31 de janeiro de 2023

Cancro da Corrupção… Alastra


Atinge o coração da União Europeia, fragilizando a Democracia.
Em Dezembro passado os seus cidadãos eram surpreendidos pela notícia da destituição da sua vice – presidente Eva Kali, detida pela polícia belga por alegado envolvimento num escândalo de corrupção.
Em causa subornos levados a cabo pelo Catar, que procurava “comprar” influências junto da principal instância da União, o seu Parlamento.
Trata-se de um dos organismos com mais credibilidade da Europa.
Este emirato do Golfo, o tal que organizou o mundial de futebol, contra o pagamento de subornos de biliões aos responsáveis da Federação Internacional do Futebol (FIFA), tentou repetir o mesmo estratagema, para obter vantagens e poder influenciar decisões dos deputados europeus favoráveis aos seus interesses.
Quase por unanimidade os deputados, não só a destituíram do seu cargo como votaram para que igualmente perdeu-se o seu assento como deputada no Parlamento.
Pese a indignação geral e a Presidente do Parlamento Roberta Metsola ter declarado após a votação que “a integridade do Parlamento Europeu vem em primeiro lugar”, a descoberta de sacos e malas com milhares de dinheiro “vivo” em diversas casas e escritórios oficiais, lançou um manto de suspeição sobre o Parlamento Europeu.
Independentemente do processo na justiça, os responsáveis políticos, agiram rapidamente.
Desconhece-se se seguiram os ensinamentos do conceituado Professor e Juiz Conselheiro Doutor Laborinho Lúcio quando afirma que, “o que é da Justiça também é da política”.
O Parlamento Europeu tem sido célere em criticar os desvios autocráticos da Hungria e respectivos atentados aos valores da ética e da moral democratas.
Como seria de esperar o magiar Viktor Orbán, veio logo a terreiro e ao bom estilo populista afirmava que o Parlamento havia perdido a superioridade moral.
 Tendo o respectivo ministro das relações exteriores, Peter Szijjarto escrito que “a partir de agora, o Parlamento Europeu não poderá falar sobre corrupção de maneira crível”.
 Tais comentários só vêm confirmar os desvios iliberais do regime húngaro.
Como se constata por estas posições destes candidatos a autocratas, tal ocorrência só veio dar mais trunfos aos inimigos da Democracia. 

Contudo, nunca é demais realçar que só nas democracias liberais, onde a separação de poderes prevalece, os crimes de corrupção são possíveis de denunciar, investigar, julgar e punir. 
Nas ditaduras totalitárias, raramente os crimes de corrupção são tornados públicos, ao invés são abafados, sendo os seus denunciantes presos, quando não eliminados.
Voltou à ribalta da discussão as vulnerabilidades das Instituições europeias, onde os todos poderosos lobbies têm papel de relevo, cujos titulares pagos com salários milionários, representando grandes interesses e empresas multinacionais, são aceites com toda a naturalidade, por quanto legais e sujeitos a registos.
Aqui volta a confrontar-se o velho dilema entre a legalidade e a ética. Alguma vez poderão ser compatíveis?
Mas também se tem assistido à “colaboração” cínica, hipócrita e traidora de certas ONG- organizações não governamentais, que dizendo-se exímias defensoras da transparência e da impunidade, albergam corruptos ávidos de poder e dinheiro.
Segundo consta, existem fortes suspeitas que uma dessas organizações estaria envolvida no caso da vice - presidente Eva Kali.
Para além dessas nefastas influências constatou-se que existem em investigação cerca de 28 deputados e de um comissário europeu, alegadamente suspeitos de actos de corrupção.
Igualmente determinada imprensa, conhecida pela sua credibilidade, noticiava influências recentes nas decisões e votação dos deputados, no sentido destes optarem pela defesa dos interesses de grandes grupos nomeadamente da Blackrocks, uma das maiores gestoras de investimentos do mundo e da Pfizer, conhecida multinacional farmacêutica americana.
São situações que só vêm confirmar a falta de transparência e a notória permeabilidade das instituições europeias aos grandes interesses económicos.
A dramática ocorrência que feriu gravemente a credibilidade dos valores e princípios democráticos que estiveram na fundação do projecto europeu, levaram a que as palavras mais pronunciadas pelos seus actuais responsáveis fossem choque, frustração, raiva e necessidade urgente de rever controlos, códigos de conduta e revisão de todo o processo da existência do lobby.
A jovem Eva kali poderia ter tido um futuro risonho. O dinheiro perdeu-a.
Uma das conclusões a que chegaram os actuais líderes europeus foi melhorar os processos de filtragem na avaliação dos candidatos a cargos de topo, que para além dos currículos académicos, profissionais e políticos, os perfis psicológicos como carácter, comportamento, personalidade ou temperamento, entre outros, deverão ser, igualmente, rigorosamente ponderados.
Que o Projecto Europeu continue a ser o garante da Paz, da Liberdade e da Democracia! 
António Benjamim

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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