José António Soares considerou anteontem à noite, na cerimónia que assinalou os 300 anos do concelho, que a Madalena do Pico é hoje “Capital dos Açores da Vinha e do Vinho. Somos uma das Sete Maravilhas de Portugal e Património Mundial da Humanidade. Somos este povo. Esta História, feita de sonho, de trabalho, de suor, de uma vontade tenaz que nos deve servir de exemplo e de inspiração para o futuro!”, disse.
“A Madalena é, sem sombra de dúvida, um dos concelhos que mais cresceu em todo o arquipélago, na última década”, disse o autarca e prosseguiu: “ Registámos um crescimento demográfico histórico, o maior de toda a Região. E o maior crescimento do país no que respeita à construção de alojamentos destinados à habitação! Tudo isto apenas foi possível, graças ao empenho de todos. De toda a sociedade civil”.
Trezentos anos separam estas palavras de José António Soares do tempo em que tudo começou. Aquele tempo em que “os ‘velhos’ olharam, furtivamente, a negra penedia derretida na voracidade das labaredas, a fragosidade do solo, e percebendo que ali “não medraria o pão, nem corria água da ribeira”, fugiram. Ali “não era lugar para se viver!”, tal como contam os historiadores.
Só que, como afirmou José António Soares, “vieram outros. E com rijas têmperas, ergueram “maroiços” e alinharam “currais”, afrontaram o canal e sobreviveram, fazendo da pedra pão. São os nossos avós. São os nossos antepassados”. E “ao longo dos anos, honrámos a sua memória”, salientou o autarca.
E nestes espaços surgiu um “povo feito de maresia e lava queimada, que, com férreas têmperas” empenhou-se “numa luta constante pela sobrevivência”.
Um povo que, “olhando de frente a morte, desafiou o canal, sulcando este estreito de mar, que une o Pico e Faial”.
“Estas são as nossas gentes, que embaladas num berço de pedra e sonho, transformaram a ‘lava agreste em jorro de vinho’, ditando o crescimento económico e demográfico da Madalena, que lhes permitiu escapar à subalternidade e conquistar, a ferro e fogo, a tão desejada emancipação,” afirmou.
E, assim, numa luta constante, a 8 de Março de 1723, D. João V emitia a carta régia que viria a transformar a então povoacção da Madalena em sede de concelho, “cabendo à dita nova vila quatro freguesias: ‘a da Candelária e de São Mateus, pertencentes às Lajes, e as freguesias da Boa Nova e Madalena pertencentes à vila de São Roque’”.
E depois da crise…
A Madalena vivia, então, “um período áureo! Mas de uma era de grande crescimento, durante a Revolução da Vinha e o Ciclo do Verdelho, o concelho “mergulha no século XIX numa profunda crise”.
No fatídico ano de 1852, a ilha conheceu uma das suas mais letais pragas, o oídio. “Fragilizado, o sector não resistiu à filoxera, que duas décadas depois arruinou fatalmente a actividade, provocando o descalabro económico, a emigração e enorme angústia”.
Mas, prosseguiu José António Soares, “uma vez mais, lutando contra obstáculos e barreiras, o povo reergueu-se! E “um século mais tarde, as vinhas renascem das cinzas, aumentando exponencialmente a produção de vinho e levando, novamente, o Pico além-fronteiras”.
“Num épico labor, até aos dias de hoje, foram já reabilitados mais de mil hectares de vinha, que o mato havia engolido, após o abandono no século XIX, devido às devastadoras pragas”, anunciou.
“Revitalizado o sector, os vinhos do Pico voltam a conquistar os quatro cantos do mundo, demonstrando o novo fulgor da vitivinicultura e a enorme capacidade deste nosso povo de se reinventar”, completou.
Com a estratégia e programas lançados pela Câmara da Madalena, ao nível social e cultural, o concelho renasce
“Gente de garra!
Gente com paixão!”
“De ano para ano, fomos superando metas, conquistando horizontes, construindo um amanhã pleno de esperança! Fizemos da vontade das nossas gentes a bússola das nossas políticas.”, afirmou José António Soares, isto porque, “na verdade, a maior riqueza da Madalena está nas pessoas.”
E, a propósito, destaca o empenho de todos os funcionários da Câmara da Madalena, “gente com garra, gente com paixão. Gente que pela sua gente ergue os braços e vai em frente.”
“E começo por deixar uma palavra àqueles que ninguém lembra. Ou que só são lembrados quando as coisas não correm de feição. Os funcionários desta autarquia. Vocês são o garante da qualidade de vida das nossas gentes e é graças a todos e a cada um de vós que o nosso Concelho prospera”, salientou.
