Correio dos Açores - Que reflexão faz sobre o Dia Mundial de Protecção Civil?
Major Rui Andrade (Presidente do Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores) – É um dia de extrema importância para toda a população, uma vez que se trata da comemoração que a todos diz respeito.
Se, por um lado, é um dia de prestar homenagem e relembrar o papel de todos os agentes que se estão associados a esta área, é também uma forma de destacar o papel da Protecção Civil e promover, junto da população, a adopção de uma cultura de segurança e prevenção para que se saiba agir perante situações de maior ameaça e adversidade. Como primeiro agente de protecção civil, cada cidadão deverá ter presente o papel interveniente – seja em casa, no local de trabalho, na escola – que poderá ter na prevenção e mitigação dos riscos a que estamos sujeitos.
Os açorianos têm a noção, em toda a sua dimensão, do que é o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros? O que se poderá fazer para que o serviço fique mais próximo de quem serve?
Penso que, de uma forma geral, a população açoriana é conhecedora daquela que é a missão deste serviço, ou seja, orientar, coordenar e fiscalizar, na Região, as actividades de Protecção Civil e dos Corpos de Bombeiros, assim como assegurar o funcionamento de um sistema de transporte terrestre de emergência médica, de forma a garantir, aos sinistrados ou vítimas de doença súbita, a pronta e correcta prestação de cuidados de saúde.
As variadas acções de sensibilização que o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros (SRPCBA) promove, sobretudo junto das crianças e jovens, através do projecto dos ‘Clubes de Protecção Civil’ implementado em 38 escolas do arquipélago, constituem um exemplo de aproximação à população, levando a cabo palestras com temas sobre a missão da Protecção Civil, o funcionamento do 112 e do Centro de Operações e Emergência, primeiros socorros, riscos naturais e medidas de autoprotecção, assim como com a realização de mass trainings em suporte básico de vida.
A título de exemplo, em 2021 e 2022, o SRPCBA ministrou 471 acções sensibilização, o que permitiu abranger 22615 participantes. Para este ano, estão previstas serem realizadas 206 acções de sensibilização.
Por outro lado, a aproximação também tem sido notória através dos meios digitais, nomeadamente com a aplicação disponível para smartphones Alert4You – PROCIV Azores, o portal e as redes sociais em que o SRPCBA está presente, permitindo divulgar informação atempada, pertinente e necessária à população (como avisos meteorológicos, comunicados sismológicos, notas informativas), bem como dar a conhecer acções que este serviço realiza ou participa.
Outra forma de aproximar a população à Protecção Civil, mostrando as várias valências, é precisamente através das comemorações do Dia Mundial da Protecção Civil. Exemplo disso é a realização do evento que iremos promover este ano, a ter lugar em Angra do Heroísmo, que será uma oportunidade para reunir e dar a conhecer os vários agentes com responsabilidade em matéria de Protecção Civil na Região, através dos meios que irão expor e actividades que estarão a desenvolver ao longo do dia.
De uma forma generalizada, que papel tem desempenhado o Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores na defesa e protecção dos açorianos?
Com a criação do SRPCBA, após o sismo de 1980, os Açores passaram a ter uma entidade capaz de planificar, coordenar, comandar e executar operações de socorro à população, que esteve sempre ao lado da população açoriana nos momentos mais difíceis originados por furacões, tempestades, cheias, deslizamentos de terra, sismos ou acidentes graves.
Actualmente, o SRPCBA continua a trabalhar com o objectivo principal de aumentar e melhorar a capacidade de resposta e qualidade do socorro prestado às populações, através da aquisição de novos equipamentos e com a aposta em duas áreas de primordial importância: as acções de sensibilização junto da população e as acções de formação ministradas, sobretudo, a corpos de bombeiros, mas também a profissionais de saúde e outras entidades particulares, procurando sempre responder às necessidades e adaptar a formação à realidade das ameaças e dos riscos que pendem sobre o arquipélago.
Esta preparação passa, igualmente, pela cooperação com os vários agentes de protecção civil e o apoio ainda na assessoria técnica e científica, bem como pela organização e participação em diversos exercícios.
Agora, em que já há alguma distância do acontecimento, considera que terá sido exagerada a forma como se agiu perante a protecção das populações de São Jorge face à dimensão da crise sísmica das Manadas? Como analisa toda a envolvência que se criou em redor desta crise sísmica?
De forma alguma. As acções de resposta a este tipo de eventos têm como base aquilo que é a assessoria científica e, neste caso em particular, o CIVISA teve um papel preponderante.
A componente científica considerava que a probabilidade de haver um acontecimento sismo-vulcânico era muito elevada e, por consequência, ter de evacuar a população era uma forte possibilidade. Este era o cenário. Não podemos permitir que o facto de não ter acontecido o pior se traduza numa sensação de que todas as medidas adoptadas foram exageradas.
Ultrapassado o momento, estou certo de que conseguimos a envolvência necessária e que nos permitiu desenvolver uma acção preventiva que se foi ajustando consoante a evolução da situação. Acredito que todos os intervenientes, desde a população, aos municípios, aos corpos de bombeiros, às Forças Armadas, entre outros, estiveram à altura do desafio e demonstraram uma ampla e eficaz capacidade de resposta a nível regional, o que deve tranquilizar a população.
Quais são os principais desafios e obstáculos que o Serviço Regional de Protecção Civil enfrenta no exercício da sua missão?
