Miguel Furtado, administrador da Bensaude Distribuição

“As perspectivas para a hotelaria são boas para 2023 apesar de todas as incertezas”

Quantos produtores estão representados nesta 2ª Edição da Vinha Garrafeira para Profissionais?
Neste momento temos 32 produtores e isso representa um crescimento significativo face ao ano passado. Esse aumento está relacionado com o sucesso alcançado pelo evento na edição anterior. As pessoas querem estar presentes para poderem mostrar à restauração os vinhos novos, as novas colheitas e os novos produtos.

Este é um evento direccionado principalmente para os clientes do canal Horeca?
Sim, é muito direccionado para os profissionais do canal Horeca. Este é um certame que surge destinado a esse público alvo e não tanto para o consumidor final. Mas temos aqui alguns clientes mais assíduos da Vinha Garrafeira e que também fazemos questão que venham e apreciem as novas colheitas, porque, uma coisa é estar numa loja e ver os vinhos que consideramos ser mais ou menos apelativos, outra completamente diferente é estar com o produtor, provar e colocar questões.

Esse contacto directo com o produtor é uma das grandes vantagens deste certame?
A grande diferença é o tempo que o produtor tem disponível para cada cliente. Se houver alguém que tenha uma dúvida sobre uma casta, uma uva ou um método de produção ou que até pretenda ter alguns vinhos diferentes, mais ajustados ao seu próprio menu, este certame dá essa oportunidade aos clientes de poderem tirar as dúvidas junto de quem faz o vinho.

Essa proximidade com os clientes é muito importante…
Isto vem um pouco a par do que tem sido o crescimento económico da Região. O turismo tem sido um dos grandes drivers de crescimento e a restauração é, por excelência, um sector que cresce muito e que está muito relacionado com o desenvolvimento do turismo. O bom serviço e o bom produto que temos tem depois de ser aliado a uma carta de vinhos interessante. As equipas de venda saberem o que estão a oferecer valoriza toda a gente. Valoriza-nos obviamente o negócio, mas é também uma forma de puxarmos para cima todo o sector da restauração.  

A facturação tem vindo a acompanhar o aumento do fluxo de turistas?
Claro que sim. O ano de 2022 foi bastante interessante ao nível do canal Horeca e acredito que todos os nossos concorrentes devem ser sentido isso também. Mesmo comparando com anos anteriores, como 2019, o ano passado foi claramente bastante melhor e também acredito que estes certames acabam por puxar toda a gente para cima e permitem que as pessoas que estavam a vender vinhos com um preço um pouco acima do normal, saibam o que estão a vender. As perspectivas para 2023 são boas para este canal apesar de todas as incertezas.

O turista com grande poder de compra consome vinhos de um valor acima do normal? De que patamar estamos a falar?
Temos vinhos de todos os patamares e não é líquido que o turista estrangeiro consuma mais do que o continental ou mesmo do que o local. Apesar de terem um poder de compra maior, a verdade é que Portugal tem vinhos muito interessantes e diria até que é quase um crime produzir um mau vinho. A nossa expectativa é que o segmento dos vinhos continue a crescer porque as pessoas têm uma maior apetência para provar coisas novas e diferentes. Temos um sector vínico em Portugal extremamente interessante, com vinhos muito bons, mas obviamente se me perguntar quem consome mais champanhe, respondo-lhe que são os turistas estrangeiros porque não temos o mesmo poder de compra do que um país da Escandinávia ou da Europa Central. Os portugueses quando vão um restaurante também gostam de beber bons vinhos e vendem-se vinhos na Vinha Garrafeira desde os 2 euros até outros de 400 ou 800 euros. Há consumidores para todos os patamares de vinho, mas o mais importante é que as pessoas que trabalham na restauração saibam o que estão a vender e isso faz-se com muito formação e é nossa responsabilidade, de quem vende, proporcionar essa formação e essas provas.

Há muita procura dos turistas pelo vinho regional?
Há muito interesse e a verdade é que os vinhos regionais são muito bons. Somos mais conhecidos pelos brancos, apesar de também termos tintos, e considero que ombreamos com qualquer região portuguesa ou mesmo com outras do mundo bastante conhecidas. Temos vinhos açorianos em restaurantes de topo a nível mundial. Temos realizado um caminho positivo e acho que nos devemos orgulhar de termos vinhos muito bons que têm sido premiados ano após ano e os turistas, quando chegam aos Açores, gostam de experimentar o que é local.

Que patamar de vinhos adquirem a hotelaria e a restauração nos Açores?
Varia. Temos muitos vinhos na casa dos 4 ou 5 euros que se consomem bastante e temos vinhos mais caros. Depende muito do perfil de quem cá vem. Hoje em dia é difícil olharmos para um turista e tirarmos ‘a radiografia’ para perceber se vai consumir mais ou menos. As pessoas são muito mais descontraídas e quem vem aos Açores procura um turismo mais de natureza, mas diria que os vinhos que mais rodam, andam na casa dos 4 ou 5 euros.

Sente que o cliente açoriano está cada vez mais exigente?
Não é apenas o cliente açoriano, todos nós conseguimos ter acesso a mais informação do que antes e isso faz com que seja mais fácil saber sobre vinhos. Mas também podemos aconselhar sobre coisas que não conhecem e algo interessante nos vinhos, face a outros negócios, é que as pessoas têm muita vontade de experimentar coisas novas. Actualmente é muito difícil encontrar maus vinhos apesar de existirem expectativas sobre determinados vinhos que não são cumpridas, mas, diria que os vinhos são mais bem feitos e melhores hoje em dia. Temos muitas marcas, muitas regiões e, num país pequeno, apresentamos uma oferta diversificada. É interessante sair do Alentejo e encontrar um relevo completamente diferente do que existe 400 kms acima no Dão, no Douro ou então na Bairrada ou no Tejo, mas temos um leque de oferta bastante interessante o que torna o mundo dos vinhos bastante diversificado.

Já se sente o peso da inflação no preço dos vinhos?
Os produtores têm sentido aqui alguma pressão nos factores de produção. O vidro é um exemplo, a electricidade ou os combustíveis também. Houve aqui uma série de factores de produção que subiram e obviamente que isso afecta o preço do produto final. Até diria que o aumento de preço tem sido algo comedido nos vinhos face aquilo que vamos ouvindo de outras matérias primas. Mas isso é inevitável por mais que queiramos combater. Obviamente que o vinho não é um bem de primeira necessidade, faz bem à alma, e é algo de que se pode prescindir. Ainda não temos sentido muito isso também graças ao turismo que acaba por camuflar um pouco a procura.

Mas isso pode vir acontecer nos tempos mais próximos?
É sempre uma incógnita. É possível que o consumo se retraia um pouco se bem que eu sou optimista e quero acreditar que vamos ter um ano turístico bastante interessante. Diria que pode acontecer, mas também pode acontecer o contrário. Continuamos a dinamizar muito o sector turístico, vão surgir mais hotéis, mais camas, acredito que o alojamento local também vai crescer, que isso poderá compensar um pouco a inflação e espero que haja mais rendimento disponível para que toda a economia ganhe.
                                                  
Luís Lobão

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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