Agradeceu a todos e recordou o tempo, quando com 19 anos, começou na Junta de Freguesia da Madalena. “Sei bem o quão desafiante é o vosso dia-a-dia. Ser autarca é um acto de cidadania. É exercer a actividade mais apaixonante do mundo, mas também a que maior responsabilidade exige”, afirmou.
José António Soares chamou a atenção do Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, que “o crescimento económico e progresso social da nossa terra só é possível com a dedicação e trabalho de todos. Há que unir esforços, congregar vontade. Só assim ultrapassaremos as dificuldades”.
“E, por esta razão, tenho forçosamente que deixar aqui uma palavra de reconhecimento ao meu caro amigo e companheiro de muitas lutas, um antigo autarca que bem conhece os desafios destas lides, o Dr. José Manuel Bolieiro, e ao seu Executivo. Sr. Presidente, a cooperação institucional até agora estabelecida é fundamental”, afirmou.
“Há que continuar este trabalho conjunto, de forma a garantir o desenvolvimento sustentado e sustentável da Madalena, do Pico e da Região, em prol do bem-estar pleno das nossas gentes, pois esta é, e deverá ser sempre, a nossa verdadeira prioridade”, defendeu.
A Madalena entre os que
mais cresceram
“…A Madalena é, sem sombra de dúvidas, um dos concelhos que mais cresceu nos Açores, na última década. E este crescimento deve-se também aos nossos empresários. São eles uma das chaves do progresso da nossa Terra,” referiu.
“Fazendo das adversidades possibilidades, das crises desafios, são os nossos comerciantes quem mais emprego gera, quem cria riqueza e alavanca o crescimento da Madalena. A todos vós, os meus sinceros parabéns, por assumirem como vossa esta missão de dinamizar economicamente o nosso território e potenciar o seu crescimento”, disse.
Realçou a importância da comunicação social que, em seu entender, “com espírito crítico, com uma visão esclarecida e informada”, desempenha “um papel fundamental e insubstituível”.
Em seu entender, “ao contribuírem para a formação de uma opinião pública informada e interveniente, os nossos meios de comunicação assumem-se como verdadeiros baluartes das democracias, servindo os nossos concelhos, o seu progresso social e desenvolvimento económico.”
Hoje, concluiu José António Soares, a Madalena “prospera em pleno Atlântico com uma economia diversificada e uma forte componente cultural. Hoje, a Madalena continua em busca de futuros”.
“Sou um optimista por natureza. Acredito que o melhor de nós ainda está por vir. Acredito no futuro e no progresso. Acredito nas pessoas. Acredito que juntos faremos uma história diferente e um futuro melhor! A Madalena foi grande no passado e – sei - será grande no seu futuro”, terminou.
José Manuel Bolieiro manifesta
“orgulho” no povo da Madalena
em dia de aniversário do concelho
O Presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, manifestou na noite de Quarta-feira, “orgulho” no povo da Madalena e “satisfação” por ter integrado a sessão solene que assinalou os 300 anos da elevação a concelho do território picoense.
“O poder local é o da proximidade, aquele de contacto diário com as populações. E não são populações abstractas, são concretas, com nome e morada”, frisou o governante, falando no Auditório da Madalena. Depois de tecer elogios ao actual Presidente da Câmara, José António Soares, que “não olha a si, olha aos outros”, José Manuel Bolieiro sublinhou as potencialidades da Madalena e do Pico, “verdadeiramente uma ilha de futuro”.
As populações locais e os municípios “têm feito muito com pouco” e ultrapassados diversos desafios, “olhando o mar como um desafio e não como um medo”, prosseguiu Bolieiro. Apresentando também cumprimentos pelo “contributo inestimável” de antigos autarcas para o desenvolvimento do concelho, o Presidente do Governo concretizou, antes de deixar também palavras de incentivo às novas gerações: “Somos o que somos pelo que fomos. E às novas gerações digo: o vosso saber e ambição acrescentará valor”.
Na sessão solene foi inaugurada a exposição de pintura “Madalena, Um Concelho Entre Mistérios”, de Manoel Costa, projectado o filme “Maresias”, da realizadora Sandra Cristina Sousa, e incluiu dois momentos musicais, um com André Azevedo, Tânia Monteiro e André Medeiros e outro com o Grupo Folclórico e Etnográfico “Ilha Morena”, da Casa do Povo de São Mateus.