Empresário defende uma maior regulação para o sector do turismo de aventura

Paulo Pacheco de 42 anos de idade é o proprietário da Azorean Active Blueberry, uma empresa criada em São Miguel há sensivelmente 8 anos, com o objectivo “de desenvolver um trabalho diferenciado numa área em que acredito”, começa por referir este empresário. Tendo como principais ofertas o canyoning (desporto que consiste na exploração progressiva de um rio, transpondo os obstáculos) e o coasteering (progressão ao longo da costa pelas rochas e pelo mar, recorrendo à natação, escalada, saltos e caminhada), Paulo Pacheco tem nos turistas a sua principal fatia de clientes.    
“Temos portugueses, embora não sejam dos mais activos (risos), e temos depois muitos turistas da Escandinávia, Holanda, Bélgica ou Alemanha. Tem muito a ver com os voos directos existentes com alguns desses países. Também temos vindo a assistir a um aumento de turistas do mercado de Leste, como da Polónia ou da Eslovénia. Para além disso, o outro lado do Atlântico e, obviamente os americanos e os canadianos são um mercado bastante forte que nos ‘alimenta’ ao longo do ano”, especifica.    
Sobre as actividades desenvolvidas pela empresa, Paulo Pacheco explica que “essencialmente ou estamos na montanha, a praticar o canyoning nas nossas ribeiras ou junto ao mar, explorando a costa”. Para além destas, o empresário realça ainda que, “esporadicamente”, são desenvolvidas actividades “como a escalada, no Inverno, ou outras direccionadas a crianças, durante o Verão”.  
“Fazemo-lo principalmente para podermos trabalhar com o mercado local. É uma perspectiva importante porque temos a vontade de desenvolver a vertente da sustentabilidade social e com o meio em que estamos inseridos. Para nós, é importante trabalhar com os locais e desempenhar um papel educativo, de formação e poder proporcionar estas experiências aos nossos residentes”, refere.
Mas o que procuram exactamente os clientes?
“Querem actividades que lhes permitam ter sensações e experiências, em família ou com amigos, que não conseguem vivenciar normalmente (…) São zonas lindíssimas e que levam as pessoas a estados, muitas vezes, de êxtase e de prazer absoluto”, responde.

Sector com potencial de crescimento
O empresário não tem dúvidas do potencial existente para a prática destas actividades em São Miguel e em outras ilhas da Região.
“As Flores e São Jorge ainda têm mais potencial e um nível de crescimento maior na vertente da autenticidade, diversidade e mesmo ao nível de dificuldade. Há outra polivalência de oferta em comparação com São Miguel, onde esta começa a ser um pouco limitada devido ao fluxo turístico que já se verifica. Há uma sobrecarga grande em algumas zonas onde trabalhamos porque existem outras empresas e turistas à volta enquanto nessas ilhas conseguimos estar mais isolados”, salienta.
O canyoning assistiu a um crescimento acentuado nos últimos anos e, “hoje em dia, deverão existir 6 ou 8 empresas a operar especificamente” nesta vertente, revela o empresário. Apesar dessa evidência, Paulo Pacheco considera que “ainda continua a haver espaço para crescimento”, embora defenda, por outro lado, que “não tem existido diversidade de oferta” nas novas empresas de turismo de aventura.
“Ainda há espaço para um outro tipo de ofertas, de criar novos produtos, novos serviços, mas, infelizmente, os que têm surgido vão atrás dos outros (…) um caso evidente é a Ribeira dos Caldeirões, no Nordeste, em que diariamente estão 5 ou 6 empresas o que altera completamente a ‘atmosfera”.

Necessidade de regular a legislação
A falta de regulação no sector é uma das grandes preocupações deste empresário micaelense.
“Nos últimos anos já se discutiu e já se criaram propostas de ordenamento ou de controlo ao nível da legislação da animação turística e a verdade é que não há nenhuma obrigatoriedade de, por exemplo, apostar na formação dos recursos humanos. Qualquer pessoa abre uma empresa e, no dia seguinte, passa a ser um técnico habilitado com possibilidade de desenvolver qualquer tipo de actividades”, alerta.
Paulo Pacheco lamenta ainda, apesar dos esforços e pedidos da parte dos empresários, a lentidão existente neste processo de regulação.
“Tem sido complicado darem-se passos efectivos. Isso foi discutido com os anteriores governos e já vamos para quase 10 anos sem respostas concretas. A verdade é que não têm havido mudanças, melhorias e continuamos a fazer sempre pressão nesse sentido, mas a verdade é que os resultados não aparecem”, frisa.
Actualmente com uma equipa de “dois guias fixos”, reforçados durante a época alta (entre Abril e Outubro) com mais colaboradores, Paulo Pacheco salienta que, “infelizmente não é possível termos uma equipa muito grande ao longo do ano. A sazonalidade continua a ser muito forte e não conseguimos fugir a isso”.

Actividades de “risco controlado”
Relativamente às questões relacionadas com o perigo e a segurança, o empresário realça que “estas não são actividades radicais”.
“São de risco controlado. Obviamente que há sempre uma componente de risco associado, nunca se pode fugir a isso, mas estas actividades já estão muito testadas e o risco acaba por ser muito reduzido. A forma como trabalhamos, os profissionais que temos e os equipamentos que utilizamos, faz com que seja realmente muito baixo. Temos trabalhado com milhares de turistas nos últimos anos e os acidentes são praticamente zero. Os que ocorreram, por exemplo, entorses ou escoriações numa perna, podem acontecer a qualquer pessoa que faça uma caminhada”, salienta.
A Azorean Active Blueberry tem nos concelhos do Nordeste e Ribeira Grande o seu ‘centro de negócio’ e, nesse sentido, Paulo Pacheco considera que é possível melhorar as condições num local específico.
“Há uma zona no Salto do Cabrito em que, se tivéssemos outras condições, poderíamos melhorar os acessos e trabalhar de outra forma. Neste momento estamos um bocado limitados porque têm ocorrido muitas derrocadas, muita instabilidade nas vertentes da ribeira e há zonas em que, se não houver limpeza, manutenção e melhoria dos acessos, torna-se complicado conseguirmos encontrar outros percursos alternativos”, aponta.
Fechadas as contas referentes ao ano de 2022, “em que tivemos à volta de 2.000 clientes”, a empresa vai-se preparando para a esperada procura daqui a poucos meses.
“Agora estamos mais parados, mas há sempre trabalho de manutenção, de treino ou de planeamento a fazer”, refere antes de destacar as principais características desta empresa.
“É um conjunto de pessoas que trabalham com alma e dedicação numa actividade que gostam de proporcionar e de partilhar com os que querem participar. É uma actividade que requer paixão porque, caso contrário, não é possível proporcionar satisfação a quem participa nas nossas actividades”, garante.
                                
Luís Lobão

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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