Fátima Cruz, proprietária da Ninha Lavores e Artes

Quando a arte é verdadeira “as coisas perduram no tempo porque existe seriedade e qualidade”

Fátima Cruz nasceu em Ponta Delgada e à nossa reportagem reportou que “foi criada com pessoas que estiveram sempre ligadas às artes e aos bordados”. Inclusivamente, os seus pais eram os proprietários do Solar da Graça e incutiram-lhe os valores da açorianidade, portanto, “o gosto por aquilo que é nosso, nomeadamente a nossa cultura, costumes e tradições”. Além disso, as suas tias, irmãs do seu pai, Vítor Cruz, “bordavam maravilhosamente bem, e desde de pequena que andei no meio de bordadeiras e de trabalhos manuais, mas a minha mãe também fazia muitas coisas”, reforçou.
O gosto pelo artesanato ficou, mas não invalidou que tivesse abraçado a profissão de bancária, onde esteve no Banco Comercial dos Açores e, depois, no Banif durante 18 anos. Posteriormente, decide iniciar um novo projecto ligado às artes e entretenimento, surgindo assim a Ninha Lavores e Artes, que no nosso mercado está já há 24 anos.

“Verdadeira arte dos Açores
e bem executada”

Desde então, “o negócio tem decorrido normalmente, com altos e baixos, mas isto é para todos. O comércio de rua pós-pandemia teve uma queda abrupta. Aqueles dois anos de início da pandemia da Covid-19 assustou, as pessoas meteram-se em casa com medo daquilo que desconheciam e começaram a comprar pela Internet, porque os jovens têm outros hábitos de compra, mas a loja mantém-se praticamente com as pessoas do meu escalão etário, muitas delas, que são clientes de há muitos anos continuam fiéis, porque sabem que aqui encontram o que é, verdadeiramente arte dos Açores e bem executada. É este o nosso grande segredo, ou seja, manter a qualidade, que foi uma coisa que os meus pais também nos ensinaram, ou seja, as coisas perduram no tempo quando existe seriedade e qualidade”.
Mas, quem é que está por detrás da verdadeira arte? “Não posso descurar os artesões que me ajudam neste processo, mas aqui só entra o verdadeiro artesanato. Só entram aqui os artigos que quero e tenho aqui imensos trabalhos de grandes pessoas, que trabalham nos bastidores, mas que têm valor extraordinário, entre elas, as bordadeiras, que não dão a cara, mas que são fantásticas”.

Mercearia da Ninha

Entretanto, em Novembro foi aberto um espaço novo da loja, na data de mais um aniversário, surgindo assim a Mercearia da Ninha, que começou a existir antes da quadra natalícia com queijos de figos ou tâmaras, nozes, avelãs, bolachas e bolos de Natal, entre outra imperdíveis iguarias.
Já este ano, na Páscoa, “uma colecção de amêndoas artesanais foi um sucesso”, mas a nossa entrevistada revela ainda que “sazonalmente” está “a preparar outras surpresas”, estando já a “projectar o que será o Natal deste ano”, sem querer revelar muito.
Para além daquilo que é nosso, Fátima Cruz procura, do mesmo modo, inovar, apresentando “coisas que os açorianos nunca experimentaram, do nosso território nacional, da diáspora portuguesa”.
“Quem vem aqui é quem gosta do artesanato genuíno, que representa as nossas tradições. Nunca é tudo muito, é tudo à medida dos Açores, porque não se consegue ficar rico com uma loja de artesanato. Depois, só uma franja de turistas é que aprecia o nosso artesanato e ainda não chegou cá aquele turismo que precisávamos, como acontece, por exemplo, nas lojas de bordados da Madeira, que espero que um dia isso possa vir a acontecer nos Açores”.
Com a maior colecção de presépios de Natal, Ninha Lavores e Artes tem ainda uma secção de arte sacra, muito apreciada por coleccionadores, que reconhecem que “a qualidade supera a quantidade”.
Se o futuro a Deus pertence, Fátima Cruz gosta de dizer, que sempre foi “uma pessoa cheia de esperança”. Aliás, acredita que “o mundo está numa grande mudança, com o propósito da humanidade ficar melhor, tal como nas artes, ou seja, se alguém apresentar um produto que é bom, certamente alguém perceberá isso. Aqui recebo todos por igual, trato as pessoas da mesma maneira e o meu lema é ser verdadeira com aquilo que é nosso”.

Muito por onde escolher

Com tanto para oferecer, a loja tem ainda a secção de Lavores, ou seja, tem a matéria-prima para tapetes de arraiolos, para os registos do Senhor Santo Cristo, rendas, bordado inglês, linho, fazendas de algodão para tecidos patchwork, linhas de croché, linhas de bordar, mas também as lãs para os bebés, para recém-nascidos, anti-alérgicos e sem pelo, ou seja, um manancial poder de escolha.
Curiosamente, o pai da nossa entrevistada, Vítor Cruz, alugou aquele espaço, onde hoje em dia está a Ninha Lavores e Artes, ao antigo proprietário da taberna do Carrelas, que fazia as melhores favas da cidade. Uma curiosidade, contada a Fátima Cruz, por um emigrante que sublinhou, do mesmo modo: “como está bonito agora este espaço”.

Marco Sousa

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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