Novo livro de José de Almeida Mello

Um arquivo memorial de ilustres Visitas ao arquipélago dos Açores

 Encontra-se já nos prelos da dinâmica Editora açoriana “Letras Lavadas” uma nova publicação do conhecido e apreciado investigador e historiador micaelense José de Almeida Mello. 
A obra (intitulada PRÍNCIPE ALBERTO II DO MÓNACO – Relato da Visita a Ponta Delgada, Açores – livro a lançar em breve e ao qual (por gentil disponibilidade do seu autor e do editor José Ernesto Chaves Rezendes) tive o gosto de efectuar uma primeira leitura – evoca, documenta e regista primordial e pormenorizadamente a recente visita a S. Miguel do Príncipe Alberto II do Mónaco, tal como a mesma decorreu em Ponta Delgada nos dias 13 e 14 de Outubro de 2022, no âmbito das Comemorações Internacionais do Centenário da morte de Alberto I (nascido a 13.11.1848 e falecido a 13 de 26 de junho de 1922),trisavô do actual monarca monagasco.
Esta publicação, integra-se aliás na já muito vasta, apreciada e qualificada produção bibliográfica e histórico-cultural de Almeida Mello – conforme já anteriormente tive ocasião e gosto de recorrentemente salientar a propósito de outros dos seus notáveis trabalhos, álbuns, recolhas materiais e iconográficas, artigos temáticos e ensaios sobre os patrimónios urbanos, etnográficos, naturais, religiosos e artísticos micaelenses –, de entre todos devendo sempre ser realçado o seu empenho pessoal e institucional, e o seu desempenho como verdadeiro curador e divulgador regional, nacional e internacional da Sinagoga Sahar Hassamain.
– Ora desta vez, por expressa incumbência da presidência da Câmara Municipal de Ponta Delgada, competiu ao Dr. José de Mello o planeamento e a coordenação logística desta visita oficial do monarca do Mónaco, sendo porém que, para além de registar e preservar para a posteridade todo o interessante enquadramento institucional, protocolar, público e privado desta viagem – com as respectivas cerimónias, périplos culturais, turísticos, de recreio, cortesia e lazer –, esta esmerada edição, graficamente atraente, de leitura adequadamente elucidativa e profusamente ilustrada, documentar também muitos dos ambientes locais, cenários e rituais do quotidiano social, convivencial, familiar e pessoal do príncipe Alberto II, levando o leitor a apreciar, como que numa série foto-cinematográfica, a sequência cronológica do programa estabelecido e cumprido a rigor, sinalizados que ficam, com grande detalhe descritivo e visualizante, os diferentes cenários e ambientes, ora palacianos ora domésticos, institucionais e informais, dos espaços interiores (palácios, salas, salões, gabinetes, bibliotecas e museu) e exteriores (praças, largos, jardins, pátios, caminhos, etc.), onde a visita decorreu.
Todavia e por outro lado, este livro-álbum reproduz ainda as principais intervenções, declarações, anotações protocolares e dedicatórias e assinaturas de honra de Alberto II e das principais entidades açorianas que participaram nas várias cerimónias de recepção e homenagem ao Monarca monagasco, publicando mesmo, na íntegra, os próprios textos dos discursos proferidos pelo Príncipe Alberto II (expressa e significativamente cedidos para o efeito pelos serviços de imprensa do Palácio Real e da Embaixada do Mónaco), pelos governantes regionais açorianos (v.g. presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro) e municipais (presidente da autarquia de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral), por Augusto de Athayde (em cujo Palácio José do Canto pernoitou o Príncipe) e ao longo do acompanhamento protocolar, que geriu com eficiência profissional e fino trato pessoal, pelo próprio autor do livro, José de Almeida Mello, 
– No delineamento desta obra, resolveu Almeida Mello, para além de uma curiosa narrativa em estilo de diário íntimo discreto e de observação participante, por vezes numa escrita pitoresca, simultaneamente divertida, ritualista e formal, introduzir múltiplos detalhes do ritual e da chamada civilidade cortesã “enthéâtre”, desde as descrições dos movimentos e das poses até às indumentárias das personagens que, nos quadros e cenografias envolventes, ajudaram à congeminação das cenas e dos desempenhos sociais em mostração. E aqui, achei particularmente curiosa a atenção que o autor, muito observador, prestou, por exemplo, ao grafismo de protocolo e às chamadas “ménage” ou “arte do papel” de mesa (motivos de uma interessante mostra – “Menus em Portugal e na Europa – 1875-2016”, Exposição comissariada por Gonçalo Vasconcelos e Sousa e então coordenada por Almeida Mello, em 2017).
Reveste-se ainda este livro de mais amplos registos, conquanto cingidos mas sugestivamente todos indicativos de interesse social e histórico- documental, em parte inéditos numa publicação deste género, não só pelos minuciosos relatos dos acontecimentos referidos quanto por uma curiosa, emblemática e correlativa referência sequencial a anteriores visitas de Alberto II aos Açores, mas também pela do seu trisavô (Alberto I, figura tão real, científica e miticamente ligada às ilhas e ao mar do nosso Arquipélago, como muito apropriadamente foi relembrado).
 – E depois, na mesma intenção histórico-evocativa e de relevo institucional, político-cultural e até de possivelmente frutuosa divulgação turístico-patrimonial, nas páginas deste álbum encontramos relatos e registos fotográficos, que o leitor descobrirá, relembrará e potenciará, de visitas ou passagens pelos Açores por parte de outras, diferentes e relevantes personalidades nacionais e mundiais do Estado, da Igreja, da Cultura, etc., como foram os casos, especialmente sinalizados desde 1901, de D. Carlos (1901), Alberto I do Mónaco (1904),General Óscar Carmona (1941), General Craveiro Lopes (1957),  Almirante Américo Tomaz (1962), Mário Soares (1989), João Paulo II (2009),Gabriela de Sabóia (2020) e agora de Alberto II do Mónaco (2022).
Enfim, ao folhear, com gosto e admiração, esta obra e ao apreciar os seus felizes registos micaelenses, lembrei-me logo do nosso próprio Espólio de família, daquele que o meu Pai nos deixou das suas recolhas de Filme e Imagem, hobbies seus durante muitos anos.
– E assim lá descobri também uma preservada recordação da Visita do Presidente da República, Craveiro Lopes, aos Açores, não em S. Miguel, como José de Almeida Mello tão bem a reproduziu numa ilustração da sua cidade de Ponta Delgada, mas aqui, na Praia da Vitória (ao lado da Base das Lajes, onde Craveiro Lopes fora comandante), com uma fotografia do meu Pai, em apressado passo e alegremente de câmara em punho, na tentativa, aliás conseguida, de captação de imagens desse outro tempo nosso, igualmente já passado e talvez quase esquecido nas memórias e nos rostos insulares da nossa gente…

 Eduardo Ferraz da Rosa*

(*) Professor Universitário, Escritor 
e Ensaísta.

 
 

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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