A Universidade dos Açores recebeu a sua primeira Cátedra UNESCO, que é dedicada à Biodiversidade e Sustentabilidade em Ilhas Atlânticas. A atribuição surge de uma candidatura feita pela CIBIO-Açores, grupo de investigação sediado na Universidade dos Açores, em 2021. O projecto foi aprovado no final de 2022, explica o investigador Luís Silva, Director da CIBIO-Açores e detentor (Chair Holder) da cátedra. A Cátedra arranca agora, e a 28 de Fevereiro terá lugar a apresentação pública do projecto, às 14h30, no Anfiteatro VIII da Universidade dos Açores, Campus de Ponta Delgada. A nível global, contam-se mais de 900 Cátedras UNESCO. Em Portugal existem 20, sendo que a cátedra atribuída à Universidade dos Açores foi a 19.ª.
As Cátedras UNESCO têm o intuito de desenvolver competências nas instituições de ensino superior e investigação, mediante o intercâmbio e a partilha do saber em prol de um espírito de solidariedade internacional. Luís Silva conta que esta atribuição representa um marco importante e explica que as cátedras permitem a criação de redes. “A nossa cátedra em particular tem como objectivo criar uma rede de investigação e ensino, com outros entidades” que se dediquem aos estudos em ilhas, explica.
Este projecto permitirá à Universidade dos Açores criar uma rede de parcerias com outras universidades, empresas e associações não-governamentais, não só de todo o oceano Atlântico, mas também internacionais, que sejam relevantes para a investigação da área: “No nosso caso, temos 20 parceiros, que vão desde as Ilhas Falkland, a Ilha de Santa Helena, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Canárias, Madeira, Bermuda. Temos também no norte do Atlântico, as Ilhas Faroé e Islândia. Temos ainda alguns parceiros que não são sedeados em ilhas, por exemplo, a Universidade de Gibraltar, que embora não estando localizado numa ilha, é um enclave e quis associar-se a esta rede. Temos também parceiros em Portugal, outras cátedras que já existem, nomeadamente cátedras ligadas a geoparques. Estamos também ligados a outro tipo de entidades como os Amigos dos Açores, associação não-governamental, empresas. Temos um parceiro que é a Simbiente Açores”, conta o doutorado em Biologia, sobre o projecto.
Desde a sua atribuição, a Cátedra da Universidade dos Açores já participou na comemoração dos 30 anos das Cátedras UNESCO, em Paris, bem como no encontro das cátedras que existem em Portugal. Neste seguimento, esta atribuição permite à Universidade dos Açores estar presente neste tipo de fóruns, explica Luís.
O Chair Holder doutorado em Biologia conta que um objectivo para breve é organizar um encontro de redes UNESCO nos Açores: “A UNESCO não inclui apenas as Cátedras .Incluídas nas redes UNESCO existem também as reservas de bioesfera, os geoparques, as escolas UNESCO, os centros, bibliotecas UNESCO. Há uma série de redes UNESCO. Um dos nossos objectivos é fazer um encontro a nível dos Açores, com os diferentes tipos de redes UNESCO, que inclui também o património cultural”
Programa permitirá colaborações
na investigação sobre biodiversidade
e sustentabilidade
De acordo com a descrição do projecto, o foco desta cátedra é a investigação científica e o ensino, abordando a conciliação da preservação da biodiversidade, a todos os níveis, desde os genes aos ecossistemas, com os objectivos de desenvolvimento sustentável. As áreas protegidas, os sítios património mundial e as reservas de biosfera, incluindo os geoparques, serão particularmente visados. Serão utilizadas metodologias tradicionais e as tecnologias digitais para aumentar o interesse público na biodiversidade das ilhas atlânticas e para alcançar o desenvolvimento social, preservando simultaneamente o património natural. Serão criadas oportunidades de investigação e aprendizagem, abordando a evolução e conservação nas ilhas, a biodiversidade marinha, a biogeografia e a paleontologia, a limnologia, a modelação geoespacial, o ordenamento do território e o ecoturismo. As ligações com a administração pública, as empresas locais e as organizações não governamentais permitirão uma difusão mais eficaz dos resultados da investigação. E as ligações entre universidades e instituições de investigação nas ilhas atlânticas e iniciativas globais, como o Air Centre, assegurarão uma plataforma científica e educacional sólida.
A Cátedra UNESCO da Universidade dos Açores terá como parceiros as universidades da Madeira, de Cabo Verde, de São Tomé e Príncipe, de Gibraltar, das Ilhas Faroé, de Maryland, Universidade Técnica do Atlântico, Instituto Universitário ECOAQUA; Cátedras UNESCO “Vida na Terra” e “Geoparques”, InBIO, LEAF, AIR Centre, Jardim Botánico Canario, Bermuda Institute of Ocean Sciences, St Helena Research Institute, Southwest Iceland Nature Research, South Atlantic Environmental Research Institute, Simbiente Açores e Amigos dos Açores – Associação Ecológica.
CIBIO- Açores
É o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, sediado na Universidade dos Açores. Foi criado em 2006 e constitui um grupo de investigação da InBIO – Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva. O CIBIO-Açorestem como actual Director Luís Filipe Dias e Silva, investigador do InBio, doutorado em Biologia com especialidade em Ecologia Vegetal, que conta já com muitos artigos publicados e tendo já leccionado em licenciaturas, mestrados e doutoramentos nas áreas da bioestatística, métodos quantitativos, estatística ecológica, ecologia e conservação.
A actividade do CIBIO - Açores entra-se no desenvolvimento de investigação de elevado nível na área da biodiversidade, utilizando os Açores e outros sistemas insulares como modelo. As suas áreas de ação estendem-se dos biótopos costeiros até às florestas naturais e de exóticas, incluindo também a ecologia das águas interiores, a paleoecologia e a paleontologia.
Mariana Rovoredo