19 de março de 2023

Precisamos de tempo para pensar!

 1- Dissecando as fístulas que estão a condicionar a sociedade, vamos encalhar nas grandes mudanças operadas na segunda metade do século XX, altura em que as novas tecnologias começaram por servir a inteligência militar, aparecendo em 1965 como a grande conquista do século, permitindo o acesso à internet e ligando o mundo em rede, independentemente do fuso e da hora onde se situa.
2- Ao tempo, apenas dois blocos com políticas antagónicas, os EUA e a União Soviética, exerciam o controlo e influência em todo o mundo e sabiam o impacto e a eficácia dos meios de comunicação e a necessidade que tinham deles para garantirem a sua influência no mundo.
3- A evolução tecnológica foi de tal ordem que está a condicionar a vida das pessoas e da sociedade em geral devido ao ciberterrorismo e ao cibercrime praticados na  Internet  através de actos violentos que resultam em ameaças, perda de vidas e danos corporais consideráveis.
4- Esses actos tanto são políticos como ideológicos, feitos por ameaça ou intimidação, visando ganhos para quem os pratica, influindo até nos actos eleitorais em países democráticos, como aconteceu nos EUA nas penúltimas eleições presidenciais.
5- Apesar da realidade com que nos defrontamos quanto ao cibercrime que abunda nas redes sociais, há um vazio legal que impede os autores de ser acusados e julgados, e que os ofendidos possam ser ressarcidos das infâmias contra eles proferidas.
6- Essa falta revela-se um “crime” para quem tem a responsabilidade de legislar e acompanhar a evolução que resulta do avanço no mundo das novas tecnologias.     
7- Mas, o que nos deve preocupar ainda mais é o ciberterrorismo, que em vários países assume ser um potentado ou uma verdadeira máquina de guerra preparada para parar e destruir, entre outros serviços e empresas de qualquer país, hospitais, produção de energia, abastecimento de água, transportes terrestres e aéreos.
8- Este cenário foi mostrado há dias num programa onde era discutida a fragilidade da cibersegurança face à capacidade existente em grandes centros informáticos em inúmeros países, entre eles a Rússia, China, Índia e EUA, em que os hackers são donos e senhores dos destinos dos vários sistemas informáticos espalhados pelo mundo, sob as ordens de quem manda.
9- Tudo isto para além de ferramentas que todos sabem existir para, no dia a dia, serem usadas como vírus de computador, worms, phishing e outros métodos maliciosos de software, hardware e scripts de programação.  
10- Esta reflexão é consequência da ânsia que se sente nos responsáveis políticos da União Europeia, tão empenhados e deslumbrados com os chorudos investimentos a fazer na transição digital, mas sem se conhecer que riscos daí advêm e saber se as pessoas e as empresas estão preparadas para o excesso de digitalização, sem esquecer que sendo “selvagem,” provoca a devassa da vida privada, e que a sôfrega digitalização tem sido uma fábrica de burocracia e de desumanização de inúmeros serviços. É preciso parar para pensar e evitar o precipício para onde se caminha.
11- Realçamos os benefícios que a Inteligência Artificial tem em várias aplicações, sobretudo na saúde, mas consideramos absurdo que a Associação Sindical dos Juízes tenha a grande tentação de propor no Plano para a Reforma da Justiça “substituir o Juiz humano pelo juiz robô.”
12- A irmos nessa linha, qualquer dia aparecerá quem reclame que nas ausências do país do Presidente da República ou do 1ºMinistro, e na Região do Presidente do Governo, eles sejam substituídos por “robôs”.  
13- Ainda relacionado com o excesso do uso digital, que tem consequências no comportamento das futuras gerações, foi oficialmente apresentado pela Secretária Regional da Educação os resultados do programa “A a Z – Ler Melhor, Saber Mais”, aplicado às crianças com maiores dificuldades na aprendizagem da leitura e da escrita.  Segundo foi divulgado, “os resultados obtidos na aferição da leitura dos alunos com mais dificuldades dos dois primeiros anos de escolaridade são muito satisfatórios”.
14- Esse resultado é curto porque o problema da leitura e da escrita estende-se até ao ensino universitário, influído pelo uso excessivo do digital, renegando-se a leitura que deve ser obrigatória em livros para que não se perca, a prazo, a nossa língua, em favor de outras aprendidas nos telemóveis, nos tabletes e na internet.
15- Precisamos de tempo para pensar!   
                                  

Américo Natalino Viveiros

 

 

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Autor: CA

Categorias: Editorial

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