Diogo Paiva, proprietário da empresa Azores Fishing

“Tentamos fugir do turismo de massas porque acreditamos que o futuro dos Açores não passa por aí”

O Correio dos Açores esteve na marina de Vila Franca do Campo e, no interior do Sensei, o mais recente dos três barcos da Azores Fishing, conversou com o proprietário desta empresa marítimo-turística que se orgulha de oferecer “a melhor experiência possível ao cliente”. Diogo Paiva, de 36 anos de idade, fala com paixão da empresa criada em 2014 com o amigo Eduardo Lopes e lembra como esta aventura se iniciou.
“Tínhamos (ele e Eduardo) o sonho de comprar um barco para fazer umas pescarias. Entretanto a coisa começou a ganhar contornos mais sérios, ganhámos umas provas e alguns familiares começaram a motivar-nos para abrirmos actividade e a levar uns turistas. Achei interessante e a ideia era que pudéssemos pagar as despesas do próprio barco (…) Foi crescendo e presentemente temos três barcos”, recorda antes de explicar que “começamos com o Frontino, com 7.5 metros. Depois adquirimos o Galáxia, com 10 metros, que está em Ponta Delgada e agora, mais recentemente, adquirimos o Sensei que é um barco com sensivelmente 13 metros. Já está num patamar diferente e o objectivo é continuar a crescer”, enfatiza.
Para além de proprietário, Diogo Paiva é, conjuntamente com Paulo Benevides, Vasco Melo e Eduardo Lopes, um dos quatro capitães da empresa que durante a época alta é reforçada e atinge cerca de uma dezena de colaboradores. O empresário explica também que para além de “legalmente” ser obrigatória a presença de duas pessoas a bordo, esse aspecto permite prestar um melhor serviço e proporcionar “uma atenção, um cuidado redobrado face às necessidades dos clientes.

A pesca como actividade central

Como indica o próprio nome, a Azores Fishing tem na pesca o seu centro de negócio, representando entre “75 a 80%” da facturação anual.
“Temos autorização para pescarmos em todos os portos e marinas dos Açores com este barco novo”, realça.
Diogo Paiva explica de seguida que a empresa realiza “todo o tipo de pesca que existe no mar”.
“Desde a mais simples, a tradicional pesca de fundo com uma chumbada e com o aparelho com vários anzóis e isca morta. Fazemos o jigging que é com umas amostras pesadas que tem uns anzóis que vão para o fundo. Recolhemos muito rapidamente essas amostras e elas vêm, digamos, a nadar do fundo para a superfície e os predadores atacam-nas. Fazemos o corrico, com o barco sempre em andamento e que vai, literalmente, arrastando as amostras. A maior parte do que realizamos é corrico. No mar alto, o que fazemos mais é o big game fishing com amostras grandes e onde apanhamos atuns e espadins”, especifica.
Precisamente sobre este tipo de pesca em mar alto, o proprietário da Azores Fishing realça o facto de os maiores atuns e espadins azuis do mundo passarem no mar dos Açores e garante nunca ter pescado “um espadim azul que tivesse menos de 200 kg. É difícil saber qual foi o maior porque libertamos o peixe, mas, se tivesse de dizer, o maior espadim que apanhamos devia ter à volta de 400 kgs. Também apanhamos atuns enormes e com muitos quilos”.
Diogo Paiva faz questão de salientar que “libertamos cerca de 90 a 95% do peixe que capturamos. Por exemplo, peixe de costa, como as bicudas, são todas libertadas (…) Ganho dinheiro é com a experiência que proporcionamos ao cliente e não com o peixe”.
Sobre os clientes, o proprietário desta empresa, que tem como bases Vila Franca do Campo e Ponta Delgada, revela que a “maioria é estrangeira porque, infelizmente, sabemos que em Portugal o poder de compra é baixo. A nossa actividade é cara, não porque tenhamos lucros astronómicos, mas porque o próprio barco, o consumo de combustível, a manutenção do barco, as marinhas, os seguros, o equipamento de pesca, a isso obrigam (…) Temos muitos americanos e tendencialmente pessoas oriundas de países com poder de compra superior, como por exemplo, Alemanha, França ou países nórdicos e onde o subsidio de férias não é como em Portugal (risos)”.
Os condicionalismos meteorológicos amplamente conhecidos na Região implicam, naturalmente, que a actividade não possa ser desenvolvida durante todo o ano.
“Entre Novembro e Janeiro saímos uma ou duas vezes. Às vezes mesmo que não esteja uma tempestade, o mar está chato e não está em condições para levarmos pessoas. Só saímos mesmo com condições em que saibamos que as pessoas vão desfrutar e que ninguém irá ficar mal disposto”, refere.
Outras ofertas

