Correio dos Açores - Que relevância atribui ao Dia Mundial do Doente?
João Pedro Cardoso (Director Clínico do Hospital do Divino Espírito Santo) - A pessoa doente, além da fragilidade associada à condição física e/ou mental que a atinge, irá vivenciar um estado que, muitas vezes, conduz a situações de incapacidade e desvantagem associadas. Desta forma, poderá inclusivamente ver-se cerceada na sua capacidade de conseguir obter as melhores soluções e, até eventualmente, de conseguir defender os seus melhores interesses e direitos.
Em 1991, quando o Papa João Paulo II propôs a instituição do dia 11 de Fevereiro como Dia Mundial do Doente teria o propósito de consciencializar todos os agentes de saúde, bem como a sociedade em geral, para a importância de apoiar os doentes nas suas necessidades.
O verdadeiro leitmotiv deste dia que hoje assinalamos é tornar o doente no centro de todo o processo de saúde.
Considera imperativo colocar as necessidades dos doentes no centro do sistema de saúde? O que é que isto significa na prática? E quais as medidas que, na sua opinião, poderiam ajudar a que isso acontecesse?
Na minha perspectiva, a missão de qualquer instituição de saúde é verdadeiramente essa. O doente sempre no centro do sistema. Serviço e acesso serão os dois pilares fundamentais.
Serviço numa perspectiva de uma prática compassiva e empática dos cuidados de saúde, procurando sempre uma abordagem humanista dos doentes.
Acesso significa, para mim, que uma instituição de saúde deve procurar que os doentes consigam ter os melhores cuidados de saúde da forma mais adequada e atempada possível.
Evidentemente que, para que isto possa ocorrer, temos de assegurar que o doente é verdadeira e realmente o foco dos cuidados de saúde.
Aparentemente, o grau de insatisfação dos utentes/doentes aumentou nos últimos tempos. Considera que têm, de facto, razões para estar insatisfeitos?
Actualmente, se analisarmos os dados demográficos, constatamos que a longevidade dos nossos doentes é cada vez maior. Isso tem razões explicáveis por uma melhoria assinalável na medicina preventiva, bem como na medicina curativa. As pessoas ao viverem mais têm também uma maior probabilidade de vivenciarem situações de doença e obviamente que exigem os melhores cuidados e um acesso rápido e adequado aos mesmos.
Ao mesmo tempo, os hospitais são confrontados com um aumento na procura e deverão adequar-se cada vez mais aos novos tempos que vivemos. O doente não é apenas um sujeito passivo no processo de doença e, portanto, eu gosto de encarar a exigência dos doentes como um desafio que leve as unidades de saúde a melhorarem os seus cuidados de forma continuada.
A qualidade da informação disponibilizada e o trato do pessoal clínico são dos principais motivos de queixa dos utentes dos serviços de saúde. O que falha para que se sintam assim?
Tenho as melhores razões para acreditar que os cuidados prestados nas nossas unidades de saúde são humanos e sempre tentam respeitar o princípio do consentimento informado, em que o doente está na posse do conhecimento que lhe permite tomar uma decisão de forma estruturada.
Por vezes isso poderá não acontecer, mas é também com o feedback dos nossos doentes que conseguimos crescer e ir melhorando o nosso nível de prestação de cuidados.
Os doentes do HDES têm razões de queixa? De que se queixam mais?
Há doentes que se queixam com razão e também observamos casos de queixas sem fundamento. Há muitos motivos de reclamação dos doentes, mas o mais frequente relaciona-se com situações de espera por actos de saúde, designadamente consultas, exames, cirurgias, entre outros. É algo que penso que temos vindo a melhorar e que deve continuar a ser um dos focos principais de qualquer Governo da Região.
Há a preocupação de informar o doente, de o incluir nas decisões relacionadas com a sua saúde, como os constrangimentos de tempo e questões económicas que impedem que os médicos e profissionais de saúde de irem mais além?
Actualmente, todos os profissionais de saúde são formados com noções de ética e deontologia que me levam a acreditar que os nossos doentes estarão informados dos seus processos clínicos e que conseguem tomar decisões acompanhados pelos seus médicos. A pressão actual sobre Serviço Regional de Saúde, provocada por uma cada vez maior procura, é, de facto, uma contrariedade que, por vezes, pode tornar menos profícua a relação médico-doente.
Como enquadra o Serviço Regional de Saúde nos cuidados de saúde que são prestados a nível nacional?
O Serviço Regional de Saúde tem desafios muito específicos, o que o diferenciam em muito do Serviço Nacional de Saúde. Se pensarmos que temos seis ilhas sem hospital e a isto juntarmos também o facto de que os cuidados mais diferenciados (transplantação e centros de excelência) não existirem na Região, poderemos depreender que é difícil conseguir garantir uma acessibilidade e nível de cuidados exactamente iguais aos que os cidadãos que vivem no continente terão.
Na sua opinião, os doentes têm confiança no Serviço Regional de Saúde?
Os doentes podem confiar no SRS. Temos profissionais de excelência, com uma capacitação e nível de autonomia cada vez maior. O caminho tem sido feito. Há uma perspectiva de crescimento e de diferenciação que deverá ser sempre acompanhada pelo poder político para conseguirmos ter um Serviço Regional de Saúde cada vez mais forte e próximo dos seus doentes.
A questão da sustentabilidade do SRS e do seu financiamento são aspectos relevantes. Na sua opinião, qual o caminho para tornar o SRS mais sustentável?
É uma resposta demasiado longa para conseguir colocar em poucas palavras.
Que mensagem quer deixar neste dia?
Gostaria de deixar uma mensagem de esperança a todos os doentes. Que consigam sempre encontrar nos cuidados de saúde o conforto humano duma resposta para o seu problema!
Carlota Pimentel