Os meus leitores podem pensar que não tenho outro tema para abordar senão os cabos submarinos. Peço-lhes desculpa pela insistência, mas o assunto é de excepcional importância para S. Miguel em particular, e para os Açores em geral.
Li, neste mesmo Correio dos Açores do passado dia 25, as “explicações” do senhor Presidente da ANACOM dadas à Comissão de Economia da Assembleia da República.
Apesar de leigo em cabos submarinos, devo dizer que as chamadas “razões técnicas” alegadas por aquele senhor vieram adensar as minhas suspeitas de que, nesta matéria, alguém quer retirar a S. Miguel a importância que tem no contexto do arquipélago. Mas, vamos por partes:-
Em primeiro lugar, aquele senhor falou que irá haver dois locais de amarração no rectângulo português, um em Sines (já me falaram que seria em Sesimbra) e outro em Carcavelos. Alegou também que, seria crítico haver um único ponto de amarração porque, havendo um desastre, ficariam sem amarração. Por outras palavras, ficariam sem ligação com as “ilhas adjacentes”.
Ou seja, havendo um desastre no continente português, eles têm um substituto pronto a entrar em funcionamento. Pergunto:- porque motivo não há-de haver, também nos Açores, dois pontos de amarração ligados directamente ao continente português, como eles dizem?
Segundo informação que colhi, alguns dos perigos principais são, para além dos sismos, o movimento dos navios que, na atracagem e ao lançar a âncora, esta pode cair em cima do cabo danificando-o. Curiosamente, nos Açores, a ilha de S. Miguel é aquela que oferece múltiplos locais onde se poderá amarrar o cabo, o que elimina aquela remota possibilidade.
Dizem-me também que esta solução, a de passar para a ilha Terceira a amarração principal, é porque está prevista num “velho “estudo prévio, onde também participou o actual deputado do PSD/A Engº. Paulo Moniz.
Tanto quanto sei, na sessão da Comissão de Economia da Assembleia da República, onde o Presidente da ANACOM foi prestar esclarecimentos, aquele deputado também contestou a mudança da amarração principal para a ilha Terceira. Afinal, como é?
Por outro lado, justificar a decisão da amarração principal com o facto de S. Miguel e Terceira se encontrarem em placas tectónicas diferentes é querer chamar-nos tolos. Então, não tem sido, infelizmente para as populações, o grupo central o mais sacrificado em frequência de sismos?
Para aumento da confusão, o responsável pela ANACOM nos Açores diz que, havendo duas amarrações em S. Miguel estas estariam expostas ao mesmo risco. Este senhor é de cá, ou é mais uma “ave de arribação” que cá poisou? Será que desconhece o tamanho desta ilha e dos múltiplos locais que podem servir para o fim em vista?
Se, até agora, não tem havido queixas de mau funcionamento dos cabos submarinos, com a amarração principal em S. Miguel, porquê alterar a configuração? Só porque houve um “iluminado” que decidiu assim e para não ser igual ao que ainda está em funcionamento?
Não, meus amigos! Há certas coisas com as quais não se pode “brincar”. Não só pelo custo que acarreta, mas também pela importância que tem para a maior e mais desenvolvida ilha dos Açores.
Para além de tudo, é também em S. Miguel que existem muitos locais arenosos onde se poderá amarrar o novo cabo, caso se queira alterar o figurino actual.
Para terminar quero, em meu nome e em nome de quantos tenho falado neste assunto, e que também discordam da transferência da amarração principal para outra ilha, agradecer ao senhor Engº. João Mota Vieira toda a informação que tem publicado sobre esta matéria, contribuindo assim, não só para desmascarar jogadas de gabinetes, que de outra forma, poderia escapar ao grande público, como também para o esclarecimento dos cidadãos desta Região.
Bem haja por isso.
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia
29JAN2023