O jornal online Nascer do Sol anunciou ontem que no partido Iniciativa Liberal “ninguém quer assumir a responsabilidade pela ruptura” com o Governo de coligação dos Açores.
Segundo escreve o jornal, o deputado açoriano” tinha sido até aqui um acérrimo defensor do acordo entre o PSD e a IL, já que garantia a estabilidade da governação dos Açores”.
A 25 de Novembro, recorda o Nascer do Sol, num encontro dos liberais, Nuno Barata fez mesmo “rasgados elogios às vitórias conseguidas em função desse acordo”. E no YouTube, a Iniciativa Liberal chegou mesmo a classificar o seu discurso no evento de ‘imperdível” e que os resultados eram ‘fabulosos’.
Nesse discurso, Barata destacou as metas alcançadas: «No primeiro orçamento apenas exigimos que baixássemos os impostos até ao limite possível pela lei. E conseguimos», referindo-se à redução dos impostos em matéria de IVA, IRS e IRC. A mesma ‘vitória’ foi destacada no segundo Orçamento: «Conseguimos uma incrível vitória neste país, temos zero necessidades de financiamento». E, ao que o Nascer do Sol apurou, essa meta era vista como um sucesso da IL, que reclamava que as suas conquistas não se limitavam à matéria orçamental, uma vez que Nuno Barata acena” ter conseguido um melhor licenciamento industrial” e ter garantido a possibilidade de surgimento ‘de um novo self made man’.
Na mesma linha de avaliação de sucesso, Barata, em Outubro de 2022, após a sua recondução como líder do núcleo dos Açores, afirmava à RTP-Açores que mais de 50% do acordo estava cumprido, acima da linha do calendário eleitoral.
Então, o deputado achava que o acordo de incidência parlamentar iria manter-se até ao fim, e que a Iniciativa Liberal e ele próprio estavam empenhados para que o acordo fosse cumprido com sucesso. A linha vermelha para 2023 “era a privatização ou fecho da Azores Airlines e mais nada foi referido como objectivo.
Para 2024, o fim da legislatura regional, Barata referiu: «Estamos em condições para deixar os Açores melhores em 2024 do que estávamos em 2020». E o Nascer do Sol sabe que via como seu adversário político o socialismo e não o Chega.
Já na convenção do partido, em Lisboa, afirmou «não estar arrependido» do acordo, no entanto, referiu que, se fosse ‘hoje’, teria negociado de forma diferente. É certo que, a partir de Fevereiro, Rui Rocha tomou as rédeas à liderança dos liberais e passou a tecer duras críticas ao Chega de André Ventura.
Nos termos do Nascer do Sol, o verniz estalou nos Açores a 7 de Março, através de uma reunião extraordinária dos responsáveis máximos dos Açores, em que foi decidida a desvinculação com o Chega. Curiosamente, essa reunião ocorreu após a visita de Rui Rocha ao arquipélago. Nessa reunião, onde estiveram presentes os membros da Mesa do Plenário do Núcleo e os coordenadores dos Grupos de Coordenação de Ilha, das ilhas São Miguel e Terceira) e em que a decisão foi unânime e fundamentada com “a impossibilidade de o PSD cumprir o acordo a que se tinha comprometido, apesar de em Outubro, Novembro e Janeiro estar tudo encaminhado”.
Um dia depois, Rui Rocha envia um email a todos os membros, afirmando: «O Núcleo da Iniciativa Liberal dos Açores decidiu, após profunda reflexão, desvincular-se do acordo de incidência parlamentar celebrado com o PSD após as últimas eleições regionais», revela o documento a que o Nascer do Sol teve acesso.
É de notar que, nesta missiva, Rui Rocha não assume qualquer responsabilidade pela decisão, mas apenas a apoia e a reconhece. Escreve o Presidente dos liberais: «A Comissão Executiva da Iniciativa Liberal, no respeito pela autonomia do Núcleo dos Açores e tendo em conta os respectivos fundamentos, está solidária com esta decisão».
Mas se, por um lado, o líder do partido assume que foi o núcleo quem tomou a decisão, o Nascer do Sol sabe que esta foi tomada pela Coordenação do Núcleo - sendo certo que os cerca de 100 membros dos Açores não se pronunciaram.
A verdade é que as dúvidas ganham mais substância quando os membros da comissão executiva de Rui Rocha afirmam que a decisão foi tomada em «plenário» pelos membros da IL Açores, desresponsabilizando quer a coordenação do núcleo dos Açores, quer a equipa do actual líder do partido. Aliás, Pedro Pereira, comissário executivo, twitou: «Votou o plenário de núcleo na véspera do anúncio da decisão. E, espante-se, com voto unânime». Um dos membros da IL explica a confusão ao Nascer do Sol: «O Nuno Barata ter o pelouro dos Açores enquanto líder do NT Açores é o mesmo que não ter qualquer pelouro ou não ter a liderança do respectivo NT. A defesa dos Açores, do país está alinhada? Quem defendeu a parte contrária?», conclui o Nascer do Sol, numa peça jornalista assinada pela jornalista Sónia Pires Pinto.