O Correio dos Açores ‘viajou’ até à ilha do Corvo para conhecer a única Banda Filarmónica da mais pequena ilha da região. Depois de um período em que esteve encerrada, a Filarmónica Lira Corvense, fundada em Novembro de 1938, voltou a ser reactivada nos finais dos anos 80 por “alguns emigrantes que regressaram dos Estados Unidos da América e que se juntaram com esse objectivo”, explica Paula Dias, actual Presidente desta colectividade.
“Com malta nova, começamos a ter ensaios e a Câmara Municipal também apoiou muito nessa época. Foi assim que voltamos e temos continuado abertos até hoje”, destaca.
Paula Dias confessa ter assistido “a esse renascimento” da Lira Corvense ‘por dentro’.
“Comecei a tocar nessa época e estou ligada à Filarmónica desde então, primeiro como executante e agora como Presidente”, revela com orgulho.
À frente de uma direcção, “já em funções há 7 anos”, a sua Presidente considera que a ligação à Banda e à música dá-se por “amor à camisola”.
“Houve muito pessoal que foi desistindo e, desde a reabertura da Filarmónica, restam apenas eu e um outro elemento. Não podemos obrigar ninguém a continuar”, refere.
A Lira Corvense, para além dos naturais serviços prestados nas festividades da ilha, “já teve várias saídas às Flores e, em 1997, a Filarmónica foi aos Estados Unidos da América actuar nas Festas do Espírito Santo em Fall River”.
Deixando para trás o passado e a história desta colectivdade, presentemente a Filarmónica Lira Corvense vê com agrado a entrada de novos elementos.
“São jovens de 20 e tal anos e temos uma escola de música com 20 miúdos entre os 6 e os 11 anos de idade. Ainda é um número considerável”, salienta.
Paula Dias conta ainda que as “aulas são dadas pelo Vice-Presidente da Filarmónica, o Rui Pimentel, que é o nosso Regente. Ele recebeu formação com vários professores do Conservatório que estiveram cá através da Direcção Regional da Cultura”.
Sobre esta juventude, a Presidente da Lira Corvense afirma sem hesitação que estes “são a alma da nossa Filarmónica”.
“Temos miúdos entusiasmados e que gostam de aprender. Mesmo os próprios pais acham importante incentivar os miúdos. Hoje em dia o interesse é só com os telemóveis, computadores ou jogos e os pais gostam que eles participem nestas actividades para não estarem sempre agarrados a isso e fechados em casa”, reforça.
A única Banda Filarmónica da ilha do Corvo conta actualmente “com 25 elementos”, apesar de, como revela a sua Presidente, “alguns deles serem jovens que estudam fora da ilha”.
“Quando regressam vêm tocar connosco e temos igualmente casos de pessoas que vêm trabalhar para cá e integram a Filarmónica. Tentamos sempre puxar alguém para nos vir ajudar e isso, felizmente, tem acontecido”, diz.
O facto de muitos jovens abandonarem a ilha para prosseguirem os seus estudos é uma das maiores dificuldades sentidas por esta colectividade, confessa a sua Presidente.
“Gostávamos de ter mais pessoas na Filarmónica, mas isso não é fácil. É verdade que já temos muitos, mas podíamos ter sempre mais”, confessa.
Apesar disso, Paula Dias considera que “o futuro da Filarmónica está assegurado e estamos confiantes de que não irá fechar nos tempos mais próximos”.
A Lira Corvense, apoiada financeiramente pela Câmara Municipal de Vila do Corvo e pelo Governo Regional, tem agora o objectivo de avançar com obras de reabilitação na sua sede.
“Estamos a preparar uma candidatura para que possamos reabilitar a Sede”, avança a sua Presidente antes de explicar que, a nível financeiro, a Filarmónica “não está muito mal”.
“Não podemos estar sempre à espera de apoios e de vez em quando fazemos umas barraquinhas para angariar algum dinheiro. As pessoas vão ajudando e há outras Filarmónicas em pior situação do que nós. A gente vai-se amanhando por aqui”, afirma com convicção.
Com os olhos postos no futuro, Paula Dias confessa alguns dos seus principais desejos para os próximos anos.
“Que a Filarmónica tivesse uma sede boa, já arranjada e com muita gente a tocar”, frisa.
Sem qualquer saída programada para este ano, a Presidente da Lira Corvense destaca o facto de a comunidade, “principalmente os pais”, valorizarem a Filarmónica.
“Ficam emocionados e adoram ver os miúdos a tocar”, refere orgulhosa e confiante no futuro da única Filarmónica da ilha do Corvo.
Luís Lobão