O Bispo de Angra, que participou no primeiro evento público depois da chegada à Diocese, elogiou o papel de D. Paulo José Tavares na valorização dos ministérios laicais: “Certamente que ele ficaria feliz hoje aqui, com este apelo a uma Igreja que encha o coração dos pobres”
O livro sobre a história e a vida eclesial e diplomática ao serviço da Santa Sé em Macau de D. Paulo José Tavares foi lançado anteontem à noite na Igreja do Bom Jesus, em Rabo Peixe, terra natal do prelado, que morreu em Junho de 1973, em Lisboa.
Da autoria de António Pedro Costa o livro “D. Paulo José Tavares - O bispo diplomata”, editado pela Letras Lavadas, agora com a chancela Pedra-pomes, com o apoio da cooperativa Ponte Norte e da Câmara da Ribeira Grande, ilha de São Miguel, tem uma dupla função: resgatar a memória daquele prelado e perpetuar o seu nome na terra onde nasceu, adiantou o autor, também ele nascido em Rabo de Peixe.
“Este livro não é um livro qualquer; quando aceitei o desafio sabia ao que ia, embora ciente de que seria difícil”, referiu António Pedro Costa, que não deu por mal empregue “as horas e os dias” que dedicou à investigação e à escrita.
O livro narra a história de vida deste açoriano que tinha como futuro garantido a agricultura mas cuja vontade de saber, aliada a uma “grande inteligência”, acabou por fazê-lo ir para o seminário de Angra estudar e depois para Roma, onde ingressou na carreira diplomática, até que o Papa João XXIII o nomeou Bispo de Macau, desempenhando um papel relevantíssimo nas relações entre a China maoista e a Santa Sé.
Américo Viveiros:
“Privilegiar as pessoas
colocando-as no centro”
“Foi responsável por fomentar uma acção social fundamental em Macau e também promoveu a educação dos jovens, resistindo com êxito aos ataques da elite comercial de Macau, que se aliou à China” lembrou Américo Natalino de Viveiros, que apresentou o livro.
“O produto final (deste livro) juntou a audácia e muita investigação, saldando-se num relato da grande parte da vida deste prelado, que era um homem simples e de um ouvido disponível, que chamou muitos à vocação”, referiu ainda Américo Viveiros.
O Director do jornal Correio dos Açores aproveitou a ocasião para fazer um paralelo entre o papel da Igreja defendido pelo então Bispo de Macau, inspirado pelos ventos do Concilio Vaticano II, e o papel da Igreja hoje.
“Denunciar, realizar e amar… é esta a herança que recebemos do Concílio e de D. Paulo José Tavares”, afirmou. “É tempo de dizer basta: agarrar a juventude e dizer-lhe que o futuro da sociedade está para além do que nos é vendido nas redes sociais; privilegiar as pessoas, colocando-as no centro”, avançou, denunciando “o individualismo que se transformou numa praga” em que cada “ um sente-se munido de direitos mas esquece-se dos deveres de reagir e de actuar”.
“D. Paulo José Tavares deve servir de exemplo ao ter apoiado a formação da juventude, deve servir de modelo pela acção social que fez na Diocese de Macau”, disse ainda.
A sessão de apresentação do livro terminou com uma intervenção do Bispo de Angra, naquele que foi o seu primeiro compromisso público desde que entrou solenemente na Diocese, a 15 de Janeiro.
D. Armando Esteves Domingues elogiou o papel do Bispo de Macau na valorização dos movimentos laicais e frisou o desejo que partilhava com o Papa Paulo VI na construção de uma “civilização do amor”.
“Nesta noite saborosa, em que vemos como ele está vivo nesta terra que o quer eternizar, aprendi muito e vi leigos empenhados”, disse o Bispo de Angra.
“D. Paulo José Tavares ficaria feliz por estar aqui porque o seu ministério em Macau revela a valorização dos carismas laicais, pois foi ele que levou para lá tantos movimentos que depois foram impulsionados por outros açorianos”, disse D. Armando Esteves Domingues.
“Como precisamos de leigos; como precisamos desse apelo a uma Igreja que entra e que chegue ao coração dos pobres” enfatizou, alertando para uma certa surdez do mundo e dos poderes instituídos.
“Precisamos de o dizer de várias formas: o mundo está surdo e se calhar muitas vozes de autoridades estão caladas; não precisamos de esperar pela palavra do padre ou do bispo que manda, somos todos evangelizadores, precisamos desta voz dos leigos”, concluiu, depois de ter recordado a frase inscrita no brasão de armas de D. Paulo José Tavares: “o amor de Deus contagia e apaixona”.
A receita do livro, cujo prefácio é da autoria do cónego João Maria Brum, outro filho da terra, amigo pessoal do Bispo de Macau, reverterá a favor das obras da Igreja de Rabo de Peixe que agora é dirigida por um vigário paroquial, o padre Nuno Pacheco de Sousa.
Bispo de Angra no jazigo
de D. Paulo José Tavares
O Presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, Jaime Vieira, acompanhou a visita do novo Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, ao cemitério de Rabo de Peixe, para deposição de uma coroa de flores no jazigo de D. Paulo José Tavares, Bispo de Macau. Na ocasião, também foi descerrada uma placa que é um “preito de gratidão e orgulho no cinquentenário da sua morte.”
Esta cerimónia intimista, que contou com a presença de vários familiares de D. Paulo José Tavares, assinalou o arranque das celebrações dos 50 anos da sua morte (12 de Junho de 1973), precisamente no dia em que nasceu (25 de Janeiro de 1920).
Jaime Vieira mostrou-se “grato” pelo reconhecimento da Diocese de Angra a uma figura indelével da agora vila de Rabo de Peixe. “É um orgulho para todos nós receber o Dispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, naquela que é a sua primeira visita oficial a uma freguesia dos Açores e logo para homenagear uma figura ilustre da nossa localidade”, disse.
“No dia do nascimento de D. Paulo José Tavares, um filho desta terra que se tornou Bispo de Macau, assinalamos também o arranque das celebrações do cinquentenário do seu falecimento. Na presença de vários familiares, deixo a minha gratidão por tudo o que ele fez e o exemplo que se tornou para muitos”, acrescentou o Presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe.