O prometido é devido e ontem de manhã, no portão sul da Escola Secundária Antero de Quental reuniu-se uma vasta e determinada comunidade escolar em protesto pela falta de equipamento, pessoal e obras estruturantes na escola-palácio Antero de Quental. A opinião era unânime entre todos, no que toca às “precárias condições” e no que tem de ser feito para dar aos alunos o ensino que “merecem”, numa escola que, apesar das circunstâncias, apresenta “óptimos resultados” entre as escolas da Região. O Correio dos Açores aproveitou a ocasião para ouvir os testemunhos de alunos e professores, da Presidente da Associação de Pais, do Presidente da Associação de Estudantes e ainda do Presidente do Conselho Executivo.
O presidente do Conselho Executivo, Ulisses Barata, no cargo há seis anos, e que anteriormente não se quis pronunciar sobre o assunto, diz que ficou satisfeito em verificar que as associações de Pais e de Estudantes se juntaram em defesa da escola, nesta manifestação que é uma “chamada de atenção” para uma situação que já se arrasta há “20 anos” e que, segundo a comunidade escolar, piora de dia para dia.
Apesar de já se falar na reabilitação da escola há muito tempo e de certas obras terem já sido realizadas pelo actual executivo, Ulisses Barata admite que não têm sido suficientes. Para além disso, “em 2018, no orçamento, estavam inscritas verbas que nunca foram aplicadas na requalificação da escola”, lembra, Ulisses, que defende que a Assembleia Legislativa dos Açores deve ter uma “acção mais fiscalizadora relativamente ao que é inscrito nos orçamentos”. Explica que o orçamento deveria ser reforçado, tendo em conta que a manutenção da escola é bi-partida, uma para a parte do palácio, em que as intervenções têm de ser constantes, e outra parte para o edifício mais recente, que “também foi esquecido ao longo do tempo”. “Os alunos tiveram esta iniciativa para chamar a atenção, porque de facto, é uma escola que deu muito à Região e continua a dar”, conclui.
Sofia Paiva, aluna do 10.º ano na Antero de Quental, verifica que faltam auxiliares, projectores, cadeiras, mesas, mas também professores. Lamenta a falta de professores de Matemática, sendo que no próximo ano realizará um estágio em que Matemática será essencial, mas que de Dezembro a Janeiro não teve essa disciplina por falta de professor. A aluna juntou-se à manifestação para lutar por mais condições, auxiliares e professores.
Mafalda Miranda, também estudante do 10.º ano, tinha o sonho de estudar na Antero de Quental, pela sua história, mesmo sabendo de alguns problemas. No entanto, “não estava à espera de tanta falta de condições”, aponta. A aluna de Ciências e Tecnologias tem visto o seu ensino ser condicionado pelo material de laboratório obsoleto e em “péssimas condições”, conta: “fazemos experiências e elas não dão o resultado pretendido, porque os materiais não funcionam correctamente”. Verifica, na escola, ainda chãos partidos e consumidos por térmitas, tectos partidos e “paredes manchadas”.
“Nós temos excelentes resultados
e os miúdos merecem melhor”
Carla Pousa, professora de Português na Antero de Quental há quase 30 anos, conta que as condições têm se vindo a deteriorar, “a todos os níveis, não só o edifício, como as próprias condições do bar e da cantina”. A professora expressa que “os miúdos merecem muito melhor e merecem que a tutela, a Direcção Regional da Educação, olhe para nós e para a escola. Nós temos excelentes resultados e excelentes alunos e precisamos de excelentes condições”, referindo que os alunos não estão a pedir mais do que têm direito. Carla Pousa concorda que estas condições condicionam o ensino dos alunos: “não havendo condições e os miúdos não estando confortáveis - com cadeiras velhas que rasgam a roupa - nada disso proporciona um bom desempenho. “Está degradante”, considera a professora.
