Correio dos Açores – Que relevância atribui ao Dia Mundial da Meteorologia?
Carlos Ramalho (Director do IPMA nos Açores) – Esta é uma data em que se celebra a entrada em vigor da convenção constitutiva da Organização Meteorológica Mundial que ocorreu em 1950. Recorda-nos da importância dos serviços meteorológicos nacionais para a salvaguarda de pessoas e bens, assim como a importância destes serviços nas actividades do dia-a-dia de cada cidadão, quer nas actividades económicas ou nos transportes, por exemplo.
Hoje é o Dia da Meteorologia. Como vai estar o dia?
Será um dia marcado por muita nebulosidade, alguma chuva durante o início da manhã e novamente à noite. O vento será fraco e a temperatura deverá variar entre os 13ºC de mínima e os 17º de máxima.
Tem uma explicação para o facto de, por vezes, fazer as quatro estações (Primavera, Verão, Outono e Inverno) no mesmo dia, no arquipélago?
Isto deve-se ao facto de serem ilhas. O ar húmido, proveniente do oceano, em contacto com as ilhas faz com que se formem nuvens e, por vezes, precipitação sobre a forma de aguaceiros localizados. Ora, a ocorrência destes aguaceiros depende da direcção do vento, por isso podemos ter, no mesmo dia, sol na costa norte e alguma chuva na costa sul, e vice-versa.
Qual a relevância da meteorologia para uma região insular como os Açores?
É muito importante para a protecção de pessoas e bens, assim como nas actividades do dia-a-dia, em particular na segurança da navegação aérea e marítima.
E se não houvessem meteorologistas na Região?
Na Região, existem seis meteorologistas que fazem a previsão do estado do tempo para fins gerais, designadamente avisos meteorológicos, previsão do estado do mar para uma vasta região do Atlântico e vigilância meteorológica. Para além disso, existem ainda mais 34 observadores meteorológicos para a aeronáutica, que trabalham nos aeroportos dos Açores, contribuindo, desta forma, para a segurança aérea na Região. Ora, sem estes funcionários todo o serviço anteriormente referido seria colocado em causa.
Ser meteorologista é…
Temos meteorologistas que trabalham em diferentes áreas, mas sempre interligados entre si. Por exemplo, para fazerem a previsão do tempo, os meteorologistas apoiam-se nos resultados (cartas meteorológicas) que os outros meteorologistas da previsão numérica, que trabalham os dados meteorológicos em modelos físico-matemáticos, obtém. Para fazer vigilância meteorológica são necessários meteorologistas que trabalham só nos radares meteorológicos, outros nas imagens de satélite e outros ainda na rede de observação automática, a qual é constituída por estações meteorológicas automáticas que estão espalhadas por todo o país. Ou seja, normalmente, o que o público em geral vê nos boletins meteorológicos é apenas o resultado final de todo um processo bastante complexo, de tal forma que os centros meteorológicos de cada país trabalham entre si. Temos até o Centro Europeu de Previsão do Tempo (ECMWF) formado por, praticamente, todos os países europeus, inclusive Portugal, e que em muito contribuiu para a melhoria da previsão meteorológica a nível mundial.
O que vai mudar com a instalação de um radar meteorológico em São Miguel?
Com o radar de São Miguel e o das Flores, juntamente com o existente na Terceira, fica todo o arquipélago coberto pela rede de radares. Os radares permitem-nos fazer uma vigilância meteorológica muito mais eficiente, especialmente para fenómenos severos de rápido desenvolvimento, em particular chuva e vento forte, além de que é muito útil no acompanhamento de situações meteorológicas num curto espaço de tempo (a rondar as 2/3 horas). Permite-nos, igualmente, conhecer alguns fenómenos em que existe interacção entre a orografia das ilhas e a atmosfera, na formação de precipitação, o que de outra forma não seria possível.
Estão a aumentar os fenómenos extremos nos Açores, com os furacões cada vez mais próximos e com períodos do ano muito quentes a sucederem-se. Como vai ser esta evolução?
O que se prevê é que os fenómenos extremos se tornem mais frequentes. Por fenómenos extremos, entenda-se, chuva e vento forte, secas meteorológicas, entre outros. Relativamente aos furacões, o que os estudos sugerem, neste momento, para a bacia do Atlântico, é que não se tornem mais frequentes, mas sim mais intensos.
Já é tempo de os Açores começarem a perceber que, de um momento para outro, poderemos ter, mais ano menos ano, o olho de um furação a passar sobre Ponta Delgada, por exemplo?
Isto é algo que pode acontecer. Como o arquipélago é composto por ilhas pequenas, temos tido a sorte de a maioria do centro dos furacões terem passado ao largo das ilhas. Importa referir que, apesar de um furacão ser um fenómeno de tempo muito severo, é nas primeiras dezenas de quilómetros junto ao centro que o vento é mais forte. Ora, o centro do Lorenzo não passou em cima de nenhuma ilha, mas veja-se o prejuízo que causou nos grupos Ocidental e Central. Se o centro de um furacão como o Lorenzo passar em cima de alguma ilha será muito pior. É apenas uma questão de tempo até isso acontecer.
Os Açores estão preparados para enfrentarem fenómenos extremos de maior intensidade? O que falta?
Eu diria que os Açores, comparativamente com outras regiões, estão relativamente preparados para fenómenos meteorológicos extremos, até pelo nosso passado. Agora, dentro dos fenómenos extremos, temos um leque grande de variação. Ou seja, podemos ter um fenómeno extremo ou muito extremo, e aí o cenário é outro, tal como em qualquer parte do mundo.
Que mensagem quer deixar neste dia?
Protejam o planeta. Andem mais a pé e menos de carro, consumam produtos locais e não desperdicem.
Carlota Pimentel