A Federação Agrícola dos Açores distribuiu ontem um comunicado onde demonstra “a sua grande preocupação face aos recentes anúncios no continente, de descida de preço de leite ao produtor”.
Segundo apurou o Correio dos Açores, A Bel Formagerie, produtora dos queijos Limiano e Terra Nostra, anunciou ontem uma descida de 7,8 cêntimos no preço do leite pago à produção. Por sua vez, a empresa Penlac vai baixar cinco cênticos.
No continente, os produtores estão a acusar a indústria de estar a “aproveitar-se” das ajudas anunciadas pelo Governo para “esmagar a produção.” Garantem que vai voltar a haver fecho de vacarias e falta de leite nos supermercados. “Exigem”, por isso, a intervenção do Governo da República.
Por sua vez, a Federação Agrícola dos Açores, presidida por Jorge Rita, considera “prepotente” e “inqualificável” a atitude das empresas nacionais, uma das quais, a Bel, com uma unidade industrial em São Miguel.
A Federação Agrícola salienta, que este anúncio de baixa de preço do leite à produção “vem, contribuir, duma forma acentuada, para a desmotivação de uma fileira que tem perdido muitas explorações ao longo das últimas décadas, decorrente principalmente, do baixo preço de leite praticado aos produtores, em comparação com os seus congéneres europeus (esta situação deveria ser bem conhecida de quem ocupa cargos de elevada responsabilidade política) ”, realça.
A Federação Agrícola insiste no princípio de que os custos dos factores de produção, como as rações ou os fertilizantes, tiveram subidas brutais”. Acrescenta que “começaram com esta tendência, antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, e nunca foram devidamente compensados pelo adequado preço de leite”.
Refere que, “somente nos últimos meses, o preço de leite pago ao produtor foi minimamente justo, mas bastou uma medida do Governo, como a baixa do IVA dos produtos alimentares, para a indústria voltar à mesma estratégia, na qual, o produtor é sempre o parente mais pobre da fileira”.
“Não nos podemos esquecer”, afirma Jorge Rita, que a subida do preço de leite ao produtor “não teve a mesma dimensão que no consumidor, significando assim, que a indústria ou a distribuição, foram os grandes beneficiados com a subida dos preços dos produtos lácteos, no fim da cadeia alimentar”.
“Aguardamos que na Região, a indústria seja capaz de ter uma actuação diferente e com isso, defenda os rendimentos dos seus produtores, embora, as subidas em Novembro do preço de leite no continente praticadas pelo Pingo Doce e Lactogal, não se tenham repercutido nos produtores de leite açorianos”.
Os produtores de leite dos Açores que produzem matéria-prima de elevada qualidade, segundo a Federação Agrícola, “não podem continuar a ser esmagados pela indústria duma forma arbitrária e sem qualquer tipo de contemplação”.
Neste contexto, Jorge Rita afirma que a indústria de leite dos Açores “se pretender diminuir o preço de leite, terá uma redução drástica da produção de leite, o que pode pôr em causa a sua própria viabilidade económica e, com isso, o futuro da fileira na Região”.
A Federação Agrícola dos Açores “não pode deixar de lamentar a postura que as indústrias de transformação têm perante o mercado, em que são sempre muito proactivas nas descidas do leite e reactivas quando existem condições, para a subida do preço do leite”.