Quem eram os Escribas e Fariseus

 Então, falou Jesus à multidão e aos seus discípulos, dizendo: Na cadeira de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus. Observai, pois, e praticai tudo o que vos disserem; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque o dizem e não praticam (Mt.23.1-3).
As palavras de Jesus no capítulo 23 são palavras severas, são denúncias e juízo contra os escribas e fariseus. Os escribas e fariseus eram líderes religiosos, considerados os intérpretes da Lei, os quais o povo tinha em grande estima e admiração. Jesus censura os escribas e fariseus pelas suas hipocrisias, as suas tradições e rejeição da genuína Palavra de Deus. Jesus pronuncia palavras de juízo contra os escribas e fariseus utilizando a expressão “Ai” por oito vezes. 
O zelo de Jesus pela Palavra de Deus levou-o a denunciar os líderes religiosos com duras palavras, tais como: Hipócritas! Condutores de cegos! Filhos do inferno! Insensatos e cegos! Sepulcros caiados! Serpentes! Raça de víboras! Assassinos! 
Jesus descreve o carácter dos líderes religiosos de sua época como pregadores que procuram popularidade e atenção do povo, que amam honrarias e títulos, gostam de destaques e se assentassem nos primeiros lugares. Isto não é mera coincidência com os pregadores e líderes dos dias actuais que pregam e ensinam um evangelho distorcido para atender as suas próprias conveniências. A Palavra de Deus adverte-nos para estarmos atentos a esses falsos pregadores e líderes religiosos que mercadeiam a fé em nome de Deus.

A origem dos escribas e seu ofício 

O escriba ou escrivão era aquele que, na antiguidade e também durante a Idade Média, dominava a escrita e usava-a para redigir as leis de sua região, a mando do governante, ou as normas de uma determinada religião, antes da invenção da prensa móvel. Também podia exercer as funções de contador, secretário, copista e arquivista. Na antiguidade, os escribas eram os profissionais que tinham a função de escrever textos, registar dados numéricos, redigir leis, copiar e arquivar informações. Como poucas pessoas dominavam a arte da escrita, possuíam grande destaque social.

O escriba no Egipto antigo 

O escriba do Antigo Egipto, ou sesh, era uma pessoa educada nas artes da escrita, usando tanto escritas hieróglifas e hieráticas, e da segunda metade do primeiro milénio a.C. a escrita demótica também foi usada tal como a aritmética. Filhos de escribas eram educados na mesma tradição escriba, enviados à escola e ao entrarem ao serviço civil, herdavam o mesmo cargo dos pais.
Muito do que é sabido do Antigo Egipto provem das actividades dos escribas. Edifícios monumentais foram erigidos sob as suas supervisões. actividades administrativas e económicas eram documentadas por eles, e os contos das bocas das baixas classes egípcias ou de terras estrangeiras sobreviveram graças aos escribas.
Escribas também eram considerados parte da corte real e não eram obrigados a pagar tributos ou se juntar às forças armadas. A profissão do escriba possuía similares, como os pintores e artesãos que faziam decorações e outras relíquias com pinturas e textos hieróglifos. Um escriba era dispensado do trabalho manual pesado exigido às classes baixas. Era uma profissão privilegiada.  

