O concelho da Madalena do Pico, presidido pelo social-democrata José António Soares, vai celebrar no próximo Sábado, 300 anos de existência, um momento memorável para um autarca que está a criar, em simultâneo, dinâmicas de crescimento que, outrora, não eram fáceis. Ao mesmo tempo que a vinha e o vinho do Pico atingirem patamares de excelência a nível nacional e internacional, a expectativa de inauguração, em breve, da nova e moderna fábrica de conservas de peixe, abre portas a um crescimento económico impulsionado pelo aumento dos fluxos turísticos. Com estas dinâmicas positivas, José António Soares considera “necessárias” obras como a ampliação do aeroporto e obras no cais da Madalena, com a criação de uma marina, e aponta como a ‘prioridade das prioridades’ dos próximos tempos levar água potável em condições a casa de todos os residentes e indústrias do concelho. Uma entrevista em que reivindica também a protecção da orla marítima da costa Norte do concelho.
Correio dos Açores – 300 anos é muito tempo…
José António Soares (Presidente da Câmara Municipal da Madalena) – 300 anos é, de facto, muito tempo. Mas, apesar disso, somos o concelho mais novo da ilha em comparação com os outros dois concelhos irmãos.
Este é um tempo de muitas marcas que nos deixaram os nossos antepassados. E, tivemos a felicidade de reconquistar muita desta nossa história e projectar a Madalena nestas marcas, na vinha, no vinho, no maroiço, e agora também nas conservas, em todos estes domínios que foram fundamentais para os nossos antepassados.
O nosso primeiro ciclo tem a ver com a vinha e com o vinho, onde tivemos, no passado, uma pujança muito forte na exportação para além das fronteiras de Portugal. Tivemos esta particularidade.
Depois tivemos uma altura muito má com a diminuição da exportação que levou à quase total destruição da vinha. Viveu-se um período muito mau com a emigração, o que levou a diminuir, em muito, a nossa população.
Felizmente, mais tarde, veio um outro ciclo importante de investimento, o das conservas com o primeiro investidor micaelense, Carlos Carreiro, que veio construir a primeira fábrica de conservas na ilha. Criou-se esta dimensão e, posteriormente, a Cofaco deu uma nova dimensão ao sector e cria postos de trabalho e põe dinheiro em famílias de toda a ilha.
Posteriormente, temos, a partir de 2004, o novo ciclo do vinho com a consideração da cultura da vinha do Pico como Património da Humanidade, um novo marco da nossa história para desenvolvimento do concelho da Madalena e da ilha do Pico que acaba por se desenvolver no seu todo.
Em 2017 e 2018 a Madalena foi a capital dos Açores da vinha e do vinho. E esta foi uma grande marca que teve muita projecção na ilha e fora da ilha.
Neste momento, estamos num ciclo muito forte da vinha e do vinho da ilha do Pico e estamos, também, muito próximos da abertura da nova fábrica de conservas na Madalena. Este ciclo tem sido muito importante em paralelo com muitas outras iniciativas que foram acontecendo. E os nossos empresários locais têm sido fundamentais neste desenvolvimento.
Houve, realmente, um desenvolvimento muito grande por parte dos nossos empresários que investiram muito na sua terra. E têm surgido outros empresários que se têm instalado no concelho da Madalena. Há uma nova dinâmica empresarial que se vai criando pelo empenho de investidores locais e de fora. Todos estes investidores têm investido muito e têm feito muito por este concelho provocando este surto de desenvolvimento.
Quer nos viremos para o mar, como para terra, quer seja na pesca, quer seja na vinha e no vinho, o Pico tem vindo a crescer.
Esta nova dinâmica do vinho e do vinho ganha mais força com o turismo?
Claro que o facto de termos a paisagem protegida da cultura da vinha como Património da Humanidade colocou-nos no mapa. Isto para dizer que, a partir desta altura, as coisas começaram a ser diferentes quer para os produtores como para os investidores locais. Esta marca, veio dar uma nova dimensão ao concelho da Madalena e à ilha do Pico. E o turismo acabou por se ligar também à vinha e ao vinho. E, por isso, hoje temos também algumas unidades hoteleiras já ligadas ao vinho. Por isso, a sua pergunta faz sentido, encaixa perfeitamente.
E esta nova dimensão da vinha e do vinho no Pico, com a criação de riqueza para produtores e investidores, surge em paralelo com a construção da fábrica de conservas que irá abrir em breve.
Quais são as expectativas do turismo para 2023 no Pico?
As expectativas são muito fortes. Todas as unidades existentes na ilha têm, realmente, uma expectativa muito alta. O que está previsto é que, se tudo o que se prevê, acontecer, teremos mais um ano de turismo muito forte no Pico.
E também neste enquadramento do turismo, a Cultura é sempre algo de muito importante na nossa vida, tem a ver com a nossa existência, o nosso folclore, dos nossos teatros, de tudo aquilo que nós temos e que hoje tem crescido. Hoje, a oferta cultural no concelho da Madalena está a ser também muito significativa.
Tem-se atenuado a dupla insularidade no concelho no Pico?
