiu o especialista em Ginecologia-Obstetrícia.  
                            

Carlota Pimentel

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Autor: CA

Categorias: Regional

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