31 de janeiro de 2023

Opinião

Grande figura açoriana

 
 Tive o grato gosto de estar com o Bispo de Angra, D. Armando Domingos no lançamento do meu livro sobre D. Paulo José Tavares, que foi Bispo de Macau e Diplomata da Santa Sé, escolhido para liderar as relações com a China de MaoTseTung. Tratou-se de uma cerimónia em que o nosso novo Bispo participou no seu primeiro evento público depois da chegada à diocese
O livro sobre a história e a vida eclesial e diplomática ao serviço da Santa Sé em Macau de D. Paulo José Tavares que morreu em junho de 1973, em Lisboa e na sessão de apresentação, o Bispo de Angra teve a oportunidade de elogiar o papel de D. Paulo José Tavares na valorização dos ministérios laicais: não precisamos de esperar pela palavra do padre ou do bispo que manda, somos todos evangelizadores, deixando o apelo a uma Igreja que “encha o coração dos pobres.
A igreja do Senhor Bom Jesus, que se encontrava a abarrotar de muitas personalidades e povo anónimo que quiseram aproveitar a oportunidade para conhecer melhor a vida daquele prelado nascido em Rabo de Peixe, descrita no meu livro, que intitulei de D. Paulo José Tavares – o Bispo Diplomata, foi o local escolhido para o lançamento da obra que constituiu uma autêntica homenagem. 
D. Armando classificou o momento como “noite saborosa, em que vemos como ele está vivo nesta terra que o quer eternizar, aprendi muito e vi leigos empenhados e seguramente que D. Paulo José Tavares ficaria feliz por estar aqui porque o seu ministério em Macau revela a valorização dos carismas laicais pois foi ele que levou para lá tantos movimentos que depois foram impulsionados por outros açorianos.
A data do lançamento do livro foi escolhida propositadamente para o dia em que a Igreja celebra a solenidade da conversão de S. Paulo, por feliz coincidência foi o dia em que nasceu em Rabo de Peixe D. Paulo José Tavares, tendo-lhe sido dado o nome de Paulo, devido a esta circunstância e acrescentado o nome do pai que era José Evaristo. 
A par de D. João Paulino de Azevedo e Castro, D. José da Costa Nunes, D. Manuel Medeiros Guerreiro, D. José Vieira Alvernaz, D. Jaime Garcia Goulart e D. José Pedro da Silva, D. Paulo José Tavares foi um mais dos brilhantes seminaristas que paSsou pelo Seminário de Angra, pelo que lhe foi endereçado um convite para ir estudar Direito Canónico, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.
No entanto, não podemos dissociar todo este trabalho do papel e da ajuda prestimosa do seu irmão Pe. Dr. Manuel Alfredo Tavares, que foi um prestigiado professor do Seminário de Angra e que D. Paulo nomeou para seu Secretário Particular. Faleceu com 68 anos de idade, em Macau em 26 de fevereiro de 1989, onde jazem os seus restos mortais no cemitério de S. Miguel Arcanjo daquele território.
A sua carreira diplomática foi fulgurante e foi determinante o seu papel no acolhimento dos refugiados da II Grande Guerra Mundial, fazendo parte do núcleo de apoio criado pelo Papa Pio XII, sendo um eclesiástico muito sensível à situação política, religiosa, económica e militar da China e treinado nas questões diplomáticas, mas teve a ousadia de demarcar-se da elite dominante do território.
Numa sessão milimetricamente preparada pela paróquia, coordenada pelo Pe.Nuno Sousa, tive o gosto de ter Américo Viveiros como orador da sessão que, na ocasião, fez um paralelo entre o papel da igreja defendido pelo bispo de Macau, inspirado pelo Concilio Vaticano II, e o da Igreja hoje. De forma contundente, o orador disse que era tempo de agarrar a juventude e dizer-lhe que o futuro da sociedade está para além do que nos é vendido nas redes sociais; privilegiar as pessoas, colocando-as no centro, denunciando o individualismo que se transformou numa praga, em que cada um se sente munido de direitos mas esquece-se dos deveres de reagir e de atuar.
O prefácio foi do Cónego João Maria Brum, que assim manifestou, como filho da terra, a sua pronta adesão à homenagem ao bispo de Macau, refletindo o seu indefetível amor ao seu torrão natal e, onde quer que ele se encontre, é sempre um verdadeiro embaixador desta terra que o viu nascer.
Foi de facto um momento muito alto e uma honra para a Paróquia do Senhor Bom Jesus, a homenagem a uma grande personalidade açoriana e a presença do Bispo de Angra valorizou em muito o lançamento do livro. D. Armando disse em jeito de conclusão: “Nesta noite saborosa, em que vemos como ele está vivo nesta terra que o quer eternizar, aprendi muito e vi leigos empenhados”.

António Pedro Costa

Print
Autor: CA

Categorias: Opinião

Tags:

Theme picker