Paula Mota regressa à pintura com uma exposição em Braga de bombas vulcânicas do Pico

 Após vários anos a descansar os pincéis, Paula Mota, professora e pintora, regressa com pinturas de bombas vulcânicas na exposição colectiva “Geografias e Metamorfoses”, que será apresentada em Março, em Braga, no Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa.
No seu ateliê, as bombas vulcânicas ganham vida, passando do desenho a carvão para as telas em acrílico. As bombas são um tipo de piroclasto formado quando um vulcão expele fragmentos viscosos de lava durante uma erupção. Os fragmentos arrefecem até solidificar antes do embate no solo. Foi no Pico que Paula os encontrou e, fascinada por eles, tomou-os como objecto artístico, sendo que agora a sua arte inspira-se muito na natureza.
“Sempre gostei deste género de pedra, mas quando soube da história e de como se forma, começou a interessar-me”, explica. As formas e texturas destas peculiares formações, chamadas bombas vulcânicas, intrigaram Paula Mota, nas suas idas à ilha do Pico. A artista conta que começou a apanhá-las e, há quatro anos, a desenhá-las. No seu ateliê tem várias, de pequenas dimensões e exemplifica: “Há umas assim mais alongadas, umas mais redondas, mas, no fundo, têm todas esta forma… e não são muito pesadas. Uso, mas não estrago”, alerta. Para Paula Mota, as suas bombas vulcânicas são um “tesouro”.
Pintadas em tela ou papel, as bombas dão largas à imaginação, através das suas texturas e orifícios, como quem imagina formas nas nuvens: “Uma coisa engraçada, elas, depois de desenhadas, dão caras de animais… ficam com um ar animalesco”, descreve, enquanto admira as peças, que levará consigo para o continente português muito brevemente.
Na exposição colectiva “Geografias e Metamorfoses”, promovida pela Fundação Bracara Augusta, em Braga, Paula Mota vai expor com outros colegas de Belas Artes, durante Março, não sendo esta a primeira colaboração dos artistas.

“O que interessa é estarmos
satisfeitos com aquilo que fazemos”

Correio dos Açores - Lembra-se quando começou a pintar?
Paula Mota - Fiz um ano da licenciatura em Arquitectura, que detestei, mas adorei a parte do desenho. Foi aí que descobri que gostava muito de desenhar. Fiz novamente o 12.º, fui para Belas Artes e tirei Pintura. Nas Belas Artes do Porto, no 1.º ano, tinha-se tudo junto, mas quando entrei, já era tudo separado. Portanto fiz só Pintura. Tive cinco anos de faculdade, sempre a pintar. Foi a partir daí que comecei a pintar a sério.

Na sua infância e juventude, pintava?
Sempre adorei desenhar e pintar. Aliás, na minha família há muita gente ligada às artes, à música, à pintura. Já a minha mãe, que neste momento teria 101 anos, tinha uma irmã formada em Belas Artes. A minha avó e as minhas tias-avós, todas pintavam. Na altura, havia professores particulares. A minha avó teve grandes mestres de pintura, aqueles pintores conhecidos no Porto, na altura, do principio do século XX. É uma coisa muito familiar. Cresci com isso.

Que materiais utiliza?
Na pintura uso o acrílico sobre tela, desenho com vários materiais. Eu sou muito poupada, guardo tudo, de maneira que uso tudo o que tenho. Na altura em que não estava a pintar, fiz muitos trabalhos sobre papel. E como guardo tudo… vi uma exposição há uns anos, nos Estados Unidos, num centro enorme chamado MASS MoCA, que tem exposições e instalações enormes. Lá vi um trabalho da Annie Lennox, cantora da banda Eurythmics – foi das coisas mais incríveis que vi, que me tocou mesmo – era uma instalação gigantesca, que era um monte de terra e sobre esse monte de terra e por baixo, ela colocou objectos que guardou desde a sua infância e que eram importantes para ela. No fundo, ela desprendeu-se das coisas que guardou ao longo da vida e usou-as no seu trabalho. Eu, que sempre fui uma pessoa de guardar muita coisa, e como vim viver para cá muito cedo, com 27 ou 28 anos, saí da minha casa e sempre tive esse hábito de guardar tudo. Depois de ver essa exposição e de chegar aqui, pensei “porque é que guardava aquelas coisas, é para as usar” e fiz uma série de trabalhos em que usei muita coisa que já tinha, desde desenhos a fotografias, bilhetes.
Como tenho viajado muito e visto muita coisa, cheguei à conclusão que as pessoas são muito conservadoras e castradoras e acham que as coisas têm de ser de determinada maneira e se não for assim ficam muito incomodadas. A liberdade é de tal maneira, e as pessoas hoje são tão livres para explorar os seus caminhos, que deixei de ter vergonha. No fundo, o que interessa é estarmos satisfeitos e sentirmos alguma satisfação naquilo que vamos fazemos, independentemente do que as pessoas pensam.
Sempre gostei de desenhar, mas normalmente não faço desenhos para pintar. Faço colagens e depois então pinto. Uso muito o papel e imagens que já existem, componho e depois passo para a pinturas. Nessa altura é que usava muito a figura feminina e as referências arquitectónicas do espaço, das casas e de ambientes em ruínas. Vou começar a fazer mais uns estudos, porque agora que já comecei a pintar, vou continuar. O que custa é começar.

Em que se inspira para pintar?
Inspiro-me muito na minha vida. Usava muito a figura feminina, mas ultimamente tenho me inspirado muito mais na natureza. Estou muito ligada à parte da natureza, das nuvens, destas pedras, da paisagem.

Qual é o seu estilo?
Não sinto que tenha um estilo. Sou figurativa, sem dúvida. Não sou uma pintora abstracta e não sou propriamente expressionista. Não começo do zero e também não começo através do desenho. Agora está a ser a primeira vez que faço a partir de desenhos, mas normalmente fazia a partir de combinações de imagens. Numa altura, toda a gente achava que eu era artista pop, mas não me sinto isso, porque não utilizo as técnicas da arte pop.  Não acho que tenho um estilo específico.

             
Mariana Rovoredo

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Autor: CA

Categorias: Regional

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