Rodrigo Monteiro, Presidente da Associação de Estudantes e porta-voz dos alunos, não se intimida quando se trata de defender os direitos dos seus colegas, estando sempre na frente da manifestação. Rodrigo conta que anteriormente foram pedidas cerca de 50 cadeiras – neste momento são precisas 400 cadeiras, acrescenta – e que esse pedido, que não rondava um valor alto, foi negada pela tutela. No entanto, conta que a escola, mesmo não tendo as condições tecnológicas para os implementar, recebeu cerca de 16 quadros digitais, que perfazem um valor elevado. Perante esta situação, Rodrigo questiona, indignado, porque é que, para materiais essenciais como cadeiras e mesas, a verba não é disponibilizada.
Bernardete Lopes é a Presidente da Associação de Pais da Escola Secundária Antero de Quental e considera que esta situação “não pode acontecer numa escola do nosso século. Todas as escolas estão apetrechadas e só os nossos alunos não têm as mesmas condições”, aponta, defendendo que o facto de se tratar de uma escola-palácio, com elevado custo de reabilitação, não pode ser desculpa para que os alunos não tenham as mesmas condições que os alunos das outras escolas. Neste sentido, Bernardete Lopes expõe que a manifestação tenciona fazer a Direcção Regional da Educação avançar com um projecto para a escola, e que entretanto se equipe as salas. “Percebemos que esta parte da reabilitação leva mais tempo, mas no que toca às salas de aula e os seus equipamentos, não podem ficar à espera das obras”, defende. Além do mais, “a falta de funcionários é gritante”, e diz reconhecer o esforço do pessoal docente e não docente para que os alunos tenham o melhor ensino possível.
Secretária da Educação nega acusações de indiferença
perante as necessidades da Escola Antero de Quental
Sofia Ribeiro, Secretária Regional da Educação e dos Assuntos Culturais, pronunciou-se e sobre o assunto no dia da manifestação. A governante nega as acusações de indiferença perante as necessidades da escola, adiantando que “a par das pequenas reparações que são da competência do Conselho Executivo”,a tutela “continuará a acompanhar e a encetar as intervenções que se revelem necessárias, nesta e em todas as escolas da Região”. No que toca ao número total de assistentes operacionais apurado para a Antero de Quental, “assim como para todas as outras unidades orgânicas”, resulta “do número e especificidades dos seus alunos, bem como das características e do modo de funcionamento do estabelecimento”, explica a secretária. Para a Antero de Quental foi “apurado um rácio actual de um trabalhador por cada 35 alunos.”
Na mesma nota, Sofia Ribeiro saúda o espírito proativo na defesa das condições de trabalho da escola, mas considera que deve ser “consubstanciado em informação desactualizada”, acrescentando que não foi “apresentado qualquer pedido prévio por parte da Associação de Estudantes”.
A Secretária da Educação listou as intervenções realizadas naquele estabelecimento de ensino nos últimos anos, sendo que “logo no início do mandato, o XIII Governo dos Açores assegurou ser prioritária a intervenção na Escola Antero de Quental”. Sofia Ribeiro diz ter sido “definido um plano de intervenção” na escola, que foi “de imediato implementado”, tendo a Secretaria da Educação “dado nota desse plano à Associação de Pais em missiva enviada a 14 de Dezembro de 2021”. Entre outras várias acções listadas na nota, Sofia Ribeiro diz ter-se reparado a sala de professores, bem como aquela ala; “a recuperação e a manutenção dos portões da escola”; “intervenção para garantir a segurança da varanda sul do Palácio, com o restauro e a recuperação dos vasos e pilaretes”; “reparação das fissuras e impermeabilização de aba na cobertura do palácio e a substituição da cobertura do edifício da secção que continha amianto”; a reparação de infiltrações no ginásio B. Refere ainda aquisição de vários equipamentos informáticos e kits de robótica. A Secretária afirmou, por fim, que a Antero de Quental, “bem como outras escolas, este ano receberão mais equipamento informático e de acesso à rede, bem como material de laboratório e equipamentos musicais”.
Mariana Rovoredo