O escriba na Bíblia  

Nos livros sagrados para os cristãos e judeus, o termo escriba refere-se aos chamados doutores e mestres, ou seja, homens especializados no estudo e na explicação da lei ou Torá. O termo aparece pela primeira vez no livro veterotestamentário de I Crônicas 2.55, onde se lê: E os clãs de escribas que viviam em Jabez... 
Os dois primeiros homens a serem chamados de escribas na Bíblia foram: Baruque e Esdras. Então, Jeremias pegou noutro rolo e deu-o ao escriba Baruque, filho de Nerias, para que escrevesse nele... (Jr.36.32). O escriba Esdras estava numa plataforma elevada, de madeira, construída para a ocasião... (Ne.8.4). 
Os escribas eram bem sucedidos no que faziam e sabe-se que tinham grande influência e eram muito estimados pelo povo, tendo existido escribas partidários de diferentes correntes do judaísmo, tais como os fariseus, que eram a maioria.   
Iniciaram sua actuação ainda no final do período do Antigo Testamento, durante e após o exílio babilónico, enquanto a figura do profeta desvanecia. Já no Novo Testamento, é possível verificar que a maioria dos escribas da época se opôs aos ensinamentos de Jesus, que os criticava duramente por causa do seu proceder legalista e hipócrita, no mesmo contexto das críticas aos fariseus, a corrente maioritária dos escribas. Após a destruição do templo de Jerusalém no ano 70 d.C., seguido do desaparecimento da figura do sacerdócio judaico, a sua influência passaria a ser ainda maior no âmbito do judaísmo.
Alguns escribas ficariam famosos, tais como Hilel e Shamai (pouco antes de Cristo), tendo sido ambos líderes de tendências opostas na interpretação da lei, sendo menos rigoroso o primeiro e mais rigoroso o segundo. 
Gamaliel, discípulo de Hilel, foi mestre de Paulo, tendo existido também outros escribas simpatizantes com os cristãos.

Notas históricas  

Os escribas constituíam uma importante classe profissional na sociedade do mundo antigo. A arte dos escribas na leitura, escrita e interpretação de documentos escritos, proporcionava-lhes um papel fundamental em questões pessoais, estatais e religiosas. Geralmente o texto era redigido a partir de um ditado (Jr.36.32), utilizando uma ponteira de junco afiada com uma “faca de escrivão” (Jr.36.23). A formação de um escriba era adquirida na escola, e a profissão, às vezes, era vista como um negócio familiar (I Cr.2.55). 
Algumas personagens importantes da Bíblia foram escribas: Safã, que leu o Livro da Lei ao rei Josias (II Rs.22.10); Baruque, que documentou as palavras do profeta Jeremias (Jr.36.4); Esdras, que copiou e leu os decretos do rei da Pérsia e a Lei de Moisés (Ed.7.6-11); o evangelista Mateus, que usou suas habilidades de escrita para compor o primeiro evangelho canónico (Mt.8.19; 13.52).
A Bíblia apresenta, correctamente, a função dos escribas como sendo: documentar e preservar a vontade dos reis (I Cr.24.6; Et.3.12). Eles desempenhavam importantes funções dentro da hierarquia militar (II Rs.25.19; Jr.52.25) e, geralmente, são apresentados como conselheiros dos reis ao lado do sumo-sacerdote (II Rs.1210; 18.18,37; Mt.2.4). 
Muitos escribas também eram sacerdotes e estavam incumbidos de preservar, interpretar e explicar as Escrituras (Ne.8.9; Mt.17.10; 23.2). Por causa da sua importância e responsabilidade como guardiões da tradição, os escribas também estavam sujeitos ao escrutínio da crítica profética. Jeremias denunciou “a pena mentirosa dos escribas” que haviam abandonado a Lei do SENHOR (Jr.8.8). O próprio Jesus pronunciou uma extensa lista de acusações contra os escribas e fariseus (Mt.23).