Para além da pesca, o empresário sublinha que a Azores Fishing tem vindo ‘a abrir horizontes’ e já oferece outros tipos de actividades.
“Com a aquisição deste barco (Sensei) abrimos o ano passado um pacote que permite às pessoas conhecerem e estarem em 5 ilhas diferentes connosco (Terceira, Faial, Pico e São Jorge). A pessoa chega de avião, pegamos nela ou no grupo, preferencialmente em São Miguel, embarcam connosco e depois estão literalmente 10 dias connosco. Tanto pescamos como fazemos snorkeling, apneia ou mesmo mergulho. Até pode ser uma família que simplesmente gosta de barco e que quer conhecer outras ilhas (…) a nossa vantagem é que nos podemos adaptar aquilo que o cliente procura. Estamos a trabalhar para um cliente e não para 50 pessoas”, frisa.

A importância da sustentabilidade

Esta, garante Diogo Paiva, é uma das grandes preocupações desde a fundação e, embora admita que “enquanto empresa não conseguimos salvar o mundo”, o proprietário acredita que se todos remarem para o mesmo lado será possível “mudar o rumo dos acontecimentos”.
“Tentamos ter o mínimo possível de plástico a bordo. Temos ecopontos dentro do próprio barco e fazemos reciclagem. Também tentamos colher o máximo de lixo possível que encontramos no mar. Nunca pesei a quantidade de lixo que recolhemos no mar e se calhar seria interessante perceber se está a aumentar ou a diminuir. Simplesmente vemos no mar, recolhemos, trazemos para terra e colocamos no local correcto”, enfatiza.

Momento marcante
a bordo do Anawa

Durante o seu percurso profissional, Diogo Paiva admite ter vivido alguns episódios marcantes, mas aquele que mais destaca aconteceu no dia do aniversário do filho quando recebeu uma chamada telefónica.
“Era o capitão do Anawa (iate propriedade do homem mais rico do Brasil) que me disse que o meu nome tinha sido indicado. Iam estar nos Açores dez dias e gostavam que trabalhasse com eles para ajudar a coordenar a operação porque o boss chegava daí a dois dias, gostava muito de fazer caça submarina e eles precisavam de alguém com experiência. Ele não me perguntou sequer se estava disponível ou não. Disse-me apenas que precisava que eu estivesse no dia seguinte, às 8h30, à frente do Porto Formoso”, começa por contar.
Na manhã seguinte “às 8h20 já lá estava”.
“Tivemos uma reunião e até foi estranho porque em nenhum momento ele me perguntou se eu estava disponível e o preço. Basicamente, fiquei dedicado a eles e cobrei um valor diário elevado (risos) mas posso dizer que de gorjeta, no final, o senhor deu-me 2.500 euros”, lembra.
Diogo Paiva admite que parecia “que estava num filme quando entrei no barco” que custou 100 milhões de euros.
Mais tarde e depois de ter conhecido o dono, “um amigo meu ligou-me a dizer que havia uma grande quantidade de atum a 40 milhas a leste do Nordeste. De barco eram 3 horas para cada lado. Contei-lhe a informação porque ele queria muito apanhar um atum de caça submarina e disse-lhe que podia ir preparar o barco. Ele disse para não ir de barco, fomos de helicóptero e quando chegamos lá vimos o peixe a comer por cima de água”.
Diogo recorda que foram dez dias “extraordinários” e que esta é uma experiência que “marca uma pessoa”.

Futuro do negócio

O proprietário da Azores Fishing não tem dúvidas de que “temos um mercado diferenciador e o nosso tipo de turista tem poder compra. Esta empresa é exemplo disso e se calhar muita gente não acredita na viabilidade de uma empresa como a Azores Fishing que tem um barco que custa 1.600 euros por dia para ir para o mar. Temos turistas para isso”, realça.
Diogo Paiva afirma que o futuro da empresa nunca passará “por ter muitos barcos e com capacidade para levar muita gente. Vamos sempre tentar primar pela exclusividade e pela qualidade. Máxima qualidade é a nossa grande preocupação e queremos que os nossos barcos estejam sempre impecáveis, completamente limpos, organizados”.
Tudo isto porque o empresário acredita que “grande parte das pessoas que vêm connosco ficam marcadas” depois desta experiência passada no mar dos Açores.                                      

Luís Lobão

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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