31 de janeiro de 2023

De Quando em Vez

Romagem de agravados (uma espécie de)

 
Não fora a controvérsia que estalou sobre a Jornada Mundial da Juventude, no âmbito da qual se integra a visita do Papa Francisco a Portugal, e a berlinda em que o Governo se colocou mais visível se teria tornado. 
Mesmo assim o ambiente mantém-se em franca degradação interna e pública. Isso é indisfarçável, desde logo porque as respetivas causas permanecem.
O problema-mor deste Governo não é, de todo em todo, a absoluta maioria de deputados, mas a decrescente minoria de governantes relativamente aos quais não haja suspeitas disto ou daquilo, seja o que for não interessa, pois, para quem está na política, em especial com funções governativas, não há presunções de inocência que resistam, por mais plausíveis que até possam ser os motivos que as fundamentem. No fundo trata-se de uma inesperada conquista eleitoral, cuja tradução prática, em termos de governabilidade, se tem vindo a revelar impossível de concretizar e por razões inerentes aos critérios pouco ou nada rigorosos que presidiram à composição do Governo.
Nesta espiral de desmandos, o Primeiro-Ministro (PM) - que só consegue a condução dos destinos do País, mediante a competente atuação do Governo - tem a tarefa cada vez mais dificultada.
Aliás, sempre que as causas de uma crise governativa surgem dentro do próprio Governo e das forças políticas que o suportam as consequências costumam ser bem piores do que as decorrentes de fenómenos de origem externa. Uma das mais recentes polémicas deriva da extinção, ou não, de uma secretaria de estado, aquando das últimas substituições de membros do Governo, o que é revelador do desnorte instalado…
Outra, entretanto, eclodiu, quando o Ministro Galamba partiu lesto para o disparate ao abandonar, de supetão, uma reunião com os pilotos da TAP…
Nas últimas semanas os protestos dos professores não deixaram ninguém indiferente, quer pela extensão que os mesmos têm assumido, quer pelos complexos problemas existentes, quer, ainda, pela incapacidade de o Governo suster o grau de descontentamento demonstrado.
Outra herança que o Governo deve, em grande parte, a si próprio, está no setor da saúde e já provocou a demissão da Ministra Marta Temido, sem que, de permeio, as causas dos constrangimentos tenham sido debeladas ou, sequer, mitigadas.
Esta instabilidade na educação e na saúde - dois setores chave do estado social, tal como está desenhado na Europa Ocidental - implica efeitos colaterais de comprometedora dimensão. O tempo de empurrar para a frente com a barriga acabou!
Para cúmulo, as sondagens, publicadas ou encomendadas para uso próprio dos vários partidos políticos, começam a fazer mossa na opinião pública, bem como suscitando o chamado nervoso miudinho de quem está no Governo e não menos ansiedade a quem está na oposição…
Perante tudo isto, o PM e os seus ministros começam a fazer lembrar uma espécie de romagem de agravados, quando desfilam, nos telejornais e nas primeiras páginas,… “entre a cruz e a caldeirinha”.

José Gabriel da Silveira Ávila

Angra do Heroísmo, 29 de Janeiro de 2023
 

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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