Correio dos Açores - Qual é a relevância e o sentido da Quarta-feira de cinzas para os cristãos?
Sobretudo, é um reinício, o reinício de uma etapa, um reinício de uma forma nova de estar e de ver. É um mergulhar nas origens, irmos ao mais íntimo de cada um de nós, irmos àquilo que é a nossa intimidade, a nossa profundidade. Darmos um sentido novo de esperança, um sentido novo de Páscoa, de Ressurreição, de transformação.
É, sobretudo, um abrir de olhos à novidade que Deus nos trás, que é amor, é misericórdia, é esta possibilidade que eu tenho de ser mais “eu”, e quando digo ser mais “eu”, ter mais um “eu” humano, mais um “eu” divino, mais um “eu” próximo dos outros, mais um “eu” gestor de paz e de misericórdia.
É, sobretudo, este reconhecimento da minha fragilidade, da minha debilidade e projectar na novidade e a novidade só pode ser a Ressurreição.
É, sobretudo, o abrir um caminho novo, sabendo que tenho de me sepultar daquilo que não é humano, que não me dignifica, que não me humaniza. Saber que eu tenho esperança de ressurreição, que sou destinado à ressurreição.
As cinzas não são apenas um sinal de rebaixamento, mas é, sobretudo, um grito de esperança e dizer “Aquilo que eu sou, a minha fragilidade, tem uma saída, tem uma possibilidade e essa possibilidade chama-se Jesus Cristo, chama-se Páscoa, chama-se vida”.
Despertar para este
sentido novo do “outro”
Pode ser também um despertar para uma maior solidariedade?
Também o é. Um despertar para este sentido novo do “outro”, este sentido novo da própria vida. Por isso, é um tempo de jejum e abstinência. Jejum e abstinência não é apenas jejuar, deixar de ter uma refeição e abster-me da carne, como é tradição.
É, sobretudo, jejuar e abster-me daquilo que não me dignifica, daquilo que não me humaniza, abster-me daquilo que não me faz uma pessoa feliz, daquilo que não me faz uma pessoa próxima dos outros. Por isso, também este sentido da solidariedade e da partilha. Aquilo que eu renuncio, renuncio em função do outro. Não é apenas renunciar por renunciar. Não é só privar por privar, é privar-me para que aquilo que eu poderia ter gasto seja partilhado com os outros, mas sobretudo que eu me prive e seguir ao encontro do outro; que eu jejue aquilo que não me humaniza, aquilo que não me dignifique e aquilo que não me aproxime dos outros e que me faça ir ao outro com uma atitude de solidariedade, não só de dar, mas dar-lhe, de estar presente, de escutar, de abraçar, de acolher, de aceitar. Este é o caminho que se faz, de humanização, e a Quarema é um caminho de humanidade, não é um caminho de dor, apenas de sofrimento, de Cruz, mas é um caminho de Ressurreição, de vida, de alegria.
A dimensão dos Açores na Jornada Mundial da Juventude
Correio dos Açores - Qual é o lema dos cerca de um milhar de jovens dos Açores que vão para a Jornada Mundial da Juventude?
Padre Norberto Brum - Este caminho que estamos a fazer é um caminho que queremos que seja de proximidade e alegria, é um caminho de descoberta de Jesus Cristo. O tema da Jornada Mundial é precisamente este “Maria levantou-se e partiu apressadamente”. Maria levantou-se e foi ao encontro de Isabel, sua prima - o queremos que aconteça em cada um de nós e que os jovens dos Açores também possam sair de si mesmos e ir não só à Jornada, ir não só ao encontro com 15 milhões de jovens e com o Papa, mas ir ao encontro de Jesus Cristo para que, a partir deste encontro, sejam capazes de ir ao encontro dos outros jovens.
Por isso, esta mobilização, este querer tocar e chegar a todos, não é apenas para sermos um grupo muito grande, mas é para que o nosso amor, felicidade, o nosso ser para os outros seja cada vez maiores e melhores, por isso este desafio de todos juntos construirmos e edificarmos uma igreja nova. E temos três factores que contribuem para isso.
Primeiro, temos o convite do Papa e temos o próprio Papa Francisco, que é um homem que nos provoca. Depois temos o pretexto da própria Jornada Mundial da Juventude, este encontro com jovens do mundo inteiro, este encontro que é de festa e alegria. E depois temos em terceiro lugar também a nosso favor, o D. Armando, o nosso novo Bispo. O homem que já vimos, pelo pouco tempo que está cá, a gente já presenciou e já sentiu esta proximidade, aquele coração aberto, aquele olhar, aquele sorriso que nos cativam, um homem extraordinário. Um homem que quer que os jovens estejam na sua agenda, que os jovens sejam a sua prioridade. É mais um factor a nosso favor. Tudo isto se conjuga para que realmente este caminho seja um caminho de transformação, um caminho de esperança. Nós acreditamos nisto.