Obviamente que a realidade geográfica é o principal desafio com que nos deparamos. Estamos divididos por nove ilhas, o que aumenta exponencialmente a dificuldade nas acções de socorro à população e na rapidez de actuarmos, quer na deslocação de operacionais, quer na projecção de meios em situações reais ou nos exercícios, ou mesmo no caso das formações. Obriga, por isso, a um grande trabalho em termos de preparação, planeamento e organização da parte deste serviço.
Temos também alguns desafios internos no âmbito do socorro e da emergência médica pré-hospitalar. Relativamente ao socorro, será um desafio prosseguir a política de renovação e reequipamento dos bombeiros da Região, concretizar alguns diplomas importantes, como o Estatuto Social, o Regime Jurídico e, fundamentalmente, o Modelo de Financiamento das Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, por forma a garantir a sua estabilidade financeira e operacional.
Relativamente ao transporte terrestre de doentes urgentes, muito tem sido feito. Tentaremos continuar a reforçar o dispositivo existente, através de tripulações de socorro e mais ambulâncias e, simultaneamente, tentaremos dar um novo enquadramento orgânico a esta vertente, por forma a melhorar a eficiência da emergência médica pré-hospitalar.
As questões relacionadas com a Protecção Civil têm vindo a assumir uma crescente relevância. Quais são as principais carências do Serviço na Região? O que é que não tem e gostaria de ter para um melhor desempenho das funções da Protecção Civil?
Face às ocorrências dos últimos anos, poderemos considerar que os meios da protecção civil foram capazes de executar as acções no socorro às populações de forma eficaz, tendo conseguido responder a todas as solicitações. Contudo, todas as entidades e agentes de protecção civil, mais do que desejarem, necessitam evoluir.
Assim, o objectivo será continuar a melhorar ao nível da formação e também continuar a aquisição de equipamentos e viaturas, cada vez mais actualizados, para que se continue a garantir um serviço de qualidade no socorro à população açoriana e também a quem visita a Região.
Por outro lado, a própria orgânica do SRPCBA necessita de um reajustamento às exigências actuais e às que se perspectivam vir a existir no futuro, reajuste que também implica mais recursos materiais e financeiros. Diria que estamos no nosso limite de capacidade.
Há associações humanitárias de bombeiros voluntários dos Açores com instalações que não são as melhores e com falta de veículos adequados. Aliás, ouve-se muito que há falta de ambulâncias...
É um facto, mas não é de agora. A grande maioria dos quartéis de bombeiros da Região são relativamente recentes, contudo são sobredimensionados às necessidades e denotam falta de manutenção por falta de capacidade financeira das associações humanitárias. A solução terá de passar, obrigatoriamente, pela implementação de um modelo de financiamento das associações, um modelo tripartido entre o Governo Regional, os municípios e as próprias associações. Relativamente ao parque de viaturas dos corpos de bombeiros, está envelhecido. É uma evidência. Esta constatação levou este Governo a iniciar um processo de aquisição de novas viaturas, algo que já não acontecia, em quantidade e de forma regular, há algumas décadas.
Actualmente, temos em curso dois concursos, um para aquisição de seis ambulâncias de socorro e um outro processo para a aquisição de uma viatura pesada pronto-socorro e três viaturas pesadas autotanque, destinadas a diversos corpos de bombeiros dos Açores.
É nossa pretensão prosseguir com o apetrechamento e a modernização dos meios destinados ao sistema de emergência pré-hospitalar, bem como dos meios destinados ao socorro, assistência e combate a incêndios, de modo a melhorar a capacidade de prestação de socorro à população da Região.
Que relevância dá ao protocolo, recentemente assinado, entre o Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, e a Guarda Nacional Republicana, para que a GNR auxilie a Região ao nível da Protecção Civil? Quer explicar a necessidade desta cooperação?
O Senhor Presidente do Governo Regional já se pronunciou sobre o assunto e, no meu entendimento, foi muito claro naquilo que disse.
Dito isto, também é importante referir que os bombeiros da Região sempre tiveram um papel vital no conceito de protecção civil. Foram, são e continuarão a ser o “braço armado” da Protecção Civil açoriana, são os primeiros a avançar e os primeiro a chegar aos pedidos de socorro. Estes têm uma relação com o SRPCBA muito especial e primordial e, como tal, estamos mais empenhados do que nunca em melhorar as condições dos corpos de bombeiros da Região, reforçando as suas capacidades para que estes estejam cada vez mais capacitados e sejam cada vez mais relevantes na sociedade açoriana.
Que iniciativas são levadas a cabo como forma de assinalar a data?
Este ano, o SRPCBA irá comemorar o Dia Mundial da Protecção Civil com a realização de um evento que terá lugar no Parque Multissectorial da Ilha Terceira, em Angra do Heroísmo, entre as 09h30 e 16h30, aberto à população.
Durante a iniciativa, cerca de 20 agentes de protecção civil/entidades estarão presentes com actividades em espaços e bancas, que irão incluir demonstrações, exposição de meios e dinamização de acções de sensibilização e informação em diferentes áreas, com o objectivo de estimular e incutir na população a adopção de uma cultura de segurança.
Os diversos corpos de bombeiros das outras ilhas foram igualmente convidados a abrir as portas dos seus quartéis à comunidade e a promover actividades no âmbito do Dia Mundial da Protecção Civil.
Que mensagem quer deixar neste dia?
A população açoriana poderá continuar a contar sempre com o SRPCBA, e a Protecção Civil e bombeiros espera, também, continuar a contar com a inestimável colaboração da população açoriana, em respeitar e seguir as nossas recomendações. Estamos convictos de que juntos estaremos à altura das expectativas e saberemos, certamente, construir um presente e um futuro mais solidário e mais seguro para todos.
Carlota Pimentel