Sim, e existe uma questão que é fundamental. Esta ligação que nos une, permanentemente, com o Faial e São Jorge acaba por ser fundamental. E esta insularidade que nós sentimos não é nada comparável à que existia nos tempos da minha infância e da minha juventude. Não há nada igual. Hoje há muita gente que vai do Pico para o Faial trabalhar todos os dias e volta ao fim da tarde. E há pessoas que vêm do Faial trabalhar para o Pico e regressam ao fim do dia ao Faial. Nós nunca sentimos esta grande insularidade de que fala porque sempre tivemos esta proximidade. E esta proximidade tem a ver com a nossa forma de ser e de estar no Atlântico. É por isso que, quando o mau tempo nos assola, assola-nos a todos. E quando bate forte, bate forte para todos. Vivemos em ilhas, vivemos no meio do Atlântico e não conseguimos ultrapassar esta realidade. Mas, também, quando o tempo está bem, - que acontece na maioria dos dias do ano – as coisas funcionam de uma forma completamente diferente.
Claro que, no Pico, gostaríamos de ter um aeroporto com melhores condições de operacionalidade, queríamos sim senhor. Queríamos ter um porto na Madalena com melhores condições, queríamos sim senhor. Nós temos sempre esta capacidade reivindicativa. Queremos sempre mais e melhor. E é isso que nos faz ser diferentes. O ser açoriano é exactamente isso, é o querermos reivindicar mais, é querermos estar perto de tudo. E querermos aproveitar as oportunidades que nos surgem.
Que projecto gostaria de desenvolver na Madalena do Pico e não tem conseguido?
Há esta questão dos projectos muito específicos. Já falei no caso do aeroporto do Pico, que é, realmente, uma obra importante. Esta é uma grande porta de entrada da ilha e a sua melhor operacionalidade é fundamental para o nosso desenvolvimento. Falei também do porto de passageiros da Madalena que, quando cresceu, cresceu mal. Mas, pronto, as coisas estão diferentes. Nós queremos ter, realmente umas obras no porto para termos melhores condições de operacionalidade.
No porto de cargas da ilha do Pico também são necessárias obras. É certo que é em São Roque, mas a questão é que as obras são necessárias para a ilha.
Na Madalena precisamos da protecção marítima do lado Norte para que haja segurança desde a barca até ao molhe do porto da Madalena. Esta obra é importante.
Outra reivindicação importante é fazer uma marina dentro do porto da Madalena.
E há sempre muitas obras que nós queremos fazer. Nós temos feito várias candidaturas, temos aproveitado tudo o que são fundos comunitários e há uma coisa que é sempre importante e histórico que toda a gente reivindica que é ter melhores condições na saúde.
Falta profissionais de saúde em toda a Região e em todo o país. Mas, claro, se nós tivéssemos uma unidade de saúde em condições para que pudessem todos ser atendidos no Pico sem ter a necessidade, - a não ser nos casos mais extremos -, sair, era muito importante para quem vive na ilha.
Hoje, na Madalena do Pico, nós temos ensino a todos os níveis, desde o ensino regular até ao ensino profissional e a própria Universidade Aberta. Hoje há várias ofertas para estudar no Pico, o que já é muito importante.
Claro que queremos outros edifícios, queremos a reabilitação dos nossos edifícios escolares, queremos mais habitação. É fundamental que isto aconteça. Os programas a que nos estamos a candidatar, cria-nos esta expectativa.
Temos também um problema sério relativamente à questão da água potável. Vamos investir seriamente no próximo Quadro Comunitário de Apoio, no abastecimento de água às populações e às indústrias existentes no concelho.
Quais as maiores dificuldades da Mada-lena?
A maior dificuldade tem a ver exactamente com a água. Este é um problema sério e preocupante que nós queremos resolver. Temos estado sempre a tentar melhorar o abastecimento de água às populações e às empresas. Na próximo semana, vamos, de novo, recomeçar todo um processo de avaliação para chegarmos à identificação das nossas reais necessidades e fazermos os investimentos que são primordiais neste momento.
O Pico é uma ilha de futuro?
O Pico é uma ilha do presente. O Pico cresceu. A Madalena foi, realmente, o concelho que cresceu mais na Região, embora seja sempre uma coisa ténue. Costumo dizer que temos de crescer todos na ilha do Pico para que consigamos manter todos os que aqui estão e atrair mais pessoas e investidores para a ilha.
Esta é a segunda maior ilha dos Açores. E esta realidade leva-nos a ter muita capacidade para mais investimento. Mas, se não tivermos realmente as pessoas para o fazer, esta é uma preocupação. Mas é uma preocupação, neste momento, que não é só da ilha do Pico. É uma preocupação da Região no seu todo. É algo que nós devemos de abordar, reflectir e encontrar as soluções para que isto seja realmente mitigado. Esta é uma questão importante de presente e de futuro.
O que quero dizer é que o Pico é uma ilha com futuro. Hoje vive-se no Pico desde o nascimento até à morte e, se atingirmos este nível de idade dos 90 anos com muita segurança e com muita qualidade de vida.
No Pico, hoje, existem creches, jardins-de-infância, ATL’s, ludotecas, toda uma oferta que permite aos pais trabalhar, sabendo que os seus filhos são atendidos com qualidade. E, depois, têm a escola e após a escola, os ATL’s que podem acolher os filhos e dão apoio às famílias.
E existe o ensino regular que vai até ao décimo segundo ano. Depois, podem enveredar pelo ensino profissional ou podem estudar na Universidade Aberta para aqueles que, realmente, não tiverem outras condições e não queiram realmente sair.
Temos todas estas oportunidades e isto já é algo de extraordinário que não havia no passado.
E hoje também há onde trabalhar. Opções de trabalho existem para toda a gente. E, por isso, o Pico é uma ilha do presente mas com futuro.
João Paz