A origem dos fariseus e seu ofício   

Fariseus são um grupo de judeus devotos ao Torá (5 primeiros livros da bíblia), surgidos no século II a.C.. Opositores dos saduceus, criam numa Lei Oral, em conjunto com a Lei escrita, e foram os criadores da instituição da sinagoga. Com a destruição de Jerusalém em 70 d.C. e a queda do poder dos saduceus, a sua influência cresceu dentro da comunidade judaica e se tornaram os precursores do judaísmo rabínico. A palavra Fariseu tem o significado de “separados”, “ a verdadeira comunidade de Israel”, “santos”.
A origem mais próxima do nome fariseu está no latim pharisaeus que, por sua vez, deriva do grego antigo ϕαρισαῖος, assentado no hebraico פרושים prushim. Esta palavra vem da raiz parash que basicamente quer dizer “separar”, “afastar”. Assim, o nome prushim ou perushim é normalmente interpretado como “aqueles que se separaram” do resto da população comum para se consagrar ao estudo da Torá e das suas tradições. Todavia, sua separação não envolvia um ascetismo, já que julgavam ser importante o ensino à população das escrituras e das tradições dos pais.
A origem mais provável dos perushim é que tenham surgido do grupo religioso judaico chamado hassidim (os piedosos), que apoiaram a revolta dos macabeus (168-142 a.C.) contra Antíoco IV Epifânio, rei do Império Selêucida, que incentivou a eliminação de toda cultura não-grega através da assimilação forçada e da proibição de qualquer fé particular. Uma parte da aristocracia da época e dos círculos dos sacerdotes apoiaram as intenções de Antíoco, mas o povo em geral, sob a liderança de Yehudah Makkabi (Judas Macabeu) e sua família, revoltou-se.
Os judeus conseguiram vencer os exércitos helênicos e estabelecer um reino judaico independente na região entre 142-63 a.C., quando então foram dominados pelos romanos. Durante este período de 142-63 a.C., a família dos macabeus estabeleceu-se no poder e inaugurou o período independente do Reino da Judeia, que durou de 110a.C até 37a.C. 
Os Macabeus eram de ascendência levítica e restauraram a adoração e os sacrifícios no Templo de Jerusalém. Este acontecimento é comemorado até hoje pelas comunidades judaicas, chamado de Festa da Dedicação do Templo ou Hanuká
E foi, provavelmente, nesta época que alguns grupos apareceram dentro da sociedade judaica, começando a estabelecer um certo tipo de divisão de posturas, normalmente com relação a política e/ou religião e com a vida em geral, e com isso se relacionando com a maneira de pensar e de se encaixar na sociedade da época. 
Dois dos grupos são: Os tzadokim (saduceus), clamando ser os legítimos descendentes de Tzadoque e, portanto, os legítimos detentores do sumo-sacerdócio e da liderança religiosa em Israel; e os perushim (fariseus), oriundos dos hassidim que, geralmente, desiludidos com a política, voltaram-se para a vida religiosa e estudo da Torá, esperando pela vinda do Messias e do reino de Deus. Outras linhas já existiam há algum tempo e tiveram também o seu papel neste cenário, mesmo que de maneira indirecta ou subjectiva. Um exemplo são os Essênios, que viviam mais em uma vida de consagração ao Criador. Estabeleciam-se na região do deserto, nos montes, como o carmelo, e em algumas outras regiões a fim de preparar o caminho para a vinda do Rei Messias.
Os perushim agrupavam-se em “havurot”, associações religiosas que tinham os seus líderes e suas assembleias, e que tomavam juntos as suas refeições. Segundo Flávio Josefo, historiador judeu do século I d.C., o número de perushim na época era de pouco mais de seis mil pessoas (Antigüidades Judaicas 17, 2, 4; § 42). Eles estavam intimamente ligados à liderança das sinagogas, ao seu culto e escolas. Eles também participavam como um grupo importante, ainda que minoritário, do Sinédrio, a suprema corte religiosa e política do Judaísmo da época. 
Muitos dentre os “perushim” tinham a profissão de sofer (escriba), ou seja, a pessoa responsável pela transmissão escrita dos manuscritos e da interpretação dos mesmos. Duas escolas de interpretação religiosa se desenvolveram no seio dos perushim e se tornaram famosas: a escola de Hillel e a escola de Shammai. A escola de Hillel era considerada mais “liberal” na sua interpretação da Lei, enquanto a de Shamai era mais “estrita”.
No entanto, os “perushim” eram uma seita de grande influência em Israel devido ao ensino religioso e político. Aceitavam a Torá escrita e as tradições da Torá oral; criam na unicidade do Criador, na ressurreição dos mortos, em anjos e demônios, no julgamento futuro e na vinda do Rei Messias. Eram os principais mestres nas sinagogas, o que os favoreceu como elemento de influência dentro do judaísmo após a destruição do Templo. São precursores pelas suas filosofias e ideias do judaísmo rabínico.


Fonte 1: wikipedia.org
Fonte 2: Bíblia de Estudo Arqueológica
 NVI - pg.683.

Print
Autor: CA

Categorias: Regional

Tags:

Theme picker