Correio dos Açores - Esta é a primeira reunião do Conselho Consultivo como Presidente da Comissão Executiva…
Marta Guerreiro (Presidente da Comissão Executiva do novobanco dos Açores) - Em bom rigor, a primeira foi a do ano passado, poucos dias depois de ter entrado formalmente em funções, mas eu estava com Covid, pelo que participei apenas remotamente. Portanto, esta acaba por ser, sim, a primeira em que posso ter uma participação mais activa.
Como tem corrido o desafio?
Tem sido bastante desafiante, mas também muito interessante. Gerir uma instituição financeira, ainda que de pequena dimensão, implica geri-la nos seus vários domínios e isso é especialmente desafiador, quando se faz uma gestão a partir de um território como o nosso, mas também acaba por ser muito grato, quando se conseguem obter bons resultados. Não obstante a sua história e implantação na Região, o novobanco dos Açores, estando inserido no Grupo novobanco, consegue beneficiar de um conjunto significativo de apoios para esta gestão, que se espelham também na sua oferta comercial. Mas claro, nesta gestão temos, naturalmente, também a influência de um contexto económico actual relativamente incerto. Presentemente, com alguns aspectos mais positivos, como sectores que continuam com bom crescimento, como é o caso do turismo e da agro-indústria, e que nos permitem antever algum optimismo, mas que também não deixam de necessitar que sejam concretizados alguns instrumentos de apoio, que se relacionam com a componente do financiamento, nomeadamente a entrada em pleno funcionamento do PO Açores 2030 e também uma utilização mais intensa das verbas do PRR Açores, que se espera virem trazer maior dinâmica para estes e outros sectores.
Temos, também, o desafio, neste contexto de elevada inflação e de subida de taxas de juro, de acompanhar as famílias e as empresas, nossas clientes, no que diz respeito ao Crédito Habitação, para as primeiras, e no Crédito em geral, para as segundas. Temo-lo feito, com respostas concretas e criando condições para se encontrarem as melhores soluções, quer para o banco, quer para os clientes.
Por fim, mas não menos importante, importa referir que na gestão de uma instituição financeira, para além das responsabilidades de criação de valor, há também uma outra enorme responsabilidade com o nosso capital humano, com as nossas pessoas, que nos desafia diariamente a fazermos melhor, e que corresponde a um dos pilares mais relevantes no nosso desafio de sustentabilidade.
Sendo o único banco com sede nos Açores, qual a situação do novobanco dos Açores face à crise económica?
O actual contexto económico traz consigo, efectivamente, alguns constrangimentos. Desde logo por as expectativas arrefecerem as tomadas de decisões e os investimentos. Uma outra grande preocupação é a dificuldade das famílias e das empresas poderem responder às exigências crescentes que resultam do aumento dos custos e de maiores prestações, com as taxas a subir. No que diz respeito às empresas, felizmente, para já, não temos notado, até à data, dificuldades acrescidas no cumprimento dos planos financeiros com o banco. Acreditamos que isto tem a ver com a solidez dos nossos clientes, mas também com projectos de investimento bem estruturados e adequadamente financiados. Na componente das famílias, a pressão que se faz sentir no Crédito Habitação tem levado a algumas necessidades de ajustamento. Ainda há pouco, neste Concelho Consultivo, dávamos nota de que ao longo do ano de 2022 tivemos cerca de 400 alterações em Créditos Habitação, mas apenas metade a dizer respeito a questões como alteração de taxa, ou alteração de prazo, que podem ser associadas a alguma dificuldade de cumprimento. Estamos a falar de uma percentagem na ordem dos 6% do total do universo da nossa carteira. Enquanto único banco na Região, temos um claro sentido de responsabilidade do apoio que temos de dar às famílias, às empresas e de mostrar também a relevância de estarmos aqui, de conhecermos os nossos clientes, de termos relações próximas e de com eles conseguirmos encontrar as melhores soluções.
Como analisa a evolução da situação económica regional? Qual é a tendência?
A situação económica da Região apresenta várias oportunidades, mas tem também alguns constrangimentos. Em termos de oportunidades, a agro-indústria, desde os lacticínios ao vinho, tem-se mostrado muito relevante na economia açoriana, bem como o sector do turismo, que tem sido um motor que acaba por arrastar positivamente outras áreas de negócio. Na área turística, 2022 bateu recordes, face até a 2019, que tinha sido o melhor ano de todos. Vemos isso no número de dormidas, mas vemos mais ainda nas despesas feitas pelos turistas, o que significa que estamos a conseguir encontrar, de facto, um segmento que deixa mais valor à Região. Por outro lado, temos igualmente como positivo uma baixa taxa de desemprego, o que é importante, porque significa que quem quer e pode trabalhar, tem oportunidades disponíveis à sua espera. Como aspectos mais negativos temos, efectivamente, a questão da inflação que diminui o rendimento disponível das famílias e a questão das taxas de juro. Por outro lado, continuamos a enfrentar, do lado das empresas, desafios de produtividade, associados à nossa escala. Mas também temos, e a contrariar, ou a mostrar que também é possível, excelentes exemplos de diferenciação e de criação de valor, com capacidade de exportação e até de promover o nome Açores no mundo. E, felizmente, os exemplos são já bastante variados. Do nosso lado, enquanto banco dos Açores, estamos empenhados em ser parceiros e tentar sempre encontrar as melhores soluções para os nossos clientes, apoiando o seu potencial.
Carlota Pimentel