Correio dos Açores: É mãe de quatro filhos, considerada hoje uma família numerosa. O que mudou desde que foi mãe?
Maria João Fontes: Ter quatro filhos nunca esteve nos meus planos. Ser mãe, sim. Ter uma família, sempre foi o meu maior desejo. Simples e delicioso, não é? Comecei com um filho, o Lourenço, que foi único durante 10 anos e, de repente, tive três bebés num intervalo de 12 meses – o Santiago e as gémeas Violeta e Camila. Costumo brincar dizendo que nunca tive três filhos; tive dois e depois passei a ter quatro.
Costumo dizer, também, que sei o que é ser mãe de filho único, mãe de muitos filhos e mãe de gémeas idênticas que é, por sinal, uma experiência única e incrível. Sou, portanto, uma mãe multidisciplinar (risos)! Respondendo à pergunta... mudou tudo em 2001 e voltou a mudar mais ainda em 2011, quando tinha um bebé de 4 meses e soube que a caminho estavam mais dois bebés! Adaptação era palavra de ordem. Não havia outra hipótese. E assim ficou a minha vida que, tal como o mar faz com as ilhas, os filhos rodeiam-me de amor por todos os lados.
Como é que gere o dia-a-dia atendendo às necessidades de cada um? É fácil conciliar?
Se eu descrevesse com rigor como são os meus dias, deixaria os leitores desta entrevista exaustos! Mas para vos dar uma ideia, recorro à personificação dizendo que são quase todos esquizofrénicos (risos)! Tenho de ter tudo planeado ao minuto e como não gosto que eles cheguem atrasados às actividades, a maior parte dos finais de tarde ando em taquicardia a olhar para o relógio do carro que, por sinal, anda sempre adiantado 2 minutos. É uma estratégia básica, mas funciona. Se é fácil conciliar? Não, nada fácil, mas se eu me organizar mentalmente sobre todos os passos necessários para aquele dia, consigo fazer tudo. Há dias em que faço o jantar por etapas (que não fazem parte da receita) e entre “piscinas”: interrompo para ir levá-los e regresso para terminar, voltando a sair para os ir buscar. Agora digam-me lá se isto não é um dia dinâmico?
Como mãe, acha importante impor regras para uma boa harmonia familiar, em particular quando há filhos de diversas idades?
Sem dúvida. Uma família cheia de gente e sem regras seria o caos. Contudo, confesso que levada pelo cansaço, muitas vezes não consigo que as cumpram com todo o rigor. Por isso, uma ou outra vez, deixo passar. Coisas de somenos importância, claro. Mas o essencial está já incutido neles e foi-o pela repetição. Há valores que não permitimos, de todo, serem atropelados.
Qual é a melhor e a pior parte de ser mãe?
A melhor parte é o amor sem fim que sinto por cada um dos meus filhos... que não consigo medir, pesar ou sequer explicar. Está aqui dentro de mim. Não sai, não questiona, não duvida, não impõe condições. É o maior amor que existe. Que me faria correr, mesmo que sem pernas, que me faria ver, mesmo que sem olhos, que me faria sorrir, mesmo que sem lábios.
A parte pior é saber que um deles me pode deixar. A minha vida acabaria ali, naquele inultrapassável milésimo de segundo.
O que costuma fazer, frequentemente, com os seus filhos nos momentos de lazer?
Vemos muitos jogos de futebol do Santiago e seguimos religiosamente os projectos do Lourenço. No Inverno, mergulhámos no streaming e assistimos a filmes ou séries acompanhadas de pipocas doces e salgadas. Se for no Verão, vamos invariavelmente para o mar. Adoramos...
Consegue ter tempo para si e para fazer o que gosta?
Tenho muito pouco tempo para mim. Quando todos já dormem, é que chega a minha hora. Gosto muito de ver séries na Netflix, na Amazon Prime ou na Disney Plus. Vejo à noite e é super relaxante. Sabe-me tão bem. Gosto muito de assistir a debates sobre política e faço-o sempre que posso. Ando com o livro “Os Bastidores do Poder” há meses na mala e não consigo terminá-lo. Mas a falta de tempo é uma questão transversal a toda a sociedade, por isso não me sinto uma injustiçada (risos)! Ainda assim procuro encontrar em coisas improváveis tempo para mim. Cozinhar é um exemplo! E quando cozinho é como se viajasse pelo mundo dos sabores e dos cheiros, sem data para regressar. Adoro sentir a colher de pau desafiar a geografia de cada pedaço de comida. Mas não gosto que desafiem a minha geografia, porque gosto de viver ancorada. Ancorada à minha família.
Consegue-se definir-se enquanto mãe?
Gostaria de saber definir-me como mãe, mas não creio possível fazê-lo com correcção. Sei, porém, que estou sempre a tentar melhorar. Que não sou a mesma mãe que fui quando o Lourenço nasceu. Que no mesmo instante sou uma mãe para o Santiago e que no segundo seguinte serei outra completamente diferente para a Violeta ou para a Camila. Porque embora eu seja só uma, eles têm a sua própria identidade e a sua própria personalidade. Os seus receios, medos, inseguranças. O mesmo assunto tem de ser trabalhado de formas completamente distintas conforme o filho que tenho à minha frente. Esse é o grande desafio que me é colocado a cada momento.
Para além de ter quatro filhos, três deles são uma espécie de trigémeos e a tendência para competirem entre si e se compararem é enorme. E eu estou aqui para mediar, para negociar. Uma espécie de António Guterres à escala familiar.
Como costuma celebrar o Dia da Mãe?
É um dia delicioso. Sou mimada o dia inteiro com beijos, poemas, dedicatórias e uma prenda especial que o meu marido, o amor da minha vida e que me ajuda a ser a mãe que sou, faz questão de me comprar.
N.C.